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Policiais federais carregam material apreendido durante Operação Capitu, em São Paulo, na última sexta-feira Foto: Edilson Dantas / Agência O Globo |
O ESQUEMA
Batizada
de Capitu, a operação é um desdobramento da Lava
Jato e feita em conjunto com a Receita Federal. A operação é
baseada na delação do doleiro Lúcio Funaro, apontado
como operador do MDB. Em sua delação, Funaro disse que a JBS deu,
por intermédio de Eduardo Cunha, R$ 15 milhões ao MDB nacional e R$
15 milhões ao MDB mineiro.
De
acordo com as investigações, empresas doavam dinheiro
irregularmente para políticos e partidos. Segundo as investigações,
havia um esquema de arrecadação de propina dentro do
Ministério da Agricultura para beneficiar políticos do MDB,
que recebiam dinheiro da JBS, empresa dos irmãos Joesley e Wesley
Batista. Em troca, empresas do grupo eram beneficiadas.
Uma
grande redes varejista de Minas Gerais , o Supermercados BH, atuava
no esquema, por meio de seus controladores e diretores. As redes
varejistas se aproveitavam do grande fluxo de caixa para lavar
o dinheiro que era doado a partidos e políticos. O esquema
operou entre agosto de 2014 e fevereiro de 2015.
Quando
era ministro, o vice-governador Antonio Andrade teria beneficiado a
JBS ao determinar a regulamentação
da exportação de despojos
(parte do boi que não é consumível), a proibição
do uso da ivermectina de longa duração
– um antiparasita – e a federalização
das inspeções de frigoríficos,
segundo as investigações.
Em
troca, o grupo empresarial Grupo JBS teria pago, além dos R$ 30
milhões, R$ 2 milhões pela regulamentação da exportação
de despojos e R$ 5 milhões na proibição da
ivermectina de longa duração.
Se
indiciados, os envolvidos vão responder pelos crimes de
constituição, participação em organização criminosa, obstrução
de Justiça, corrupção ativa e passiva e lavagem de
dinheiro.
A OBSTRUÇÃO DA JUSTIÇA
Consta
no Pedido de Prisão Preventiva que Ricardo Saud declarou em 20
de setembro de 2018,
em documento enviado ao Delegado Mário Veloso, que “não tratou
com o Ministro Neri Geller de assuntos relacionados ao presente
inquérito referentes ao MAPA, como despojos,
ivermectina
e 'listão', sendo que acredita que tenha estado com o Ministro Neri
Geller já na função de Ministro de Estado não mais do que uma
vez” (grifo da juíza). Uma ligação telefônica de 12/12/2014
entre Ricardo Saud e o Ministro Neri Geller mostra a preocupação de
Ricardo Saud com o possível boato de que o ministro iria revogar “o
negócio
lá que veio da Casa Civil de ivermectina”.
Neri Geller disse que não iria revogar.
Nesse
período da conversa, dezembro de 2014, a Casa Civil
era chefiada por Aloísio Mercadante e, conforme
declarado por Lucio Bolonha Funaro à Polícia Federal em 17/05/2018,
“para ser liberada a portaria dos despojos dentro do
MAPA foi necessária a intervenção de Joesley Batista junto ao
Ministro da Casa Civil à época, Aloísio Mercadante; QUE se a
intervenção do Ministro Chefe da Casa Civil não ocorreu na
operação dos despojos, sua intervenção foi efetuada na operação
de proibição da “ivermectina”; que o colaborador
ressalta que tem certeza absoluta dessa intervenção
devido a Rodrigo Figueiredo, funcionário do MAPA indicado por
Eduardo Consentino Cunha, ter informado ao colaborador que tudo o que
precisava ser feito no MAPA por ele (Rodrigo), pelo Ministro, por
Antonio Andrade, e demais funcionários da hierarquia do MAPA, já
estava pronto, faltando somente o aval da Casa Civil;
que ficou sob responsabilidade de Joesley Baptista devido a grande
proximidade do mesmo com membros do Partido dos Trabalhadores;
QUE não sabe informar se houve alguma contrapartida financeira
em troca dessa ajuda do Ministro Aloísio Mercadante a Joesley
Batista; QUE, quanto ao uso de ivermectina, foi o mesmo
modus operandi do caso dos despojos, ou seja, Joesley requisitava ao
colaborador e o colaborador passava a requisição a Eduardo
Consentino Cunha; QUE o deputado Eduardo Cunha, por sua vez,
repassava a Rodrigo Figueiredo ou Antonio Andrade; que após a
solicitação ter sido feita por Eduardo Consentino Cunha, quem
tratava dos trâmites internos dentro do MAPA pelo grupo J&F era
Ricardo Saud, visto que Ricardo Saud tinha grande conhecimento
do funcionamento do Ministério, pois trabalhou como
secretário no Ministério na gestão do ex-Ministro Wagner Rossi”
.
