A
organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF) divulgou no dia
18 último o Ranking de Liberdade de
Imprensa, que todos os anos categoriza as condições
de trabalho dos jornalistas ao redor do mundo. Este ano, as
degradações mais fortes foram registradas na América do Norte e na
América do Sul, onde a situação do Brasil contribuiu para o
resultado negativo.
Em
2018, quando foram registrados assassinatos
de quatro jornalistas no Brasil
e o cenário piorava para repórteres que cobriam temas relacionados
à corrupção,
às políticas públicas e ao crime organizado,
o país ficou no 102º lugar no ranking. Em 2019, o Brasil caiu três
posições (105º)
e registrou uma pontuação de 32.79, — a escala vai de 0
a 100, sendo 0 positivo e 100 negativo — se aproximando
da zona vermelha, formada por países que tiveram sua realidade
classificada como “difícil” pela RSF. A metodologia do estudo e
a classificação de todos os países estão disponíveis aqui e aqui,
respectivamente.
Segundo
o diretor da RSF na América Latina Emmanuel Colombié, a queda do
Brasil — que ocupa hoje sua pior posição no Ranking desde
2015 — é explicada pelo crescente discurso de
ódio contra profissionais de imprensa, principalmente no
contexto político-eleitoral. "A proliferação de estratégias
de desinformação, em particular durante o período eleitoral, e
o discurso público cada vez mais orientado pela crítica à
imprensa, alavancaram um sentimento de desconfiança para com o
jornalismo e os jornalistas", comenta. "Uma desconfiança
que frequentemente se materializa em discurso de ódio, campanhas
de difamação, processos judiciais e acaba estimulando a
autocensura."
Daniel
Bramatti, presidente da Abraji, afirma que o ódio contra jornalistas
prejudica a sociedade como um todo. “Não existe livre circulação
de informações - um pressuposto para a democracia - em um ambiente
marcado por ameaças e intimidação”, comenta. “Os ataques são
condenáveis independentemente de vir do governo ou da oposição. Os
que provocam mais dano, porém, são os provenientes de quem
exerce o poder.”
Colombié
também critica a postura de governantes em relação aos
jornalistas. "Infelizmente, a postura do presidente Jair
Bolsonaro é reveladora de uma tendência cada vez mais atual
entre chefes de estado, que parecem não mais enxergar a imprensa
como um fundamento essencial da democracia, mas como um adversário
contra o qual demonstram abertamente sua aversão",
comenta.
A
Repórteres Sem Fronteiras aponta o WhatsApp, principal fonte de
informação dos eleitores de Bolsonaro (61%), como o ambiente de
compartilhamento de “campanhas
de difamação e outras teorias de conspiração”
que contribuíram para que jornalistas se tornassem um alvo
preferencial de “grupos disseminadores de ódio, especialmente nas
redes sociais”. Em 2018, levantamento
da Abraji registrou
156
casos de violência a jornalistas e comunicadores
em contexto político, partidário e eleitoral, sendo 85 ataques por
meios digitais.
O
país mais perigoso da América Latina continua sendo o México
(144º),
que em 2018 registrou pelo menos 10
mortes de jornalistas.
Assim como o Brasil, o México passou por um processo eleitoral
recentemente, marcado por numerosos ataques a jornalistas. Com a
chegada do novo presidente ao poder, as relações entre o poder
público e a imprensa acalmaram-se. No Brasil, a ONG Artigo 19 mostra
que desde a posse presidencial o comportamento de Jair Bolsonaro e
seus apoiadores em relação à imprensa indicam
institucionalização
de violações à liberdade de imprensa.
A
Venezuela perdeu cinco posições desde 2018, ocupando o 148º do
ranking. Segundo a RSF, as detenções arbitrárias
e casos de violência contra jornalistas por parte de agentes
do governo Maduro aproximam “perigosamente” o país do fim da
lista.
O
ranking da RSF é publicado desde 2002 e mede as situações
relativas à liberdade de expressão de 180 países. Este ano, 77%
dos territórios analisados apresentam situações
problemáticas, — como é o caso do Brasil — difíceis
ou muito sérias. Os cinco países com melhores índices de liberdade
de imprensa são Noruega, Finlândia,
Suécia, Países Baixos e Dinamarca.