Processo
nº 0504466-15.2017.4.02.5101
O ex-governador Sérgio Cabral (MDB) foi condenado, nesta segunda-feira (3), a mais 14 anos e cinco meses pelo crime de lavagem de dinheiro.
Cabral e os outros réus foram condenados com base em denúncia apresentada no início de junho pelo Ministério Público Federal (MPF). O texto citava pagamento de R$ 1,7 milhão em propina, que teria sido lavado por meio de empresas de fachada.
Na sentença, Bretas anotou que "o condenado idealizou e determinou a prática dos esquemas ilícitos perscrutados nestes autos por meio de seu operador financeiro Carlos Miranda, do empresário Flávio Matos de Werneck e de pessoa por ele aliciada, Alberto Silveira Conde".
Com a decisão, Susana Neves Cabral terá de cumprir oito anos e quatro meses em regime fechado; Maurício Cabral cumprirá quatro anos e seis meses em regime semiaberto. Outro réu, Alberto Silveira Conde, contador da FW Engenharia, vai cumprir seis anos em regime semiaberto. Já Flávio Werneck, dono da FW Engenharia, foi condenado a oito anos e quatro meses de reclusão.
“... O Flávio
Werneck é filho da Sônia e do Fausto Werneck, casal que frequentou
a minha casa desde que eu me entendo por gente, desde menino... O
Flávio é um primo afetivo, eu acompanhei de certa forma a empresa
dele nascer, crescer etc. Bem antes de eu ser governador e ele já
prestava serviços públicos antes de eu ser governador. Como várias
empresas, não só a dele, aproveitaram o bom crescimento do estado
no meu período... Não é fato que eu tenha designado qualquer
pessoa, seja Wilson ou Carlos Miranda, para tratar de qualquer
percentual de obras com o Flávio, primeiro porque eu nunca tratei
percentual de obras com ninguém, muito menos trataria com o Flávio
e muito menos designaria alguém para tratar com o Flávio, sendo ele
uma pessoa desse nível de intimidade que eu estou narrando para o
senhor, total e absoluta. Tal é esse nível de intimidade, que eu pedi ao Flávio, ai
eu confirmo para o senhor, que ‘Flávio oh campanha’... Se ele
deu alguma coisa para campanha oficialmente, deve estar registrado em
alguma de minhas campanhas, ou campanha minha ou campanha de aliados
meus, é, é, mas muito pouca. Porque eu pedi exatamente que ele
fizesse isso: que ele repassasse recursos para a Susana e que
repassasse recursos para o Maurício e que fizesse obras nessas
casas... Da mesma maneira que a Adriana, que eu reiterei muito com o
senhor, a Susana também nunca participou de nada, nunca teve nenhum
tipo de convivência com empresários, então não tinha menos noção
de nada e ela ficou muito a vontade porque era o Flávio Werneck...
Ela ficou muito a vontade para esse tipo de ajuda, por se tratar de
uma pessoa com quem nós realmente tínhamos intimidade, que era o
Flávio Werneck. Eu realmente repudio essa hipótese de eu solicitar
propina para o Flávio e sobretudo designando terceiros para tratar
isso... O Flávio, como eu tinha intimidade com ele, quer dizer, eu
não pedia a ele recursos de campanha no mesmo nível que eu pedia a
outras empresas. Então se ele deu alguma ajuda de campanha não deve
ter sido tão expressivo perto de que ele poderia ajudar em função
desse crescimento do Estado, das perspectivas do Estado, como os
outros empresários ajudaram. Como eu disse ao senhor ajuda oficial e
sobretudo ‘caixa 2’ e sobretudo ‘caixa 2’. Então o ‘caixa
2’ do Flávio foi muito mais essa ajuda do que propriamente ajuda
de campanha. Juiz: Então o senhor estar me dizendo que ‘caixa 2’
para campanha, no seu dicionário, ‘caixa 2’ para campanha é
igual a reforma da sua casa, reforma de apartamento e a pagamento de
pensão de ex-mulher? Acusado: Não, não, não Dr. Marcelo. Eu
coloquei isso como uma forma, que ele iria me ajudar em campanhas
eleitorais e eu abri mão de campanhas eleitorais para dar esse tipo
de ajuda, que eu reconheço que pedi para fazer... Porque nesse caso
trata-se de pessoa da minha relação pessoal... Eu não pedi a ele
nenhum tipo de propina e pedi a ele para fazer esse tipo de ajuda a
mim. Não há nenhuma verdade no que ele está dizendo em relação
ao 5%, aí ele tenta se adaptar ao discurso da acusação... Eu não
olhei no olho dele para falar de propina, mas olhei no olho dele para
falar da ajuda que eu pedi a ele, porque eu pedi, eu não
terceirizei. Juiz: Em torno de 5 milhões de reais? Isso abatia na
contabilidade que ele deveria dar? Acusado: Isso, isso... Não é
verdade, não é verdade, não é verdade. Não é que eu concorde,
Dr Marcelo acredite em mim, eu estou lhe contando a verdade... Eu
estou dizendo que eu pedi a ele... Porque era uma pessoa da nossa
relação pessoal, que fizesse esse tipo de obra... Eu estou
afirmando que a responsabilidade é minha. Aí o senhor me pergunta
com muita pertinência: O que isso tem a ver com caixa 2? Se isso não
é propina, não é caixa 2. Na nossa lógica, minha e dele, eu
poderia solicitar a ele uma ajuda de campanha mais expressiva, não
solicitei. Ele deve ter feito um aporte de campanha para uma das
minhas campanhas ou duas campanhas muito pouco expressivo, porque eu
pedi isso para ele. É verdade, eu confundi nesse aspecto sim, um
apoio que eventualmente poderia ser dado no caixa 2 a esse tipo de
ajuda, mas jamais propina. Nunca sentei com ele, muito menos designei
o Wilson Carlos ou o Carlos Miranda para fazer isso...” (interrogatório de Sérgio Cabral 0:00 - 19:00)
Observação: os grifos são meus.
Observação: os grifos são meus.
Nenhum comentário:
Postar um comentário