O sargento Bruno, lotado na Alerj, e seu pai, deputado subtenente Bernardo Foto: Reprodução |
Dois
PMs acusados de sequestrar
e extorquir
dinheiro de um traficante
em Araruama,
na Região dos Lagos, batem ponto na Assembleia Legislativa do Rio
(Alerj). Um deles, o sargento Bruno Demke Bernardo, é filho
de um deputado, o PM aposentando Mauro Bernardo (PROS).
Duas semanas depois da posse do pai, Bruno foi
cedido pela PM à Coordenadoria de Segurança da Casa.
Já o cabo Cristiano Gonçalves Rosa ocupa, desde fevereiro, um cargo
comissionado no gabinete de outro parlamentar, Dr. Serginho (PSL),
e ganha R$ 4.847,26 líquidos da Alerj, além do seu salário na PM.
Na
noite de 15 abril de 2013, os dois PMs foram flagrados por agentes do
25º BPM (Cabo Frio) com um carro clonado num local “escuro e ermo”
conhecido como Ponta da Alcaieira, em Araruama. Antes, uma mulher
havia abordado os agentes do batalhão local dizendo que seu cunhado
havia sido forçado por homens encapuzados a entrar num carro preto.
Quando chegaram no local apontado pela mulher, os PMs encontraram
Bruno e Cristiano, à época lotados no Bope. A vítima do sequestro
foi identificada como Hemerson
Silveira de Souza,
apontado como chefe
do tráfico de Arraial do Cabo.
No
mesmo dia, os dois PMs foram presos
administrativamente.
Segundo os relatos dos agentes que fizeram a abordagem, Bruno e
Cristiano disseram que liberaram Hemerson e que queriam “apenas dar
um susto nele”. Já o traficante, em depoimento, afirmou que, após
ter sido forçado a entrar no carro, “foi desacordado, tendo
voltado a si numa praia”. Hemerson também alega que, quando
acordou, um dos homens se identificou como PM do Bope e exigiu
dinheiro para não matá-lo. Com base nos relatos, o Ministério
Público denunciou os PMs por extorsão mediante sequestro e
receptação. O
processo corre na Vara de Arraial do Cabo.
Hemerson, traficante vítima de sequestro |
Expulsos
e reintegrados
Um
ano depois do crime, Bruno Bernardo e Cristiano Rosa foram
expulsos da PM,
por decisão do então comandante-geral, coronel José Luís Castro
Menezes. Segundo o parecer que determinou a exclusão, publicado no
boletim reservado da PM do dia 1º de agosto de 2014, “a conduta
praticada configura transgressão
disciplinar grave”.
Os
PMs, entretanto, entraram na Justiça para voltar à corporação, e
conseguiram ser reintegrados
seis meses depois.
Em 15 de janeiro de 2015, o juiz Cláudio Gonçalves Alves, da 6ª
Vara Cível de Volta Redonda, aceitou um pedido feito pela defesa dos
policiais e suspendeu as demissões. A decisão de reintegrar os dois
praças à PM foi posteriormente mantida pelos desembargadores
da 19ª Câmara Cível.
Em março de 2018, o processo que julga a manutenção dos PMs na
corporação foi suspenso
até que haja sentença
do processo criminal.
Os dois policiais negam ter cometido os crimes.
Tanto
Bruno quanto Cristiano já receberam homenagens de políticos. Um mês
após ser preso administrativamente, o
sargento Bruno Bernardo
recebeu uma moção de congratulações da Câmara dos Vereadores e
foi saudado como “um
exemplo a ser seguido por seus companheiros de corporação” pelo
então vereador Chiquinho Brazão.
Em fevereiro de 2011, foi a vez de Cristiano receber uma moção de
louvor da Câmara.
Cabo Cristiano foi lotado no Bope Foto: Reprodução |
‘Todos
têm direito à defesa’, diz deputado
Durante
a campanha para deputado estadual, subtenente Bernardo usava como
slogan a frase “Terror
da bandidagem agora vai ser o terror da corrupção”.
Morador de Cabo Frio há 33 anos, o praça passou a maior parte de
sua carreira no batalhão da cidade, e ficou famoso quando passou a
divulgar seus feitos pelas redes sociais. No ano passado, passou para
a reserva e decidiu se candidatar. Foi eleito com 16.855 votos.
Questionado
sobre a cessão
de seu filho para a Alerj
logo após sua posse, ele negou a prática de nepotismo. “O
sargento encontra-se cedido
à superintendência militar da Assembleia,
não ocupa cargo em comissão, é concursado da Polícia Militar e
não se encontra subordinado ao meu gabinete, o que afasta qualquer
indício de nepotismo, uma vez que não há qualquer subordinação
hierárquica”, alega, em nota enviada por sua assessoria. Já
quanto à acusação contra seu filho, Bernardo alegou que o processo
“se encontra em fase inicial de instrução
e não há sequer condenação em primeira instância, ressaltando
que no nosso ordenamento pátrio vigora o princípio da presunção
de inocência”.
Dr. Serginho tem PM réu lotado em seu gabinete Foto: Reprodução |
Já
Dr. Serginho é natural de Cabo Frio e construiu sua carreira de
advogado na Região dos Lagos. Serginho e Bernardo são amigos. No
dia do aniversário do subtenente, em março, o advogado parabenizou
nas redes sociais o “grande
colega, de elevado valor moral”.
Sobre o fato de ter em seu gabinete um PM acusado de crime, ele
afirma que “todos têm direito à defesa, dentro do princípio da
presunção de inocência”. Ainda segundo o parlamentar, “não
há nenhuma condenação no referido caso,
e o policial é respeitado na cidade”.
Hemerson
Silveira de Souza tem oito mandados de prisão em aberto e 19
anotações criminais, por crimes como roubo, homicídio e associação
para o tráfico. Ele é apontado como chefe
do tráfico das localidades de Figueira, Sabiá, Caiçara e Parque
das Garças, em Arraial do Cabo.
Uma investigação recente da Polícia Civil apontou a saída de
Hemerson de Arraial do Cabo. O traficante teria se mudado para Duque
de Caxias, na Baixada Fluminense, após passar a ser procurado por
dois homicídios relacionados a disputas do tráfico.
Rafael
Soares
Fonte: "Jornal Extra"
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