Búzios
tem, de acordo com a Prefeitura, apenas uma morte por Covid-19. Essa
morte- a primeira e única por Covid no município- foi
confirmada em nota oficial pela prefeitura de Búzios em 29 de Abril.
O
paciente, um morador da cidade de 60 anos de idade, foi admitido no
hospital municipal no dia 28 de Abril e faleceu no dia seguinte (29)
com suspeita da doença. A confirmação da doença foi feita pela
Vigilância Epidemiológica Estadual após receber o resultado do seu
exame (Teste RT-PCR) em 12 de Maio. O resultado demorou 14 dias para
sair porque ele é feito em um único laboratório no Rio. Supõe-se
que o paciente tenha morrido no hospital.
É
sabido que um outro morador de Búzios também morreu de Covid-19.
Falo de João Maurício, proprietário da Academia do Bosque, de 47
anos, que procurou o hospital no dia 3 de Maio ao sentir forte dor de
garganta, falta de ar e suspeitar de estar com Covid-19. Depois de
fazer alguns exames, foi para casa- não se sabe se por iniciativa
própria ou por orientação médica- onde morreu no dia seguinte
(4). Seu teste, que andou circulando pela internet, deu positivo para
Covid-19. Este óbito deveria ser contabilizado pela prefeitura de
Búzios como o segundo ocorrido no município por covid-19. Por que
então não foi? Será que a prefeitura de Búzios não contabilizou
o óbito do João Maurício só porque ele se deu em sua residência?
Será que a prefeitura só conta os óbitos ocorridos no hospital
municipal Rodolfo Perissé?
Teste de João Maurício positivo para Covid19. Fonte: site prensadebabel |
Se
for realmente isso, está explicado porque o município diz que tem
apenas um único óbito por Covid-19 decorridos 48 dias desde que o
primeiro caso foi confirmado no município em 13 de abril. As mortes
que estariam acontecendo por covid-19 fora do hospital não estariam
sendo computadas. E a prefeitura adotou um protocolo terapêutico
para tratamento do Covid-19 sob medida para afastar os doentes do
hospital, isolando-os em suas casas.
Esse
protocolo é adotado pela prefeitura de Búzios desde o primeiro caso
confirmado no município. Consiste na administração de
Hidroxicloroquina, Cloroquina, Azotrimicina e
Sulfato de Zinco nos casos graves, como admitia o Ministério
da Saúde, e também nos casos leves, o que não era permitido pelo
Ministério da Saúde até a saída do Ministro Teich. Ou seja, todos
que chegam ao hospital de Búzios com grandes suspeitas de Covid-19,
seja em casos leves ou graves, são enviados de volta para casa junto
com um coquetel de cloroquina e outros remédios já citados.
Em
entrevista ao site RC24h, o prefeito André Granado confirmou que
todos os pacientes que chegam ao hospital são orientados a fazer
isolamento domiciliar. “Ao chegar ao posto de
saúde o paciente é avaliado. Dependendo do estado em que ele se
encontra- nível de saturação de oxigênio, frequência
respiratória, sintomas- ele é orientado a fazer isolamento
domiciliar, além de ter o material para exame colhido", relatou
o prefeito.
Ou
seja, todos os pacientes são mandados pra casa com o protocolo da
cloroquina. “Todos
os pacientes que passam pelo serviço de saúde são monitorados pela
nossa equipe de vigilância epidemiológica, que fará contatos, que
se colocará à disposição para qualquer evolução que surja a
esses sintomas da fase inicial (ou fase 1). Ou seja, se a pessoa
apresentar qualquer coisa diferente, alguma dificuldade respiratória,
ela automaticamente irá procurar o serviço de saúde”.
Portanto,
os medicamentos do protocolo são prescritos antes da confirmação
da doença, já que o laboratório do estado às vezes tarda 7 dias
pra dar o resultado do PCR. “Quando o médico avalia que o paciente
tem sintomas bastante sugestivos de Covid-19, ele já prescreve os
medicamentos do protocolo (Hidroxicloroquina, Cloroquina,
Azotrimicina e Sulfato de Zinco).
O
protocolo cai como uma luva para se economizar com teste rápidos.
Conforme relatado pelo prefeito na entrevista citada, como ele “é
usado desde o nosso primeiro paciente, e deve ser utilizado nos
primeiros dias”, não faz sentido aplicar testes rápidos que só
começam a positivar a partir do 7º dia, mais seguramente a partir
do 10º dia , visto que a indicação é que você entre com a
medicação o quanto antes, precocemente".
Resultado,
pouquíssimos pacientes ficam em isolamento hospitalar em Búzios.
Verificando todos os Boletins Coronavírus publicados pela
prefeitura “os casos confirmados em isolamento hospitalar” é
ZERO na maior parte deles. Nesse período só tivemos internados no
hospital de Búzios, em isolamento hospitalar, 1 paciente nos dias
15, 16 e 17 de Abril e 3 pacientes ontem (30) e hoje (31 de maio). Em
quase 50 dias de pandemia foram internados no hospital de Búzios
apenas 4 pacientes!!! E temos hoje (dia 31) 52 “casos de isolamento
domiciliar”. Ou seja, hoje (31), o município tem 3 pacientes
internados no hospital e 52 “internados” em casa, tomando o
protocolo cloroquina, sem qualquer acompanhamento médico in loco.
Boletim Coronavírus do dia de hoje (31/05/2020) |
Mesmo
no dia em que o paciente de 60 anos, que se supõe estava internado
no hospital, e que morreu de Covid-19, e que a prefeitura
contabilizou como o único óbito ocorrido na cidade, no Boletim do
Coronavírus desse dia, 28 de Abril, consta como Zero paciente em
isolamento hospitalar. Isso se deve ao fato de que o paciente
internado ser considerado apenas como caso suspeito, ainda não
confirmado, porque a confirmação só viria mais ou menos 10 dias
depois, com o resultado do Laboratório do Rio (LACEN). O que
significa dizer que esse paciente não “passou” por Búzios. Foi
internado no Hospital no dia 28, mas não contou como caso confirmado
porque não se tinha ainda o resultado do exame. E quando chegou o
resultado do exame, também não foi contado como caso em isolamento
hospitalar porque ele não estava mais internado. Estava morto.
Portanto,
10 dias depois, tem-se o resultado, e o paciente não está mais no
hospital, mas em casa tomando os remédios do Protocolo ou morto. Se
se curar, contabiliza-se a cura. E se o paciente morrer, o que se
faz? Depende onde o paciente morrer. Se morrer no hospital, a morte
entra no Boletim Coronavírus da prefeitura. Agora, se morrer em
casa, é como se ela não existisse para o município, como foi o
caso do João Maurício da Academia do Bosque.
Ataualização:
Depois que escrevi o texto tomei conhecimento de que a vereadora Gladys falou na penúltima sessão da Câmara de Vereadores, que uma pessoa com suspeita de estar com a COVID-19 foi enviada para
casa com o Protocolo receitado para que ela o comprasse na farmácia,
pois a prefeitura não tinha os remédios na farmácia do hospital.
Como a pessoa não dispunha de recursos (50,00) para comprar o remédio, a
vereadora conseguiu que uma farmácia fizesse a doação. Um absurdo, entre outros absurdos, tal como o fato da "paciente" tomar o remédio, que pode ter efeitos colaterais graves, sem o devido acompanhamento médico com os exames clínicos necessários.
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