Entidades ambientais querem discussão mais ampla e resistem à ideia
"O
interesse de investidores espanhóis e brasileiros em instalar uma
fazenda marinha de 200 hectares em Cabo Frio está mais vivo do que
nunca. Só que após a resistência de pescadores e do ICMBio para
conseguir concretizar o investimento na Praia do Foguete, já nas
proximidades de Arraial do Cabo, os empresários agora voltam as
atenções para uma área que fica a 3 Km da costa, na região
limítrofe entre as praias do Peró, Conchas e Caravelas, esta já em
Búzios. Segundo a reportagem apurou, o novo local foi sugerido pela
Colônia de Pescadores de Cabo Frio, uma vez que o Foguete é um
local de migração de pescado, o que traria impactos negativos para
a atividade pesqueira. O licenciamento do megaempreendimento está
nas mãos do Instituto Estadual do Ambiente (Inea).
Contudo,
apesar da mudança de local, a polêmica persiste. Ambientalistas
querem ampliar o debate sobre o assunto, com basicamente a mesma
alegação que resultou no veto do ICMBio: a incerteza quanto ao
descarte dos resíduos do processo industrial da fazenda. Segundo a
ambientalista Ana Roberta Mehdi, do grupo SOS Dunas do Peró, o
empreendimento ocuparia a área marinha da Área de Proteção
Ambiental (APA) do Pau Brasil, que está perto de ter o seu Conselho
reativado, após encerrar as atividades no fim de 2012. Ela afirma
que o grupo está se articulando com outras entidades civis e com o
Ministério Público para, pelo menos, exigir que o projeto seja
exaustivamente discutido.
– A
gente ficou muito assustado porque a região tem os mares com águas
mais limpas do Brasil. Escrevemos uma carta para o MP e o MPF sobre
essa questão porque é uma produção industrial e é importante
saber onde vai ser o descarte das conchas. Escolheram um lugar em que
o mar é muito agitado para ajudar na dispersão de biomassa (as
fezes dos mexilhões), mas isso obviamente ainda vai impactar a
qualidade desses mares. Fora isso, pode afetar a geologia costeira.
Estamos entrando em contato com pesquisadores para darem seus
pareceres e vamos provocar uma audiência publica. Isso pega duas
áreas ambientais – argumenta Ana Roberta, destacando que a APA não
tem um Plano de Manejo.
Para
o presidente da Colônia de Pescadores Z-23 (Búzios), Amarildo de Sá
Silva, o Chita, a fazenda marinha pode trazer benefícios para os
trabalhadores em poucos meses por causa da atração que os mariscos
e microorganismos podem exercer no pescado. Entretanto, Chita admite
que o assunto carece de mais discussão e de garantias que os
pescadores e maricultores locais serão inseridos na cadeia econômica
gerada com a instalação da fazenda.
– Para
a gente não impacta em nada, pelo contrário, vai ser um atrativo
pesqueiro. O que falta é resolver alguns detalhes. Tem o pessoal da
maricultura de José Gonçalves. Tem que haver alguns acordos para
beneficiar os pescadores de Tucuns, José Gonçalves e Baía Formosa.
Tem os quilombolas da Rasa. O que a gente quer é participar. É um
grupo da Espanha e a gente vai ficar olhando? A gente quer inserir os
pescadores mais pobres. Tem que gerar emprego e renda – avisa.
O
coordenador municipal de Meio Ambiente de Cabo Frio, Mário Flávio
Moreira, tem uma postura cautelosa sobre o assunto. Como biólogo,
Mário Flávio já escreveu artigo sobre os benefícios da
maricultura, mas ele diz que os impactos ambientais da atividade tem
que ser bem avaliados.
– O
licenciamento é do Inea. Estamos aguardando para poder oficialmente
falar, mas a proposta é excelente. No local anterior (Foguete), era
complicado por se tratar de zona de exclusão dos pescadores, ao lado
da reserva extrativista de Arraial. Na região do Peró,
ambientalmente não tem esse problema (migração de pescado). Mas os
impactos ambientais têm que ser bem avaliados – pondera.
A
reportagem entrou em contato com o Instituto Estadual do Ambiente
(Inea) e a Marinha do Brasil para se manifestarem sobre os prazos do
licenciamento, mas não teve resposta até o fechamento desta edição.
O presidente da Colônia Z4 (Cabo Frio), Alexandre Marques, não foi
localizado para falar oficialmente pela entidade.
A
empresa interessada em se instalar na cidade é a Mexilhões Sudeste
Brasil (MSB), conforme a Folha noticiou em primeira mão, em abril
deste ano. No seu site, o grupo apresenta-se como detentora de
experiência em aquicultura 360º e diz que pretende gerar cerca de 2
mil empregos (500 diretos e 1.500 indiretos) com o empreendimento de
Cabo Frio".
Rodrigo Branco
Fonte: "folhadoslagos"
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