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sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Do que não sabem falam agora, do que sabem falam depois

Foto Revista Cidade Online


Mistério desvendado. Representantes do INEA, Prolagos, Marinha, CILSJ, Comitê dos Baldes, leia-se "das Bacias", Agrisa, e representantes de diversos setores da sociedade civil organizada estavam lá. Da desorganizada não estavam.

A sociedade civil desorganizada experimentou um extraordinário fenômeno nos dias 09 e 10/12/2013, mas apenas dois estudantes universitários assistiram a chegada de um OVNI carregando um trator e uma imensa máquina para fazer café capuccino. O rapaz comentou, "Está chegando", mas a moça continuou ocupada com seu celular. O OVNI pairou no ar e a máquina de café sugou água do rio Una. A seguir despejou café. Há notícia de que um intrépido voluntário fez um vídeo da foz do Una e o expôs na Internet. Ouve-se-o gritando "É esgoto da ETE no Jardim Esperança. O mau cheiro é terrível". Estava e está redondamente enganado. Fotos foram tiradas na praia da Rasa e no rio, constando-se que o rio ficou inundado de café capuccino e a espuma se acumulou na praia.

O OVNI permaneceu na área e em 30/12/2013, pousou o trator na foz do rio. Mais rápido do que uma andorinha retificou a foz do rio. Os jovens fotografaram o evento e a condição em que ficou a foz, que estava seca. As fotos foram enviadas para Edward Snowden, ex-agente da NSA, refugiado na Rússia.
Ao longo do corrente mês a sociedade civil desorganizada continuou confusa. O Una fedia muito.

 Finalmente, o grupo citado acima se reuniu, distribuindo um relatório que, em resumo, diz o seguinte: "A coloração escura apresentada deve-se, provavelmente, ao escoamento superficial das águas em solos com elevada concentração de ácidos húmicos que são compostos orgânicos naturalmente encontrados em solos". Bingo! Até prova em contrário o grão de café é colhido numa planta que germina no solo e o ácido é transferido para a planta, para o grão, para o pó usado para fazer o café.

Sobre a reunião, fonte segura informa que o grupo não sabia que a foz do rio estava seca e que foi retificada. Por outro lado, talvez o trator e a condição da foz do rio, que aparecem nas fotos enviadas para o Snowden sejam ilusões de ótica.

O OVNI, o trator e a máquina para fazer café sumiram.

Na ilustração, a foto do grupo. Seus rostos foram obliterados para que não passem a vergonha de serem reconhecidos na rua e correrem o riso de serem apedrejados.

Ernesto Lindgren

Fonte: revista Cidade
30/01/2014


domingo, 5 de janeiro de 2014

E agora Alair Corrêa, como é que fica?

Mudança no curso natural do Rio Una, foto Revista Cidade

Na foz do rio Una, Cabo Frio, em 30/12/2013, foi aberto um canal com 100 metros de comprimento e 7 metros de largura. A editora da Revista Cidade, Niete Martinez, qualificou o ato como um crime ecológico e o articulista Ernesto Lindgren, em sua coluna Ponto de Vista, de 3/1/2014, como vandalismo oficial.

Suspeita-se que o órgão, provavelmente responsável pelo feito, o Consórcio Intermunicipal Lagos São João, tenha agido de maneira arbitrária, mas contando com o nada a opor da Secretaria Estadual do Ambiente (SEA), do Instituto Estadual do Ambiente (INEA) e do Comitê da Bacia Hidrográfica Lagos São João (CBHLSJ).

Acontece que o local onde foi aberto o canal pertence a Cabo Frio. Como autoridade máxima do município, o Prefeito Alair Corrêa precisa sair de seu mutismo e vir a público prestar esclarecimento sobre as ações que serão tomadas pelo Poder Público Municipal para investigar e punir os responsáveis pelo crime ambiental. Não se pode desviar o curso natural de um rio impunemente. Se nada fizer, é porque também é co-responsável pelo vandalismo ofical, cujo objetivo maior é despejar grande quantidade de esgoto da ETE do bairro Jardim Esperança, Cabo Frio, no rio Una.   

O Ministério Público Estadual precisa fazer o mesmo. Como bem disse Ernesto Lindgren em seu artigo: "fosse o ato praticado por alguém do setor privado, já estaria na cadeia. Quem teve a ideia, quem executou e quem pagou, também devem ir. Por pelo menos 30 anos, como exemplo, para que nenhum órgão público no Brasil ouse pensar em repetir o vandalismo".

Veja na íntegra o artigo de Ernesto Lindgren em: "revistacidade"


quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Desentupiram o rio Una?

Foto de Ernesto Lindgren

É o que acha Ernesto Lindgren. Eu tendo a concordar com ele. Vejam o que ele escreveu recentemente e releiam o texto escrito em julho deste ano.

Texto de 9/12/2013 ("Vem mais bobagem ai")

"...Observando as fotos publicadas no jornal Folha de Búzios (http://www.jornalfolhadebuzios) confirma-se o que foi previsto no artigo "O Una está entupido". As ideias de Luiz Firmino Martins Pereira não são, definitivamente, exemplos para o Brasil".

Texto de julho, ("O Una está entupido")

O Una está entupido 

Entre abril de 2012 até abril deste ano a ETE no Jardim Esperança, operada pela Prolagos, despejou no rio Una a média de 7.500 coliformes fecais por 100 ml, por mês. O ponto onde ocorre o despejo fica a cerca de 1.500 metros da foz. Ali a largura do rio é de cinco metros e sua profundidade, um metro. A vazão do rio é de menos de dois litros por segundo. Isso significa que entre o ponto de despejo e a foz do rio há uma massa de 7.500 metros cúbicos de excrementos humanos esperando ser empurrada para o mar.

A vazão da ETE, de acordo com o relatório da Prolagos, é de 66 litros por segundo, o que dá 5,7 milhões de litros de esgoto por dia, correspondendo a 5.700 caminhões de dez mil litros cada.

O trecho final do rio Una é um intestino constipado com 1.500 metros de comprimento e seção de cinco metros quadrados.

O laxativo está para chegar. Virá na forma das transposições dos efluentes das ETEs em Iguaba Grande e São Pedro da Aldeia. Juntas, contribuem com 180 litros por segundo, ou 15 milhões de litros de esgoto por dia. Do ponto de despejo a primeira viajará três quilômetros numa velocidade de quatro litros por segundo, até encontrar a segunda e, juntas, pegando velocidade, empurrarão a massa de 7.500 metros cúbicos de excrementos humanos lançando-a no mar com uma velocidade de 15 quilômetros por hora. Esse movimento se repetirá, diariamente, como o êmbolo de uma seringa com nove quilômetros de comprimento.

"Sai da frente que eu sou maluco", gritava o garoto aprendendo a andar de bicicleta, andando naquela velocidade. E se espatifava numa árvore. Esse será o destino das árvores no Mangue de Pedra quando aquela porcaria nojenta o alcançar.

Foi para que isso acontecesse que Luiz Firmino Martins Pereira, subsecretário-executivo da Secretaria de Estado do Ambiente, e Mário Flávio Moreira, secretário-executivo do Consórcio Intermunicipal Lagos São João, conspiraram, com troca de e-mails, no dia 25/05/2013. Às 9:27 horas escreveu o primeiro: "Isso Mário. Importante frisar que o motivo para não ir para a lagoa é a água doce e não o fato de ser efluentes de ete".

As transposições não têm como objetivo levar "água doce" para o Una. O objetivo é desentupi-lo.

Ernesto Lindgren

CIDADE ONLINE

Observação:

Participe da Enquete da CPI dos Bos respondendo ao questionário do quadro situado no canto superior direito do blog.
Grato.


sábado, 27 de julho de 2013

Não podemos esperar dois anos

Revista Cidade


A decisão do STF de criar "entidades não-políticas", na Região Metropolitana e na Região dos Lagos, nos é favorável, mas a maioria dos ministros votou para que seus efeitos passem a valer 24 meses depois do julgamento, para que os municípios possam se adequar à solução.

