Pequeno Jornaleiro, foto do site rioquepassou |
Num ritmo espontâneo, simples e festivo, que não podia
resultar em outra coisa: a materialização e o estilo artístico deste jornal. Analisando visões não tão singelas quanto as que encantavam há
20 anos passados.
Um certo ar de decadência permeia as tardes Buzianas...um
conhecido ex político, recém saído da praia e sem camisa, estaciona o carrão em
cima da calçada. Sem sucesso o guarda municipal tenta convencê-lo que o lugar não
é o mais adequado, ao mesmo tempo, do outro lado da rua, uma veterana atriz de
novela cambaleia com um copo na mão ,balbuciando ideias vagas no celular. A
seguir, um grupo de empresários à procura de um negócio, ciceroneados por
políticos, para ver se levam alguma vantagem na compra de terrenos ou legalização de futuros empreendimentos. Na praça do Centro da Cidade, argentinos e chilenos começam a cantar e a
tocar guitarras e pandeiros. Europeus loiros, pele branca castigada pelo sol, rebolam e
depositam notas em uma cesta, pronta para coletar dinheiro.
Quando todo este circo é registrado... Na sexta-feira a
ansiedade de todos para ver seus retratos, fazendo caras e bocas, seus 5 minutos
de fama no jornal O Peru Molhado. Neste atrativo, interesses políticos incentivarão a montar outros jornais. Em Búzios, quando alguém se aborrece politicamente, e quer
desacreditar, esculhambar, fazer intrigas ou promover-se, cria um novo jornal. Não se noticia absolutamente nada, se copiam uns aos outros.. Quando caem de pau em outro jornal, referem-se a ele assim: um certo tabloide
publicou que fulano enganou sicrano e era cúmplice de beltrano. Um estilo policial, mais para boletim de ocorrência do que
para jornal.
Porque essa obsessão em querer montar outros jornais em
Búzios... Isso se deve ao fato de compensar o atraso cultural da
cidade, será... Já que somos histórica e hereditariamente ignorantes ... O Brasil foi o penúltimo país do mundo a conhecer a
imprensa... Chegou aqui com a família real portuguesa em 1808, enquanto
no México e outros países da América do sul já existia desde meados do século XVI.
Há
trinta e três anos fui testemunha do primeiro jornal de Búzios. Acompanhei e vi proliferarem
outros ...
Isto me deu experiência. Acredito, por isso, estar capacitado para ensinar como montar um
jornal ou revista em Búzios.
A primeira parte: Qual é a linha do jornal que você quer
fazer...
Vamos escolher o nome. Se quer que seja bizarro, pode ser...
GATO ESCALDADO . Se quiser expor suas críticas,
O BAIACU. O nome diz tudo, peixe conhecido na região por seu veneno. Se procura um estilo ecologista, O JARDIM DAS DELICIAS. Se
for linha populista, O REGIONAL, LIBERDADE DE EXPRESSÃO, O OPERÁRIO BUZIANO... Estes nomes
dão um certo clima social. O nome do jornal deve estar sempre acompanhado de frases
tipo “Este jornal só diz a verdade”, “Um jornal que busca credibilidade”, “O
povo quer saber a verdade”. Estas frases demagógicas funcionam muito bem .
A segunda parte: Como manter o jornal e se manter.
Procure um restaurante e uma lanchonete. Atenção. Elas têm
que ser novas, porque as antigas O Peru Molhado já detonou. Veja se tem movimento. Bajule o
dono. Fale bem do negócio. Faça com que eles estejam sempre em evidência e ai garantirá sua comida diária...Se tiver
uma colunista não deixe que ela atrapalhe seu rango. Para não dar bandeira,
faça um aperitivo antes para dissimular na hora de comer. Sua sobrevivência
estará garantida até o dono ficar de saco cheio. Procure um senhor aposentado
com certa credibilidade para falar de coisas amenas. Escolha um padrinho
político com grana, deixe-o escrever qualquer estupidez. incentive-o. Faça-o
crer que vai estar sempre ao lado do poder.
A parte mais difícil é como conseguir o anúncio da
Prefeitura que é o que irá garantir a impressão da gráfica.
Descubra um funcionário público, aquele
que sopra e morde. Figura conhecida que não
esteja satisfeito com o governo. Faça
uma matéria expondo os problemas mas de leve. Quando tentarem falar mal do prefeito, recue. Faça-se
de ofendido. Esta aí a isca para pescar o anúncio.
Esteja em todas as festas e tire fotos dos emergentes. Procure
fazer com que eles sejam retratados ao lado de políticos para dar mais
credibilidade e vender as fotos por fora.
A parte religiosa e fácil: copie alguns Salmos e convide qualquer
pregador para assinar.
Como hoje tratar de assuntos ecológico dá Ibope, procure um
cara bem chato e deixe-o à vontade. Ele tem que ser contraditório e radical. Um
sujeito que agrade as famosas Balzaquianas reclamonas da cidade. Ai você terá um perfeito ecologista
cara de pau. Mas preste bem atenção no texto antes de publicar. Se ficar
se lamuriando o tempo todo que está faltando verde, que o verde está acabando... Cuidado...
O leitor pode interpretar que está se referindo ao verde Americano.
Elogie sempre quem
tem grana. Concorde e diga que ele sempre está certo. Fotografe-o com a família... Essa técnica deve ser muito usada. Ai você vai ver como pingam uns trocados.
Como um almoço de domingo.
Quanto a parte sensual, sempre que fotografar uma mulher de biquíni ou
semi-nua certifique-se de que ela não tenha noivo, marido ou amante. E
muito perigoso. Você pode correr o risco de levar uns tapas. Ou ir parar no
hospital. Fatos já acontecidos, com fotógrafos e editores...
Quanto a Revistas é muito mais fácil. Basta tirar fotos
bacanas das praias, usar alguns textos lights, puxar bastante o saco do Secretário de Turismo e coloca--lo
sempre em evidência.
Finalmente, procurar uma associação e divulgar o seu trabalho. Como é mais econômico que gastar em folder, a revista terá
sua distribuição paga e garantida, ainda irá parar em todos os eventos. Peça
para seus amigos que elogiem bastante seu trabalho. Mande e-mails com nome
falsos de outras cidades.
Depois de seguir estes requisitos você se tornará um novo CHATEAUBRIAND. De Búzios...Bem vindo à imprensa
local...Boa sorte...
THOMAS SASTRE
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