Joesley
Batista, por sua vez, declarou à Polícia Federal em 03/05/2018
que “referente à Portaria proibindo a Ivermectina,
não se lembra exatamente se Aloísio Mercadante teve
que interferir no processo; QUE pode ter acontecido
pois o declarante tinha um bom relacionamento com Mercadante; QUE se
aconteceu, na visão do declarante, não seria relevante no
presente caso, posto que Mercadante nunca pediu propina ao
declarante e o declarante nunca lhe oefereu propina ou pagou”.
Tal
declaração, entretanto, parece não corresponder ao que foi
apurado na investigação policial, por meio dos diálogos
interceptados na Operação O Quinto, nos quais se vê
claramente que Ricardo Saud mantinha relacionamento de proximidade
com o então Ministro Neri Geller e as negociações em torno da
utilização da Ivermectina.
Acrescente-se
que no dia 7 de janeiro de 2015, conforme os áudios da
operação policial intitulada O Quinto, foi possível tomar
conhecimento da possível eliminação de documentos na
sede da J&F.
Nos
diálogos, Ricardo Saud se mostra inicialmente surpreso
com a notícia dada por sua secretária, Gisele, e depois fala
como se soubesse o motivo pelo qual Joesley Mendonça Batista
teria tomado tal atitude. Joesley e Demilton estão fazendo “uma
limpeza na sala”, segundo a fala da secretária Gisele, o
que desmente a afirmação feita por Joesley perante a
autoridade policial.
Em
outra fala, no dia seguinte, Demilton confirma ter dado, por ordens
superiores, uma limpada
geral e levado para o arquivo.
Diz que vai ver se encontra o documento que Ricardo diz estar
precisando. Ricardo diz que está assinado pelo Gavazoni, secretário
de fazenda, e que estava esperando o Wesley assinar para o governador
assinar e publicar. Demilton afirma que pode
ter sido descartado.
Ricardo, por sua vez, diz que se foi descartado foi só descartado 15
milhões por mês. Demilton confirma
que agiu por ordem superior
e vai ver se encontra o documento.
As
declarações são, portanto, recentes, e não correspondem ao que
foi até o momento apurado pela autoridade policial, revelando
que os indiciados continuam a ocultar os fatos, muito embora se
comportem, aparentemente, como se estivessem colaborando com a
justiça ,assinando os acordos de colaboração premiada. Ao que
parece, e à primeira vista, na verdade estão direcionado a
autoridade policial e investigatória para aquilo que lhes interessa
revelar, ocultando fatos relevantes para o
esclarecimento da atividade criminosa que se instalou no âmbito da
administração pública federal.
Em
sua colaboração premiada Lucio Bolonha Funaro afirma que o então
presidente do grupo J&F , Joesley Mendoça Batista, pessoalmente,
juntamente com o gerente Administrativo-Financeiro da J&F ,
Demilton Antônio de Castroi, e do “entregador de malas de dinheiro
da organização criminosa”, Florisvaldo Caetano de Oliveira,
estariam retirando toda documentação, mídias e e
computadores da sala do diretor de relações intitucionais da J&F
Ricardo Saud, em razão de reportagem publicada no dia
anterior no jornal O Estado de São Paulo, referentes a fatos
relatados pelo delator na operação Lava-Jato, o ex-diretor de
abastecimento da Petrobrás Paulo Roberto Costa.