O ministro Marco Aurélio votou contrariamente à modulação e o ministro Luiz Fux pediu visto quanto à isso.

Não podemos esperar dois anos. Se a Região Metropolitana quiser esperar, problema dela, mas a Região dos Lagos não. Não com esses porcalhões espalhando excrementos humanos pelas ruas, pelas praias, pelas lagoas, lagunas, canais.

A situação na praia do Siqueira é uma vergonha e é difícil imaginar que uma empresa como a Prolagos não se avexe de ser a responsável. É coisa de porcalhões.

Esse ex-CILSJ - e dá nojo só em digitar suas siglas – deveria se encarregar da limpeza da praia. Cambada de sanguessugas, irresponsáveis e incompetentes que nos conduziram a atual situação.

As Câmaras de Vereadores, agora, estão no mesmo nível do INEA, da SEA - e quem mais queira se apresentar como "interessado" com a questão do saneamento na Região dos Lagos -, e devem exigir que a Prolagos também lhes envie cópias dos relatórios mensais que, até agora, só são enviados ao INEA. Os relatórios revelam a verdade: a Prolagos está lançando no rio Una efluente com mais de 4.000 coliformes fecais por 100 ml. Isso é inaceitável. É uma vergonha. É um acinte. Não se pode ter respeito por instituições que mentem, que prevaricam e o MPRJ há de nos ajudar a afastar essa gente nefasta, incompetente e mentirosa.

Ernesto Lindgren

Fonte: http://www.revistacidade.com.br/colunas/ponto-de-vista/3577-nao-podemos-esperar-dois-anos

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Recuperando a identidade dos municípios na Região dos Lagos

Ernesto Lindgren
O consórcio (CILSJ) foi atropelado, está atrapalhando o tráfego e chegou o momento da população da Região dos Lagos decidir o que deve ser feito para recuperar o que foi destruído pelas ações desse consórcio.

            Com todo respeito à Associação de Arquitetos e Engenheiros da Região dos Lagos, antes de se falar em plano é fundamental para os municípios da Região quebrar as amarras que os tornam submissos ao consórcio. A proposta que a ASAERLA colocou à disposição da população de Cabo Frio para seu Plano de Saneamento Básico, a ser elaborado pela empresa SERENCO, cria um conflito e o que não se precisa no momento é atropelar as providências que já estão sendo tomadas pelas Câmaras de Vereadores de Cabo Frio, Iguaba Grande, São Pedro da Aldeia e Búzios. Além disso, está atuando em favor de todos os municípios a 2ª Promotoria de Justiça de Tutela Coletiva em Araruama, que está requerendo de órgãos estaduais informações sobre a situação do saneamento na Região dos Lagos. É preciso lembrar, também, que um plano deve ser aprovado pela Câmara de Vereadores de um município, uma prerrogativa que tem sido negada desde a criação do CILSJ. Audiências públicas não bastam.  

Algumas providências já foram tomadas e até que questões fundamentais sejam decididas estar-se-ia, aproveitando a imagem usada pelo promotor Daniel Lima Ribeiro na reunião com representantes e vereadores de Búzios, em 17/07/2013, colocando a carroça adiante dos bois.

1) A Câmara de Vereadores de Cabo Frio criou uma comissão especial para estudar a despoluição da lagoa de Araruama, a ela se juntando vereadores de Iguaba Grande e São Pedro da Aldeia. Está marcada para 14/08/2013 uma audiência pública, a ser realizada no Teatro Municipal de Cabo Frio, para debater a questão das propostas transposições dos efluentes das ETEs em Iguaba Grande e São Pedro da Aldeia, para afluentes do rio Una. Vereadores de Arraial do Cabo e Búzios receberam ofício convidando-os para participarem. As transposições foram determinadas pelo decreto estadual 6460 de 05/06/3023, mas estão sendo questionadas pelo município de Búzios que, formalmente, solicitou à 2ª Promotoria de Justiça de Tutela Coletiva, em Araruama, o exame da proposta. Esse fato também é de interesse de Cabo Frio e sua população deve ser consultada.

2) Em Búzios, durante a apresentação do Plano de Saneamento Básico pela empresa SERENCO, sugeriu ela a criação de um Consórcio Público com os municípios servidos pela concessionária Prolagos, uma Agência Reguladora Municipal ou Regional, e um Conselho Municipal de Saneamento. Acontece que essas três coisas só poderão se tornar exequíveis depois que cada município revogar a lei municipal que o tornou membro do CILSJ.

3) Liberados os municípios é fundamental definir o papel que o Consórcio Público desempenharia. É preciso lembrar que foi com uma posição “de quem não quer nada”, prometendo sempre consultar os municípios consorciados, que o CILSJ se tornou no monstrengo que hoje está ai, atropelado, e que deve ser jogado na sarjeta da História.

4) Na audiência no próximo dia 14/08/2013 será fundamental saber se os municípios querem ou não manter essa esquisitice que é o sistema de coleta de esgoto em tempo seco. Colocando a questão de outra maneira é preciso que cada município decida se irá ou não continuar a desrespeitar a Constituição Estadual que veda, no seu artigo 277, parágrafo primeiro, a implantação de sistemas de coleta conjunta de águas pluviais e esgotos domésticos ou industriais. Além disso, está muito claro que, nominalmente, as ETEs da Prolagos fazem tratamento terciário. Acontece que uma ETE com esse grau de sofisticação não lança num rio ou numa lagoa, efluente contendo uma média de mais de dez mil coliformes fecais por 100 ml, como aconteceu entre abril/2012 e abril/2013 na ETE no Jardim Esperança. Não basta alegar que uma ETE faz tratamento terciário se ela é uma ETE de terceira categoria.

5) Se o atual sistema de coleta de esgoto for rejeitado irá se tornar mandatório a instalação de uma rede para coleta de esgoto separada da de coleta de águas pluviais. A primeira é que é a tão falada “rede separativa” que, infelizmente, a ASAERLA, na sua proposta, propõe adiar. Segue-se disso a importância de, a) saber o que cada município deseja implantar: um sistema de coleta de esgoto convencional ou manter o atual, assumindo a responsabilidade pela afronta à Constituição Estadual; b) se o escolhido é o sistema convencional será prioritário instalar a tal rede separativa e adequar as atuais ETEs às condições exigidas num tratamento terciário onde o efluente tenha bem menos do que 1.000 coliformes fecais por 100 ml.

Esses, e muitos outros detalhes deverão ser examinados, exclusivamente, pelas Câmaras de Vereadores. Não mais se pode aceitar que o INEA, por exemplo, ou qualquer outro órgão estadual, contrate uma empresa - e que a SERENCO não se sinta melindrada pelo comentário - e comprometa a população de um município com um plano que não foi elaborado sob a responsabilidade, exclusiva, do Poder Legislativo. Está na hora dos municípios dizerem aos INEAs da vida, “Não nos dê conselhos; sabemos errar sozinhos”.

Ernesto Lindgren


Meu comentário:


Parabéns mestre. O caminho é esse mesmo, muito bem delineado pelo senhor. Romper com o CILSJ recuperando as prerrogativas da nossa Câmara de Vereadores e do nosso Executivo municipal. Parcerias entre Prefeituras apenas, sem consórcio privado e sem empresas. Tudo fiscalizado pelos respectivos legislativos e ambos (legislativo e executivo) ouvindo os conselhos municipais de saneamento. E, finalmente, uma agência reguladora regional  próxima dos problemas locais. 

