|
Thomas Sastre |
Quem poderia imaginar que nos anos 70 em plena ditadura, um
vilarejo de pescadores, praias desertas, paraíso para todos, uma pequena
comunidade de poucas famílias, poucas casas de veraneio, e com um acesso
difícil de se chegar do Rio de Janeiro:- sem nenhuma infraestrutura... Ricos
brincando de pobre, pequenos aviões que desciam numa pastagem perto da praia de
Geribá e que onde hoje é a Marina, se poderia viver e desfrutar de harmoniosa
convivência entre nativos e visitantes.
E era uma alegria se viver com simplicidade.
Estou me referindo à Aldeia de Armação dos Búzios...Virar
assim rapidamente um caldeirão político em plena Democracia, apenas por um
néscio e contraditório poder.
Escrever certos pensamentos, evita estar em depressão
constante, acalma o medo de que as pessoas se cansem da democracia, joguem tudo
de vez num buraco: e o último a sair que apague a fogueira...
Um estado deficiente, partidos políticos que não se
entendem. Toda esta deficiência dá origem a um poder paralelo: que nem sempre é
dentro da lei.
Sem nenhuma perspectiva, por falta de assessoria e de
cultura política transparente, incentivados por políticos que na maioria das
vezes, ou por não saber exercer sua função ou pouco se importando com as
críticas dos opositores, prefeito e vereadores acreditam que podem criar um poder paralelo que lhes dê
segurança, sem medo algum, e que com estas atitudes se cria uma sociedade
catatônica, paralisada, lesada.
Na maioria das vezes a sociedade recorre ao judiciário para
questionar licitações aprovadas em beneficio próprio, mas são distorcidas em
defesa, como um ¨Bem¨ para a população, alegando seu status e respeito de
autoridade.
A partir da emancipação, Armação dos Búzios carregou em seu
curriculum político, uma lista de vereadores, prefeitos, secretários,
condenados pela justiça.
Em sua defesa a mesma estória: tentam provar que agiram
assim pelo ¨Bem¨ da cidade.
Fazendo uma análise mais profunda sobre o sentido do Bem, o
escritor russo Fedor M. Dostoievski descreve em sua obra literária ¨Crime e Castigo¨
o questionamento do que será o Bem e o que será o Mal!
Não tinham muitos daqueles condenados a cárcere revelado que
haviam agido por mal; não tinham mostrado a necessidade imperiosa em que se
sentiram de praticar determinado ato, considerado delituoso pela urgência de
remover certos obstáculos imprescindíveis à própria existência. E não se mostravam criaturas tão superiores e
compreensivas, e, foram julgados como tal. Poderia ter sido um ¨Bem¨
concorrendo para o equilibro da ordem humana....
A história se repete ao querer estar sempre removendo certos
entraves, deturpando a interpretação da lei.
O desentendimento entre o prefeito e seu vice que tomou
conta dos noticiários policiais do País é bem sugestivo para entender como se
interpreta politicamente o Bem da cidade.
O prefeito viaja e não quer o vice ocupando sua cadeira,
recorre aos vereadores de sua bancada que lhe dão plenos poderes a ponto de
atropelar a constituição, em sua defesa pelo ¨Bem¨ da cidade.
Assessores e vereadores a serviço do prefeito com suas
mentes cheias de leitura mal digerida, vendo-se em situação precária,
raciocinam da seguinte forma: o vice não pode assumir, apesar do judiciário ter
dado parecer a seu favor, o que fazer? A população, jornais e o judiciário a
favor da Democracia querem que se cumpra a lei.
Já que não podemos tirar proveito desta situação, só nos
resta desacreditá-lo, tudo depende de um gesto; uma pedra no caminho, a
justiça, mas nós somos mais fortes, temos o poder em nossas mãos.
Confundiremos
a justiça, atacaremos sua integridade desacreditando-o e estará o fato
consumado. Agimos como os fortes, como os conquistadores. Pois, enquanto não
está dando certo, a lei está do seu lado.
Começa o suplício, o remorso, o arrependimento? NÃO, ninguém
se arrepende, eles acreditam que estão fazendo para o ¨Bem ¨da cidade.
O que os afligem é a ideia e a incerteza dos motivos pelo
qual agiram assim, a ponto de querer mudar a constituição vigente no País.
Seria mesmo visando o Bem que praticaram o Mal para
experimentar a própria força?
O governo não consegue mais justificar-se perante a sua
consciência. Teoricamente estava tudo certo mas a teoria falhou na prática.
Quando o propósito é destruir a reputação foram obrigados a
mudar de tática. Procurar na secretaria de Meio Ambiente algum crime
relacionado ao vice prefeito e encontrar alguma prova para acabar de vez com
sua credibilidade.
Nesta luta contra o tempo se está vendo que o plano pode dar
errado de novo. Acabam se desconcertando, e quem presumia ser um super-homem,
está se transformando em joguete das situações.
A vida no seu curso vertiginoso e inconsciente escapa à toda
logica.
Quando se pretende fazer o Bem, vem-se a fazer o Mal, e um
crime determina outro, num desencadear incorrigível de forças.
Não teria acontecido o mesmo com tantos conquistadores e
governantes que perderam seu poder pela avalanche que eles mesmos provocaram.
Assim o governo vai ter que compreender que na verdade não
há super-homens, todos são mesquinhas criaturas escravas da condição humana.
Se quiseram valer-se arbitrariamente, como se não bastasse
este desgaste político, e recentemente apresentaram proposta para mudar o
gabarito da lei do uso do solo, para beneficiar um sujeito inescrupuloso. A
Câmara retirou de pauta esta aleivosia.
Está se perdendo a partida, esforçam-se para abafar por meio
do raciocínio a revolta da consciência.
Insistem na certeza de que afastando o vice prefeito não
estão cometendo crime algum. Mas isto não lhes basta para libertá-los do
sentimento de culpa.
Atraídos por uma espécie de imã irresistível, até suscitar a
desconfiança do judiciário.
O Juiz, senhor da situação, prevê matematicamente que
aqueles tristes seres humanos acossados pela consciência, se retratarão perante
a opinião pública, quiçá motivados pelo evangelho à procura de paz e aí
entenderão que quando pecamos contra a lei moral destruímos as nossas vidas.
É preciso sofrer e curvar-se ao castigo. Só a penitencia
resgata a culpa e poderá salvar os que se encontraram com Deus.
Viria o prefeito, a ter a revelação de seu destino cristão,
convencendo-se afinal que na sua derrota estava sua vitória.
O romance terminou, o debate filosófico ficou em suspenso;
tentar afastar o vice prefeito com intrigas de romance policial, tentar mudar
leis municipais para beneficiar a vaidade de gente que visa seus próprios
interesses; querer caçar o mandato de vereador, me parece que é uma forma
primária de uma ingenuidade terrível.
Aqueles eleitores que apostaram em mudanças, continuam
assistindo os mesmos vícios dos governos que passaram.
Como diz Rita Lee em sua música, jocosamente falando, TUDO
VIRA BOSTA.
Thomas Sastre