Polícia investiga esquema de propina na Câmara de Augustinópolis — Foto: Lucas Ferreira/ TV Anhanguera |
Em
áudios, vereadores cobram repasse de propina: 'Eu quero meu negócio.
É obrigação'
Dez
dos 11 vereadores de Augustinópolis (TO) tiveram a prisão decretada
pela Justiça. Polícia diz que esquema de corrupção desviou R$ 1,5
milhão em três anos.
Escutas
telefônicas feitas pela Polícia Civil revelaram como funcionava
o suposto
esquema de corrupção na Câmara de Vereadores de Augustinópolis,
norte do Tocantins. Os áudios mostram que a propina foi cobrada até
na votação
da Lei Orçamentária Anual (LOA)
e os vereadores ficavam irritados quando o repasse atrasava. Segundo
a polícia, o grupo de vereadores chegava a receber R$
40 mil por mês e
a suspeita é de que houve um desvio
de R$ 1,5 milhão em três anos.
Na
manhã desta sexta-feira (25), sete
vereadores foram presos temporariamente
e outros três
são considerados foragidos.
Ao todo, 10
dos 11 vereadores tinham mandados de prisão temporária.
Apenas o presidente da casa não teve ordem de prisão expedida pela
Justiça.
Em
um dos áudios, gravado no dia 18 de dezembro, o vereador Antônio
Feitosa diz que vai cobrar
um extra para votar a LOA.
Secretário
Paulo: Presidente,
nós ainda tem sessão esse ano? [sic]Antônio
Feitosa: Tem
três, bicho. Deixa eu te falar: cadê
a LOA, cadê a LDO?
Secretário Paulo: Tá aqui. O menino vai entregar hoje [...]Antônio Feitosa: Pode preparar um extra aí, viu?Secretário Paulo: não, mas sim. Eu vou falar com o Júlio [prefeito] aqui.Antônio Feitosa: Pode preparar para poder resolver lá.
Secretário Paulo: Tá aqui. O menino vai entregar hoje [...]Antônio Feitosa: Pode preparar um extra aí, viu?Secretário Paulo: não, mas sim. Eu vou falar com o Júlio [prefeito] aqui.Antônio Feitosa: Pode preparar para poder resolver lá.
Os
áudios mostram que o codinome usado para a propina era "documento"
ou "documento do prefeito". Em outra gravação, o
secretário avisa o prefeito sobre a cobrança feita pelo vereador.
Secretário
Paulo: E
aí, tem uns documentos pro senhor assinar também pra gente poder...
Aí eu quero ver com o senhor como é que vai fechar a conversa com
os vereadores. Porque eu tô sentindo, chefe, que nós vamos ter que
pagar um extra
aqui, viu?Prefeito
Júlio Oliveira: Não,
hurum.
Os
áudios mostram ainda que a demora no pagamento em dezembro deixou os
vereadores impacientes.
Ângela
Maria: Tu
conversou com o prefeito?Antônio
Feitosa: Moço,
eu tô com dois dias ligando pra ele e nem chama o telefone.Ângela
Maria: Rapaz,
moço. Hoje é vinte e quatro. Os vereadores tudinho precisando
daquilo.Ângela
Maria: pois
tu ver com prefeito se tem como ele antecipar pra hoje o nosso?
Em
um dos áudios, o presidente da Câmara de Vereadores, Cícero
Cruz Moutinho (PR),
questiona a vereadora Ângela Maria Silva Araújo de Oliveira (PSDB)
sobre o pagamento
da propina,
que estaria sendo utilizado por outro parlamentar para comprar apoio
na votação para mesa diretora. Durante
entrevista à TV Anhanguera, o presidente disse que desconhecia o
esquema.
Ângela
Maria: Não,
o nosso ainda é o mesmo valor. O meu, né [inaudível]. O
meu.Cícero
Moutinho: Não
sabe o dos outros? Porque a covardia é grande, né?Ângela
Maria: É
porque eu não pergunto, né presidente? Eu não vou lá: Ei fulano,
o prefeito
te paga quanto?
Eu não, não ando atrás disso aí não.
As
gravações demonstram ainda que os vereadores recebiam a propina
há algum tempo e viam o pagamento como uma obrigação
da prefeitura.
Ângela
Maria: O
prefeito... o Toin passou o documento
do prefeito?Antônio
Barbosa: Até
agora não. E pra tu?Ângela
Maria: HumhumÂngela
Maria: Mas
amanhã cedo eu vou ligar pra ele. Eu quero meu negócio. É
obrigação,
não é dizer que não é obrigação não. […]
Além
de determinar a prisão de dez vereadores, a Justiça determinou
também o afastamento
dos investigados por 180 dias.
Com isso, os suplentes devem ser nomeados imediatamente para ocupar
os cargos. Apenas o presidente da Câmara, que não está sendo
investigado neste momento, continua no cargo.
Entenda
A
Justiça determinou a prisão
temporária de dez vereadores de Augustinópolis,
na região norte do Tocantins. A Polícia Civil cumpre os mandados na
manhã desta sexta-feira (25). Apenas o presidente da Câmara de
Vereadores não teve a prisão decretada, mas está sendo levado para
depor. Ao todo, a cidade tem 11 vereadores. A operação foi chamada
de Perfídia
e investiga a cobrança de propina para aprovar projetos enviados
pela prefeitura da cidade.
A
operação foi chamada de Perfídia e está sendo realizada pela
Polícia Civil e Ministério Público. São 14 mandados de busca e
apreensão, dez de prisão temporária e três intimações para
prestar depoimento. O prefeito da cidade e o presidente da câmara
não estão sendo investigados neste momento.
"Durante
todo o monitoramento dos vereadores, em nenhum momento foi ouvido
falar em benefícios que seriam para a população de Augustinópolis.
Visavam apenas o locupletamento
de dinheiro,
extorquindo, de certo modo, a prefeitura para pagar valores para que
aprovassem projetos oriundos da Prefeitura Municipal de
Augustinópolis", comentou o delegado Thyago Bustorff.
Até
às 12h desta sexta-feira (25), apenas os vereadores Wagner Uchôa
(MDB), Edivan Neves da Conceição (MDB) e o Antônio Queiroz (PSB)
ainda não foram encontrados. Todos os demais mandados foram
cumpridos. Os parlamentares vão responder por corrupção passiva e
associação criminosa.
Os mandados de prisão são contra os seguintes vereadores:
Os vereadores foram afastados de suas funções. Foto: Divulgação |
Os mandados de prisão são contra os seguintes vereadores:
Maria
Luisa de Jesus do Nascimento (PP)
Antônio
Silva Feitosa (PTB)
Antônio
Barbosa Sousa (SD)
Antônio
José Queiroz dos Santos (PSB) -
Foragido
Edvan
Neves Conceição (MDB) -
Foragido
Ozeas
Gomes Teixeira (PR)
Francinildo
Lopes Soares (PSDB)
Angela
Maria Silva Araújo de Oliveira (PSDB)
Marcos
Pereira de Alencar (PRB)
Wagner
Mariano Uchôa Lima (MDB) -
Foragido
Fonte:
"g1"
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