Grande abraço, mestre. E muito obrigado pelas suas contribuições ao debate que travamos em Búzios. O povo de Búzios lhe é muito grato.

sexta-feira, 19 de julho de 2013

Reunião com MPE-RJ em Araruama 3


Uma outra visão da reunião com o MP:


Reunião com o MP de Araruama 17/07/2013
Presentes:
Promotor: Dr. Daniel Lima Ribeiro
Representantes da Câmara – Ver. Leandro Pereira (presidente da Câmara)
Dr. Leonardo (procurador)
Hamber Carvalho (consultor)
Representantes do FECAB – ATIVA BÚZIOS - Denise Morand Rocha
- Professor Luiz
AHB – Thomas Weber
Mauro Lima
Representante da Prefeitura – Paulo Abranches (engenheiro da secretaria de meio ambiente)
O representante do Consórcio Lagos São João não compareceu


Após as apresentações e breve relato sobre os motivos que nos levaram a solicitar a reunião sobre a transposição dos efluentes de esgoto da Lagoa de Araruama para o Rio Una, o Dr. Daniel explicou que a obra deverá demorar a começar porque será necessário obter as licenças ambientais junto ao INEA: Licença Prévia (LP), Licença de Instalação (Li) e Licença de Operação (LP) e só então será possível realizá-la.

Ele explicou que até que seja solicitada a primeira licença (LP), ele não irá se manifestar, mas que assim que o pedido de licença ocorra, poderá pedir esclarecimentos, por exemplo, sobre os motivos da dispensa do EIA-RIMA.

Informou que o que orienta todos os projetos e programas relativos aos recursos hídricos é o Plano de Bacias e que este deve propor as ações de acordo com as metas a serem alcançadas e analisar todas as alternativas possíveis para resolver os problemas que se apresentarem, comparando os prós e contras de cada solução e justificando a escolha do projeto a ser realizado.

Ele disse que a sociedade não precisa saber qual é a solução técnica para os problemas, porque conta com a equipe técnica dos órgãos públicos e que esta não tem a liberdade de errar. 

Manifestou sua preocupação em relação à gestão ambiental na nossa região e disse que as decisões não são tomadas com bases técnicas.

Contou que hoje (quinta-feira, 18/07) terá uma reunião com o INEA quando deve conversar sobre as ETEs do Jardim Esperança e de São José e vai cobrar a transparência em relação aos dados coletados por aquele instituto.

Solicitou a nossa ajuda no sentido de informá-lo sobre quais os projetos descritos no Plano de Bacias já foram realizados até a semana que vem.

O promotor gravou toda a reunião e vai publicar no blog do MP de Araruama http://mp-araruama.tumblr.com/

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Reunião com MPE-RJ em Araruama 2

Da esquerda pra direita: Hamber, Leonardo, Leandro, Mauro, Thomas, Denise, Promotor Daniel e Paulo

O Promotor Daniel Lima Pereira abriu os trabalhos ouvindo nossos pleitos aprovados na última reunião do FECAB: 1) a sociedade civil organizada de Búzios não aceita a transposição dos efluentes do esgoto tratado despejados na Lagoa de Araruama para o Rio Una; 2) que todas as ETEs (Iguaba, São Pedro, Jardim Esperança e São José)  da Região dos Lagos tenham tratamento terciário e sejam submetidas a auditoria externa; 4) antecipação de metas da concessionária Prolagos.

Segundo o Promotor, a carroça foi colocada na frente dos bois quanto a transposição, pois se conseguiu a outorga dos recursos sem que a Prolagos tivesse licença ambiental para a realização das obras. Nem mesmo licença de instalação ela tem. Também não foi realizado nenhum  estudo de impacto ambiental (EIA) que mostrasse que a transposição era a melhor alternativa disponível para a destinação dos efluentes da Lagoa. E, para finalizar, a proposta de transposição só poderia ser aprovada após a realização de audiências públicas com a participação da sociedade civil dos municípios impactados por ela.

Os órgãos envolvidos- SEA, INEA, CILSJ, AGENERSA e PROLAGOS-  serão convocados para prestarem esclarecimentos a respeito do projeto. A princípio, o promotor nos informou que está estudando o Plano Estadual de Bacias para verificar se as ações (programas e projetos) do governo estadual estão em conformidade com o Plano. Pediu-nos que o auxiliasse com informações em relação ao que já foi realizado nas bacias hidrográficas da nossa Região. 

Apesar de estar residindo a pouco tempo na Região, ele avalia como muito ruim a gestão ambiental  das prefeituras dos municípios que a compõem. Categoricamente garantiu que nenhum gestor público tem liberdade para ser ineficiente. Afirmou  também que as coisas por aqui, na área ambiental, são feitas de improviso, sem nenhum planejamento. Citou como exemplo a coleta em tempo seco, para a qual não encontrou nenhum justificativa razoável para que ela fosse realizada por todos os municípios da Região.  A inexistência de rede separativa obrigou o MP a entrar com Ação Civil Pública para impedir que a Prolagos e a Águas de Juturnaíba cobrassem tarifas de esgoto para quem não estivesse ligado na rede exclusiva. Na ACP, o MP também pede a devolução do que foi cobrado ilegalmente.  

Ao final da reunião, o Promotor Daniel nos forneceu o endereço do blog do MP de Araruama  no qual será postado a ata da reunião que foi gravada e onde poderemos acompanhar o desenrolar de nossa representação.

sexta-feira, 5 de julho de 2013

Firmino, Mário Flávio, o INEA, a Prolagos e o Rio Una


Para justificar as transposições dos efluentes das ETEs em São Pedro da Aldeia e Iguaba Grande para o rio Una o secretário-executivo do Consórcio Intermunicipal Lagos São João (CILSJ), Mário Flávio Moreira, trocou mensagens com o subsecretário-executivo da SEA, Luiz Firmino Martins Pereira. Dias depois o Sr. Mário Flávio entregou a quem lhe solicitasse uma série de documentos relativos às transposições. No meio deles, inadvertidamente, uma cópia das mensagens e uma planilha com informações sobre o que está acontecendo na ETE no Jardim Esperança, operada pela concessionária Prolagos.

Eis os principais trechos das mensagens.

1) De Mário Flávio para Luiz Firmino, em 25/05/2013, às 08:03 horas: "Preparei uma apresentação mostrando principalmente que os pontos de lançamento de Iguaba Grande e São Pedro da Aldeia distam aproximadamente 40 e 30 km da foz. Mostro que ambos caem em afluentes do Una e serão utilizados nas áreas rurais ou absorvidos pelo solo. Mostro que saem de ETEs terciários dentro dos padrões CONAMA".
Comentário: o Sr. Mário Flávio admite que os rios para os quais as transposições seriam feitas são afluentes do Una. Mais tarde, na reunião com representantes do governo de Búzios, afirmou que os rios não mais estavam, fisicamente, ligados ao rio Una.

2) De Luiz Firmino para Mário Flávio, em 25/05/2013, às 09:27 horas: "Isso Mário. Importante frisar que o motivo para não ir para a lagoa é a água doce e não o fato de ser efluente de ETE".
Comentário: sem comentários.

3) De Luiz Firmino para Mário Flávio: "Na ETE de Jardim Esperança, entram cerca de 300.000 col/100 ml e sai com 4.000. Não é uma Mercedes, mas melhora muito a m.... que está dentro do Una".

Conclusão: em 25/05/2013 os Srs. Luiz Firmino Martins Pereira e Mário Flávio Moreira tinham conhecimento de que a ETE no Jardim Esperança lançava esgoto com altíssimos níveis de coliformes fecais no rio Una. Quer parecer que não cogitaram advertir a Prolagos para que corrigisse a situação. De fato, no 'Relatório Mensal de Operações - Sistema de Esgotamento Sanitário do Jardim Esperança - Cabo Frio", página 5 : "No mês de maio não tivemos nenhuma anormalidade na ETE que necessitasse de atuação da equipe de manutenção".

