quinta-feira, 29 de março de 2018

Indignemo-nos em Búzios: quem fecha escola, abre prisão

Professora Luísa na passeata dos estudantes

- Não foge quem se retira, respondeu D. Quixote. - Porque hás-de saber, Sancho, que a valentia que se não baseia na prudência chama-se temeridade.

A reflexão de um dos maiores personagens literários da história ao seu fiel escudeiro, Sancho Pança, balizou a decisão de estudantes que ocuparam por treze dias o C.M. Paulo Freire para que a Prefeitura de Armação dos Búzios cumprisse a decisão judicial de reabrir as turmas e turnos fechados nesta escola e em outra, o INEFI, localizado em região popular. A desocupação, dada em 12 de março, foi realizada após promessa e documento jurídico garantindo a imediata reabertura das matrículas. Mas eis que o inesperado se dá diante de nossos olhos. A Prefeitura, não conformada com a derrota política e jurídica na sua intenção de fechar os colégios de ensino médio mantidos pelo Município, inicia uma batalha burocrática: “Matrículas só serão abertas quando turmas forem formadas” informam as Secretarias Escolares nos dias seguintes à desocupação. Mas como ter turmas formadas se as matrículas não estão abertas? Responda, Sancho: moinhos ou gigantes? Indignante.

Temos enfatizado o quanto a evasão escolar vem se tornando um problema de saúde e de segurança pública para o Brasil e, principalmente em Búzios, uma das cidades mais ricas do Estado. Dados apresentados pelo Ministério Público em 2016, em ação movida contra o Município, mostram que cerca de 61% dos alunos em idade escolar para cursar o Ensino Médio, estão fora da escola. Numa sala de aula, ao perguntar se alguém conhece um colega em idade escolar para cursar o Ensino Médio e que desistiu de estudar, o alcance é de 100%. Impossível não se indignar.

Ganhamos no campo jurídico, no campo político e também venceremos no campo burocrático, mas sem a alegria de vitória. Porque estamos perdendo a batalha e insistimos em continuar derrotados. A resposta à evasão escolar é o fechamento de escolas. É desejar que os que desistiram de estudar, não voltem para a escola. É desistir daqueles que ainda insistem em estudar, apesar do descaso. Indignados. Até quando?

Perdem os professores. Perdem, ainda mais, os estudantes. Perde toda uma cidade. Perde muito a geração de jovens do ano de 2018. Mas, cedo ou tarde, venceremos a batalha final.

O mar da história é agitado.

Indignemo-nos.

Professora Luísa


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