É válido inferir que o propósito das transposições é o de melhorar as condições no rio Una, sem exigir da Prolagos a melhoria do efluente da ETE no Jardim Esperança.

Ernesto Lindgren



sexta-feira, 28 de junho de 2013

Reunião do comitê de bacias – CILSJ - Pauta e comentários

1. Aprovação da Ata da Reunião Ordinária do Comitê de Bacias Lagos São João (CBHLSJ) do dia 06 de fevereiro de 2013. Não leram a ata. Perguntaram se os membros receberam por e-mail e se teriam emendas. Como só foi omitida a presença de duas entidades, com a correção, a ata foi aprovada.

2. Apreciação da minuta da resolução CBHLSJ que aprova Plano de Investimentos com base na arrecadação de 2012.

Plano de Investimentos do CBHLSJ – Ano base de arrecadação 2012.

Item 1. Ações em Saneamento                R$ 356.553,49.
Item 2. Programa de monitoramento da qualidade da água dos corpos hídricos da Região do CBHLSJ – Ano III                R$ 250.000,00.
Item 3. Custeio da Entidade Delegatária Lagos São João conforme anexo I do Contrato de Gestão N.°02/2010 - Ano III                R$ 232.000,00.
Item 4. Manutenção do banco de dados geográficos da bacia Lagos São João - SIG - Sistema de Informações Geográficas                R$ 55.000,00.
Item 5. Ajuda de Custo e Reembolso dos membros do CBHLSJ      R$ 50.000,00.
Item 6. Ações de Diretoria do CBHLSJ         R$ 50.000,00.
Item 7. Fundo de Boas Práticas Socioambientais em Microbacias Hidrográficas - FUNBOAS      R$ 44.215,17.
Item 8. Ações de Educação Ambiental  R$ 42.000,00.
Item. 9. Ações de Comunicação Social – Informativo do CBHLSJ    R$ 42.000,00.
Item 10. Ações emergenciais    R$ 40.000,00.
Item 11. Estudos de Hidrodinâmica do Rio São João, balanço hídrico, qualidade da água, assoreamento.          R$ 230.000,00.
TOTAL   R$ 1.141.768,66

Reclamaram que o Plano de Investimentos veio pronto e teriam outras propostas, por exemplo, o representante do CREA-CF sugeriu o reflorestamento das cabeceiras e das margens dos rios drenantes para a Lagoa de Juturnaíba. O representante da ASAERLA sugere mais investimentos na prevenção e menos no monitoramento, pois trata da consequência. Um membro da câmara técnica institucional e legal (CTIL), representante do DRM, disse que a planilha discutida naquela Câmara é diferente da apresentada na reunião. A representante de Saquarema questionou o valor reservado para o Informativo, já que elaborou um projeto com outro orçamento para ser discutido e sequer foi mobilizada a comissão de comunicação social. A representante da Entidade Delegatária Lagos São João alertou para o descumprimento da Resolução 112/12 que exige a clareza dos objetivos de cada projeto e valores segundo uma cotação no mercado. O vice-presidente do comitê e superintendente de Águas de Juturnaíba propôs aprovar o Plano de investimentos “assim mesmo” e depois adequar. Outra proposta foi elaborar o Plano conforme as exigências e só então votar. A proposta escolhida foi agrupar os investimentos em itens globais: “custeio”, “investimentos”, “monitoramento”, etc.

3. Apreciação da minuta da resolução CBHLSJ que aprova Projeto de Estudos de Hidrodinâmica do Rio São João. Retirado da Pauta por não ter passado pela Comissão Técnica.

4. Apreciação da minuta da resolução CBHLSJ que regulamenta a ajuda de custo e reembolso aos membros do CBHLSJ.  Apenas para ser homologado, pois é regulamentado pelo Estado.

5. Apreciação da minuta da resolução CBHLSJ que aprova a metodologia de avaliação do CILSJ pelos membros do CBHLSJ no âmbito do Contrato de Gestão N.º 02/2010 - Ano III. A data limite para entrega das fichas de avaliação é em setembro. Elas serão preenchidas pelas entidades, mesmo aquelas que frequentam o Comitê a pouco tempo, com essa ressalva.

6. Apresentação da Agenda 21 RJ: Perspectivas de Integração com os Comitês de Bacia do Estado do Rio de Janeiro. Na listagem dos municípios que tem Agenda 21, Búzios consta como “Sem iniciativa”. Informamos que existe na nossa cidade um grupo pró- Agenda 21 e anotamos
o contato com a Coordenação das Agendas 21 do INEA.


7. Assuntos gerais. Foi lido o acordo feito em São Pedro d’Aldeia. Búzios se manifestou relatando nossas preocupações em relação aos impactos causados pela transposição dos efluentes da Lagoa de Araruama para o Rio Una, conclamando os demais municípios a agirem como REGIÃO, informando a convocação do FECAB e a solicitação de apoio ao MP.

Denise Morand

Observação: continuar respondendo à enquete situada na coluna lateral direita

Comentários:


  • Denise Morand Rocha Faltou registrar a ótima participação da Secretária de Meio Ambiente de Cabo Frio que perguntou se o Comitê tinha feito o enquadramento dos rios. Perguntei em relação a que era feito esse enquadramento e ela explicou que era classificada a importância do rio para a bacia, qual sua vocação (p/ lazer, agricultura,etc) a classificação de suas águas etc, O enquadramento é essencial para nortear os trabalhos!

    Meu comentário:

    Valeu blogueira.

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Reunião Ordinária do Comitê de Bacia Hidrográfica Lagos São João – CBH-Lagos São João

Dia: 28 de Junho de 2013, Sexta
Horário: 10:00 Horas 
Local: Salão Paroquial da Igreja São Sebastião, sito a Praça São Sebastião, S/n.º, Centro, Araruama/RJ.

Pauta da Reunião Ordinária:

1. Aprovação da Ata da Reunião Ordinária do CBH-Lagos São João do dia 06 de fevereiro de 2013;

2. Apreciação da minuta da resolução CBH-Lagos São João que aprova Plano de Investimentos com base na arrecadação de 2012;

3. Apreciação da minuta da resolução CBH-Lagos São João que aprova Projeto de Estudos de Hidrodinâmica do Rio São João;

4. Apreciação da minuta da resolução CBH-Lagos São João que regulamenta a ajuda de custo e reembolso aos membros do CBH-Lagos São João;

5. Apreciação da minuta da resolução CBH-Lagos São João que aprova a metodologia de avaliação do CILSJ pelos membros do CBH-Lagos São João no âmbito do Contrato de Gestão N.° 02/2010 - Ano III;

6. Apresentação da Agenda 21 RJ: Perspectivas de Integração com os Comitês de Bacia do Estado do Rio de Janeiro;

7. Assuntos gerais.

Atenciosamente,

Wanderson Gimenes Alexandre
Presidente
CBH-Lagos São João

domingo, 23 de junho de 2013

Cadê os rios que estavam aqui?



Em todos os dicionários especializados que consultei, rio é um curso d'água natural, maior do que um riacho ou um córrego, que desemboca no oceano, num lago ou noutro rio. Rio que se preze começa na nascente e morre na foz.

Sobre os Rios Papicu e Frecheiras, o "Plano da Bacia Hidrográfica da Região dos Lagos e do Rio São João", de autoria de Luiz Firmino Martins Pereira e Paulo Bidegain da Silveira Primo (junho de 2005), informa que os dois rios acima citados são afluentes do Rio Una pela margem direita. Em Outubro de 2005, o "Projeto Estudo de Alternativas para o Lançamento dos Efluentes das Estações de Tratamento de Esgoto dos Municípios de Araruama, Armação dos Búzios, Cabo Frio, Iguaba Grande e São Pedro da Aldeia", formulado pela Geoprocessamento e Estudos Ambientais por encomenda do Consórcio Intermunicipal Lagos-São João, endossa que o Papicu e o Frecheiras são afluentes do Una pela margem direita. O estudo "Modelagem da Qualidade das Águas da Bacia do Rio Una após Reversão dos Efluentes Tratados de Iguaba Grande, São Pedro da Aldeia e Cabo Frio", redigido por Marcos von Sperling (fevereiro de 2008), confirma que o Rio Papicu, escolhido para receber o esgoto de Iguaba Grande, e o Rio Frecheiras, condenado a receber o esgoto de São Pedro da Aldeia, desembocam no Una.

Para afastar qualquer dúvida, examinei o mapa oficial da Bacia do Una, de autoria do Consórcio Intermuncipal Lagos-São João, e constatei o que os estudos mencionados sustentam: os Rios Papicu e Frecheiras são afluentes do Una pela margem direita. Sublinhei em vermelho os dois rios no mapa para que o leitor se certifique do que escrevo.

No alto, em sentido perpendicular à costa, corre o Rio Una. À esquerda, o curso do Rio Papicu e, à direita, o Rio Frecheiras.

No entanto, surpreso, leio em matéria com título de "Comissão de Búzios faz reunião com CILSJ para esclarecer transposição de efluentes para bacia do Rio Una", publicada na Revista Cidade, de Cabo Frio, em 20 de junho do fluente ano, que o "Consórcio (Intermunicipal Lagos-São João) insistiu que o deságue dos efluentes tratados será feito nos Rios Papicu e Flexeira, que não se ligam mais fisicamente com o Rio Una." Afinal, o que aconteceu com os dois afluentes do Rio Una? O Consórcio decretou que eles não integram mais a Bacia? Será que os dois rios se rebelaram contra o rio principal e resolveram formar nova(s) bacia(s)?

A nascente de ambos continua no mesmo lugar ou os cursos d'água insurgentes fincaram as respectivas nascentes em outros lugares? Terão elas sido realocadas em outros pontos por decisão do Consórcio? Onde estará a foz dos dois agora?

Recuperando-me do estupor causado pela informação sobre a mudança dos dois rios, começo a lembrar que, nos meus estudos de eco-história, encontrei situações análogas sobre rios. Eles podem perder a foz e se transformar em lagoas alongadas devido a transformações geológicas. Quem examina um mapa geológico da Região Norte Fluminense encontrará, na Formação Barreiras à margem esquerda do Rio Paraíba do Sul, uma sequência de lagoas que, antes de 5.000 anos antes do presente, eram rios com foz no mar. A formação de uma grande restinga tamponou suas desembocaduras e eles se transformaram em lagoas alongadas. Dentre elas, assinalamos as Lagoas de Dentro, da Roça, Salgada, de Macabu, de Sesmaria, de Imburi e da Saudade. 

Quando barradas naturalmente pela restinga, as águas desses antigos rios alastraram-se e aumentaram a espessura da lâmina líquida, o que possibilitou a ultrapassagem de divisores de água e a constituição de lagoas com forma de espinha de peixe ou dendrítica. Mesmo assim, entre o tabuleiro e a restinga, restou um dreno natural que escoava as águas dessas lagoas em tempos de cheia para o Rio Guaxindiba. O Departamento Nacional de Obras e Saneamento (DNOS) aproveitou essa linha natural de drenagem para abrir o Canal Engenheiro Antonio Resende, que liga a Lagoa do Campelo, na restinga, ao Rio Guaxindiba. Não é o que aconteceu com os Rios Papicu e Frecheiras, mas fica a lição deixada pelo poeta latino Horácio: pode-se afastar a natureza para longe, mas ela sempre tende a voltar.

Tal barragem pode também ser obra da mão humana, sequiosa de algum ganho econômico. Foi o que aconteceu com alguns rios, cuja foz localizava-se no mar, na costa que se estende do Rio Itapemirim (ES) ao Rio Guaxindiba (RJ). Na hoje Lagoa Funda, em Marataíses, o rio foi bloqueado para o fornecimento de água à população. O mesmo aconteceu com a Lagoa de Caculucaje, em cuja foz só a água doce chega ao mar. As marés, contudo, não entram mais no sistema. Nas Lagoas Salgada, Doce e de Tatagiba Açu, a atividade de lavra de terras raras empreendida pelas Indústrias Nucleares do Brasil (INB), atuando no município de São Francisco de Itabapoana, aterrou a foz dos rios e os transformou em lagoas. No caso do Tatagiba Açu, a população local se viu obrigada a rasgar uma vala para conter os transbordamentos. É de se ver a força das águas correndo por essa vala.

Por sua vez, o Tatagiba Mirim e um outro sistema foram de tal forma separados do mar que fica difícil compreender como eram antes das operações de lavra. Mas, curioso, e voltando a Horácio, os cursos d'água alagoados buscam seu curso original em tempos de cheia e conseguem, alguns deles, alcançar as desembocaduras ou construir outras. 

Por fim, a redução da vazão pode levar um rio a perder competência para manter sua foz aberta. Cerca de doze grandes rios em vários pontos do mundo sofrem com este processo, destacando-se o Rio Colorado, que escavou o Grande Canion. Se, de fato, como afirma o Consórcio Intermunicipal Lagos-Rio São João, os Rios Papicu e Frecheiras não integram mais a Bacia do Una, creio que ou a barragem de sua foz ou a perda de vazão dificultam sua ligação com o rio principal. E eis que encontro a resposta para o Rio Papicu, pelo menos, no estudo "A inserção do conhecimento local na análise de vulnerabilidade da bacias hidrográficas às mudanças do clima: Bacia Lagos São João - RJ", de Natalia Barbosa Ribeiro, Denise Spiller Pena, Rosa Maria Formiga Johnsson, Angelo José Rodrigues Lima e Glauco Kimura de Freitas: o Rio Papicu desviado por pequenos proprietários.

O Consórcio parece aceitar esta mudança com a maior naturalidade. O mesmo deve ter acontecido com o Rio Frecheiras. Pelo andar da carruagem, outros rios poderão passar pelo mesmo processo diante do olhar complacente das autoridades.

Mas é preciso lembrar que o Plano de Bacia da Região Hidrográfica VI preconiza a restauração e a revitalização dos sistemas hídricos existentes em seu âmbito. Não é isto que se pretende fazer com a Lagoa de Araruama ao não mais se lançar nela água de esgoto? A Bacia do Una banha os municípios de Iguaba Grande, São Pedro da Aldeia, Cabo Frio e Armação dos Búzios, sendo que este último é o que tem a maior parte do seu território dentro da bacia. O que o INEA e o Consórcio pretendem fazer? Acentuar e consolidar a separação do Papicu e do Frecheiras em relação ao Una? Querem municipalizar os rios para o uso de Iguaba Grande e São Pedro da Aldeia?

Se for, tal propósito não tem o menor cabimento. A população de Búzios tem todo o direito de lutar primeiro pelo não lançamento de esgoto nos dois rios; depois, pela revitalização de toda a Bacia do Una, que pode ser uma alternativa em termos de abastecimento público de água, já que a Lagoa de Juturnaíba parece mostrar fortes sinais de esgotamento.

Arthur Soffiati é historiador ambiental e pesquisador do Núcleo de Estudos Socioambientais da UFF/Campos

Fonte: http://www.revistacidade.com.br/noticias/meio-ambiente/3396-o-futuro-do-rio-una-vi

terça-feira, 18 de junho de 2013

AS GRANDES CAGADAS NO ESGOTAMENTO SANITÁRIO DE BÚZIOS

Foto extraída do site da Prolagos 

A cagada primordial foi dada pelo governador tucano Marcelo Alencar. Na onda da política neoliberal de diminuição do Estado de seu partido, resolveu terceirizar a CEDAE- empresa estadual incumbida de fornecer água potável e tratar o esgoto coletado nos municípios que compõem a Região dos Lagos. Está certo que a atuação da CEDAE na região até então era uma cagada estadual só: não coletava e muito menos  tratava um quilinho que fosse de cocô e abastecia com água apenas 30% das residências. Mas isso por si só não justifica a terceirização do ponto de vista municipal. Com a construção da Ponte Rio-Niterói e o consequente afluxo de novos moradores e turistas, aquilo que já era problemático em termos de água e esgoto, ficou caótico. Junte-se a isso, a política atrasada- patrimonialista e clientelista- dos prefeitos da região que os deixavam sem dotação orçamentária para fazer as obras necessárias de saneamento, mesmo com os recursos milionários dos royalties que passaram a receber a seguir. Para eles, a terceirização parecia caída do céu, eximindo-os de responsabilidades, por ter sido feita por um outro ente federativo- o Estado do Rio de Janeiro. Lavaram as mãos para continuarem usando seus orçamentos muncipais ao bel prazer, prioritariamente, beneficiando seus parentes, amigos, correligionários e financiadores de campanha. Era como açúcar no mel.

Em 25 de abril de 1998,  todos os prefeitos da Região foram chamados para participarem da cagada estadual assinando o contrato de concessão de serviços e obras de implantação, ampliação, manutenção e operação dos sistemas de abastecimento de água, de coleta e tratamento de esgotos sanitários, das áreas urbanas de Armação dos Búzios, Cabo Frio, Iguaba Grande  e São Pedro da Aldeia. Arraial do Cabo só assinou a parte referente ao fornecimento de água. Muitos dos prefeitos presentes nem leram o contrato. Pra quê, se era tudo o que queriam. Ainda mais porque o Estado sabedor de que água dá voto e esgotamento sanitário não, já estabelecera em contrato que a concessionária iniciaria seus trabalhos pelo fornecimento de água, deixando a questão do esgoto para bem mais tarde. Para se ter uma ideia, a previsão contratual para o tratamento de esgoto era coisa pra 14 anos depois, mais ou menos pra 2012, em Armação dos Búzios. Na pobre Iguaba Grande, a coisa ficava ainda mais longínqua.

Nosso prefeitinho de então, dizem as más línguas, assinou o contrato sem ler. Incompetente para administrar uma cidade internacional como Búzios, não se importou que a galinha dos ovos de ouro não poderia conviver nem mais um dia com valas negras em suas praias. Irresponsavelmente, deu carta branca para que a Prolagos fizesse o que quisesse em Búzios, como se o problema do esgoto não fosse problema do município:

"O problema de esgoto é da Prolagos e não nosso... Devemos ser parceiros da Prolagos”...  Não existe condição de mover ação nenhuma” (Mirinho Braga, Jornal Buziano, 8/2/2003).

O que deixou a  população de Búzios ao Deus dará. O verdadeiro Poder Concedente- o município de Armação dos Búzios-, pusilanimamente, abre mão de sua prerrogativa constitucional, exclusiva,  de controlar o uso de seu solo,  delegando ao Estado o poder de fiscalizar a operação de uma empresa privada em seu território.

"A prefeitura tem que licenciar, autorizar...A Agência não tem a competência de fiscalizar. Isso é atribuição do município" (João Ricardo Ripper Nogueira, engenheiro, Conselheiro-Presidente da AGENERSA,  JPH, 29/07/2004, CPI da Prolagos).
   
Com prefeitinhos como o de Búzios, a Prolagos deita e rola. Nosso prefeitinho assinou o contrato de concessão sem saber qual era a área de atuação da concessionária no município, porque no contrato não foram fixados,  nem mesmo em anexo, os limites dela. Ele e os demais prefeitos deixaram a cargo da agência reguladora (a ASEP-RJ de então) a contratação de uma empresa terceirizada para tal. Sabe-se que estão previstos serviços exclusivamente na área urbana.  E mesmo na parte urbana, o índice de atendimento deve atingir apenas a 70% da área (João Ricardo, engenheiro da Prolagos, depoimento prestado na CPI da Prolagos, JPH, 29/07/2004). Sabe-se também  que a concessão da Prolagos, iniciada em 1998, com prazo de duração de 25 anos, foi renovado por mais 18 anos, encerrando-se em 2041. Como compensação pela dilatação do prazo obrigou-se a concessionária a aumentar as metas contratuais de atendimento, originalmente de 90% para a água e 70% para o esgoto (meta até 2023), passaram para 98% e 90%, respectivamente. Com certeza, até lá, muito provavelmente a galinha dos ovos de ouro estará morta, atolada na merda oriunda de todas as cagadas já feitas no tratamento de esgoto de Búzios.

Em consonância com a concepção do chefe do Poder Executivo buziano, os vereadores que a Cidade teve ao longo desses anos de vigência do contrato com a Prolagos também pareciam acreditar que o  problema do esgoto não era nosso, mas da Prolagos e do Estado. Pelo menos é o que se depreende da omissão da Câmara de Vereadores tanto na fiscalização quanto na propositura de ações em relação à questão do esgotamento sanitário de Búzios. Como em política não há vazio de Poder, esse espaço é rapidamente ocupado pelo CILSJ (Consórcio Intermunicipal Lagos São João) , criado em 17 de dezembro de 1999, por Luiz Firmino, na ocasião agente regional da FEEMA (atual INEA). Usurpando as prerrogativas constitucionais dos poderes municipais, o CILSJ  "toma decisões e determina ações sem necessitar da aprovação, formal, dos poderes Executivo e Legislativo dos municípios consorciados" (Ernesto Lindgren). Não se ouviu um pio tanto do Prefeito quanto dos vereadores à época. Muito pelo contrário, o Prefeito chegou a dizer que qualquer ação contra a Prolagos seria pior por causa dos possíveis atrasos que daí poderiam advir. Registre-se que as participações dos municípios no CILSJ foram aprovadas pelas Câmaras municipais. Em Búzios, com a Lei 153, de 23/06/1999, a Câmara de Vereadores delega ao CILSJ o poder de "tomar decisões e determinar ações" referentes ao saneamento municipal. Portanto, esses vereadores são co-responsáveis por todas as cagadas feitas pelo CILSJ em Búzios, incluindo a proposta de transposição do rio Una, elaborada pelos "teóricos" do CILSJ.

A própria estrutura formal do Consórcio ajuda a camuflar a usurpação de Poder. Ele não pertence a nenhum município porque é Intermunicipal. É uma superestrutura jurídica  que paira sobre as prefeituras,  como o Estado, mas não está subordinado administrativamente ao governo estadual. Parece-se com um conselho municipal de meio ambiente mas não é. Também não é um órgão de fiscalização nem de licenciamento. Deveria se limitar a ajudar e influenciar "as decisões dos órgãos ambientais estaduais e municipais  sobre o uso dos recursos naturais e a recuperação ambiental" (João Victorino, JPH, 17/06/2004) mas, segundo seu criador, Luiz Firmino, tem por objetivo:

 "planejar e executar planos, programas e projetos destinados a promover o desenvolvimento sustentável e a conservação ambiental de nossa região" (Luiz Firmino, JPH, 17/06/2004, depoimento à CPI da Prolagos).

Aparentemente é democrático porque reúne em um mesmo espaço  órgãos do  governo estadual, prefeituras, empresas e entidades da sociedade civil. Tem 54 membros, sendo 18 do setor público, 18 de usuários e 18 da sociedade civil. Ele "e seu parceiro, o Comitê das Bacias Hidrográficas das Lagoas de Araruama, Saquarema e dos Rios São João e Una (CBHLSJ), montaram uma estrutura burocrática que se compara a uma teia de aranha" (Ernesto Lindgren).  Mesmo que o prefeito e as entidades de Búzios que participam do Consórcio votassem contra a proposta atual de transposição do Rio Una, o município, com certeza, perderia a votação no colegiado de 54 membros do CILSJ, tal o interesse dos outros municípios em recuperar a Lagoa que compartilham.

Sua área de atuação atinge uma superfície de aproximadamente 3.800 km² , abrangendo os municípios de Araruama, Armação dos Búzios, Arraial do Cabo, Cabo Frio, Casemiro de Abreu, Iguaba Grande, Rio Bonito, Rio das Ostras, São Pedro da Aldeia, Saquarema e Silva Jardim (8% do território do estado do Rio de Janeiro). O que lhe confere imenso Poder, mesmo que usurpado. E é este órgão que fez as maiores cagadas que causaram prejuízos irreversíveis a Búzios e a outros municípios consorciados.

A opção pelo sistema de coleta a tempo seco foi uma dessas cagadas perpetradas pelo Consórcio. Reparem que esta não é a primeira vez que Búzios paga o pato pra supostamente "salvar" a Lagoa de Araruama com a transposição para o Rio Una. Inicialmente o contrato com a Prolagos previa a instalação de redes separativas de esgoto. Mas como pelo cronograma os investimentos maciços nesse segmento seriam realizados somente a partir de 2008 e sob a justificativa de que se precisava antecipar os investimentos, para ajudar a recuperar a Lagoa Araruama, o contrato foi alterado em 2002, passando a concessionária a adotar o sistema de captação a tempo seco, muito mais barato.

Nosso prefeitinho assinou o acordo junto com as demais prefeituras, governo do estado, o CILSJ, AGENERSA e MP, mesmo que a Constituição Estadual proíbisse a coleta, numa mesma rede, de águas pluviais e de esgoto (Ernesto Lindgren). As empresas privadas que se associaram constituindo a Prolagos a despeito de suas recomendações em contrário, foram "obrigadas a adotarem o sistema de coleta de esgoto em tempo seco, sistema que havia sido abandonado em mais de 800 comunidades ainda na década de 1940 por terem verificado ser ineficiente e causar danos irreversíveis ao meio ambiente" (Ernesto Lindgren).

O sistema de coleta a tempo seco, apesar de "completamente equivocado", tem uma outra utilidade: aumentar a taxa de esgoto coletado (Engenheiro químico Gandhi Giordano, JPH, 29/10/2008). Assim a Prolagos pode aparecer nas estatísticas como uma das concessionárias com mais elevados índices de tratamento em sua área de cobertura. Espera-se que o Ministério Público e as ONGs 

 "despertem para a necessidade de caracterizar esse desmando como infração e mesmo crime ambiental" (http://www.luizprado.com.br/category/saneamento-basico/page/2/

De fato, Emerson Bittar, presidente da Prolagos, alardeia no site da empresa que "atualmente, os municípios atendidos pela Concessionária têm um dos maiores índices de saneamento do Brasil, chegando a 91% em abastecimento e 71% em coleta e tratamento de esgotos”. Intencionalmente não esclarece que este índice se refere unicamente à sua área de concessão. Em todos os municípios estão excluídas as áreas rurais e, no caso de Búzios, esta área se limita à parte peninsular onde habitam pouco mais de 1/2 dos buzianos. Considerando 71% da metade teríamos na verdade 35%  da população com o seu esgoto coletado. Tratado e de que forma, já é outra coisa.

Para aumentar mais ainda a barafunda em que Búzios se meteu, em fevereiro de 2005 foi criado o Comitê das Bacias Hidrográficas das Lagoas de Araruama, Saquarema e dos Rios São João e Una (CBHLSJ), integrando o Sistema Estadual de Gerenciamento dos Recursos Hídricos e o Sistema Nacional de Recursos Hídricos. Com caráter consultivo e deliberativo, o Comitê de Bacia é hoje a instância mais importante de participação e integração do planejamento de ações ambientais de nossa região. Imaginem se um Conselho Municipal de Meio Ambiente qualquer de um dos municípios consorciados, também consultivo e deliberativo, deliberar contrariamente a uma decisão do CBHLSJ. Como será decidido o  caminho a seguir?

O CILSJ não fez cagada só em Búzios. Segundo o estudioso e articulista da Revista Cidade, Ernesto Lindgren, outras grandes cagadas do CILSJ foram:

 1) "os supostos estudos de retificação do rio São João, uma tarefa inexequível onde milhões de reais foram gastos inultimente"

2) Na Lagoa que eles querem recuperar agora fizeram mais uma cagada. "Em 2000, o Consórcio envolveu-se na risível tarefa de dragar o canal Itajuru, em Cabo Frio, com a finalidade de renovar a água da lagoa de Arrauama, ignorando os estudos técnicos realizados desde 1957 que comprovam que se trata de uma lagoa fechada e que o prisma da maré no canal não passa da conhecida Ilha do Anjo. Isso impede que a água que adentra o canal ultrapasse o chamado Boqueirão que liga a laguna Maracanã, em Cabo Frio, com a lagoa de Araruama. Alegou, na sua campanha publicitária na Internet e em congressos e reuniões, que a água da lagoa de Araruama, com as dragagens, seria renovada no período de 84 dias, omitindo o fato de que o estudo técnico no qual se baseou para a estimativa mostra que, no entanto, se a lagoa fosse aberta o período poderia ser de seis anos"

A última grande cagada pretendida é a proposta da transposição dos efluentes das ETEs em São Pedro da Aldeia e Iguaba Grande para o rio Una, que o povo de Búzios, com certeza, não irá permitir que se concretize.

Comentários no Facebook:

  • Monica Werkhauser muito bom seu resumo. acorda Búzios,vejam em que situação estamos e nos deixaram, agora o home é assessor do Cabral.
  • Marcelo Moraes Parabéns!!! Muito bom trabalho. É um ótimo resumo "das grandes cagadas" dessa turma. E posso dizer isso porque vi de perto. Você sabe. Grande abraço, parabéns.

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Sérgio Cabral lavou as mãos


                            
Calou-se, deixando o erro prosseguir para não ficar mal com o Secretário de Estado do Ambiente, Carlos Minc, que assinou o Protocolo de Intenções em 06/02/2013, dando origem ao PL 2158/13. Sancionou-o, determinando as transposições dos efluentes das ETEs em São Pedro e Iguaba para o rio Una. Lavou as mãos.
            O secretário também lavou as mãos, na água que escorreu das do governador.

            O vice-prefeito de Búzios, Carlos Alberto Muniz, um dos fundadores do Consórcio Intermunicipal Lagos São João (CILSJ), em 1999, em discurso proferido na manifestação realizada no cais de Manguinhos, contra as transposições, viu a face escura do subsecretário Luiz Firmino Martins Pereira, dizendo-se indignado com sua posição: “Não há o que discutir”.

            O subsecretário sabia que a lei seria sancionada, entendendo que o gesto do governador e o silêncio do secretário eram manifestações de apoio à sua decisão. Engana-se.

            Os vereadores de Búzios, prefeito e vice-prefeito estão unidos e negociam com a Prolagos a construção de uma ETE. Está difícil, uma vez que só dispõem de recursos para uma com tratamento secundário, o que não basta. Mas já é meio caminho andado, podendo negociar empréstimos para uma que proteja um Patrimônio Mundial, o Mangue de Pedra. É um dos três no mundo.

            Talvez o subsecretário ainda conte com o apoio de São Pedro, Iguaba e Cabo Frio, mas se continuarem perceberão que colocarão em risco seus territórios, os dois primeiros com o desvio de parte da água infestada de esgoto para as áreas rurais, o que as destruiria, e o terceiro com os danos que serão causados ao rio Una.

            Muita água podre anda irá rolar, mas se percebe haver furos no fundo da canoa do CILSJ. Poderá ficar só, uma vez que, dificilmente, os prefeitos que fazem partem do consórcio irão querer compartilhar com ele a responsabilidade pelo desastre que se expande desde 2000.

            A alterativa é que São Pedro, Iguaba e Cabo Frio invistam, independentemente, na construção de ETEs onde o VMP (Valor Máximo Permitido) seja de 500 coliformes fecais por 100 ml. Que deixem o CILSJ enfrentar, sozinho, seus pesadelos.

Ernesto Lindgren


sábado, 15 de junho de 2013

CILSJ: um monopólio que precisa ser quebrado

                               
Os municípios que fazem parte do Consórcio Intermunicipal Lagos São João, instituído em 17 de dezembro de 1999, abriram mão de suas prerrogativas constitucionais. Tem o CILSJ o poder de tomar decisões e determinar ações sem necessitar da aprovação, formal, dos poderes executivo e legislativo dos municípios consorciados. Para ele não se encontra abrigo na Constituição Federal. Ignora-a. 

O mais recente exemplo é o Protocolo de Intenções de 06/02/2013 que os prefeitos de Cabo Frio, Arraial do Cabo, São Pedro da Aldeia, Iguaba Grande e Armação de Búzios assinaram em que ficou determinado que os efluentes das ETEs em São Pedro da Aldeia e Iguaba Grande seriam transpostos para o rio Una. As assinaturas dos prefeitos foram, apenas, uma formalidade, uma vez que não tiveram escolha. A decisão foi tomada sem indagar se a população de um município que será afetado, no caso Búzios, concorda. É como se os proprietários de casas delegassem a um estranho a tomada de decisões sobre o que fazer com o lixo de cada casa. Esse estranho teria o poder de determinar que os lixos produzidos em duas casas seriam transpostos para o quintal de uma terceira, o que por sua vez afetaria uma quarta casa cujo proprietário não seria consultado. Tomaria ciência, mas não poderia impedir que as transposições ocorressem.

            Uma audiência pública, à posteriori, serve, apenas, para dar à decisão a aparência de legitimidade. 
            O CILSJ e seu parceiro, o Comitê das Bacias Hidrográficas das Lagoas de Araruama, Saquarema e dos Rios São João e Una (CBHLSJ), montaram uma estrutura burocrática que se compara a uma teia de aranha, com câmeras técnicas e grupos de trabalho que tomam decisões e as implementam sem consultarem os municípios. Apenas os notifica. O argumento de que cada município tem um representante no Consórcio não basta. Se se unissem em defesa de determinada decisão estariam sempre em minoria numa votação no colegiado de 54 membros do CILSJ. É exatamente isso que o caracteriza como um monopólio.

            Armação de Búzios está sendo obrigado a recorrer ao Ministério Público Estadual para que uma decisão tomada pelo CILSJ, e apenas referendada por alguns prefeitos, inclusive o de Búzios, seja tornada sem efeito. 

As transposições de efluentes de ETEs localizadas em São Pedro da Aldeia e Iguaba Grande para um rio localizado em Cabo Frio, torna inócua a prerrogativa constitucional deste, exclusiva, de controlar o uso de seu solo. Discute-se, com a naturalidade dos adeptos da promiscuidade, se parte daqueles efluentes serão despejados em áreas não ocupadas, ou ditas “desérticas”, em territórios de municípios consorciados. Perdem estes, portanto, o controle de seus solos. Não poderão decidir recuperar aquelas áreas e usá-las para outros fins se a decisão for adotada.  

            O CILSJ age legalmente, mas sem legitimidade. Do nada surgiu e os municípios que dele decidiram participar não tinham ideia do que se seguiria. Foram obrigados a concordar com a afronta à Constituição Estadual que proíbe a coleta, numa mesma rede, de águas pluviais e de esgoto. Não pode um município decidir, ele e apenas ele, que tipo de tratamento de esgoto adotar. Quisesse Búzios construir uma ETE completa, com seus próprios recursos, usando o que de melhor se encontra em termos de equipamento e de técnica de tratamento de esgoto, não pode fazê-lo. O mesmo se aplica aos demais municípios consorciados.

               Desde o início, em 2000, as principais ações promovidas pelo CILSJ têm, comprovadamente, se mostrado incoerentes causando prejuízos irreversíveis aos municípios consorciados. Obrigaram as empresas privadas que se associaram para atuar como concessionárias, a Bozano Simonsen, a Monteiro Aranha e a Aguas de Portugal, a despeito de suas recomendações em contrário, a adotarem o sistema de coleta de esgoto em tempo seco, sistema que havia sido abandonado em mais de 800 comunidades ainda na década de 1940 por terem verificado ser ineficiente e causar danos irreversíveis ao meio ambiente. A tecnologia adotada é do século 19. As duas primeiras empresas logo desistiram, em 2001, e se desligaram da empreitada. A terceira, Águas de Portugal, que atuou como concessionária até 2008, também se afastou tendo arcado com um prejuízo de 100 milhões de euros. Naquele ano já estava comprovado que o sistema era uma vergonha para a engenharia nacional. Seguiram-se os supostos estudos de retificação do rio São João, uma tarefa inexequível onde milhões de reais foram gastos inutilmente. Simultaneamente, e desde o início, em 2000, envolveu-se na risível tarefa de dragar o canal Itajuru, em Cabo Frio, com a finalidade de renovar a água da lagoa de Araruama, ignorando os estudos técnicos realizados desde 1957 que comprovam que se trata de uma lagoa fechada e que o prisma da maré no canal não passa da conhecida Ilha do Anjo. Isso impede que a água que adentra o canal ultrapasse o chamado Boqueirão que liga a laguna Maracanã, em Cabo Frio, com a lagoa de Araruama. Alegou, na sua campanha publicitária na Internet e em congressos e reuniões, que a água da lagoa de Araruama, com as dragagens, seria renovada no período de 84 dias, omitindo o fato de que o estudo técnico no qual se baseou para a estimativa mostra que, no entanto, se a lagoa fosse aberta o período poderia ser de seis anos.

 E, agora, com a proposta das transposições dos efluentes das ETEs em São Pedro da Aldeia e Iguaba Grande está a sugerir, como um tipo de argumento que apaziguaria os ânimos da população de Búzios, que se desvie parte desses efluentes para irrigação das áreas rurais dos municípios de São Pedro da Aldeia e Iguaba Grande. É uma proposta que frontalmente desrespeita norma do Conama (Conselho Nacional do Ambiente) que proíbe o uso de água contendo excrementos humanos para irrigação. E, finalmente, num típico comentário assacado do nada, o subsecretário da SAE compara os efeitos na saída do canal Itajuru com os que ocorreriam na foz do rio Una, como se fosse possível comparar o que ocorre com  a saída de 500 ml litros de água carregando mais de 1.000 coliformes fecais por 100 ml, com a saída de 40 milhões de litros de água infestada com mais de 800 coliformes fecais por 100 ml. Não há o que dizer diante de tal comparação, Talvez, apenas, ser risível e irresponsável.  
          
Os municípios no CILSJ estão subjugados.

Ao se clicar no item "Quem somos" na página do CILSJ na Internet deveria se ler, como resposta, "Promotor de confusões".

O CILSJ criou uma estrutura estranha ao ordenamento territorial explicitado na Constituição Federal. Não se pode permitir que perdure.

Ernesto Lindgren


Meu comentário:

Excelente a imagem criada pelo articulista Ernesto Lindgren para se contrapor à transposição dos efluentes da Lagoa de Araruama para o rio Una, comparando o serviço público de coleta de lixo com outra coleta, a de esgoto. 

"É como se os proprietários de casas delegassem a um estranho a tomada de decisões sobre o que fazer com o lixo de cada casa. Esse estranho teria o poder de determinar que os lixos produzidos em duas casas seriam transpostos para o quintal de uma terceira, o que por sua vez afetaria uma quarta casa cujo proprietário não seria consultado. Tomaria ciência, mas não poderia impedir que as transposições ocorressem".