Presidente exigiu interferência da PF para proteger o filho Zero Dois. Foto: Sergio LIMA/AFP |
Inquérito
sigiloso que apura fake news no STF chegou ao vereador, apontado como
mentor do chamado gabinete do ódio
Sergio
Moro não
mencionou em vão, em seu discurso de despedida, o incômodo do
presidente Jair
Bolsonaro com
inquéritos específicos em tramitação no Supremo Tribunal Federal
(STF). Interlocutores do ex-juiz da Lava-Jato informaram a VEJA que a
gota d’água para o pedido de demissão de Moro foi o fato de
Bolsonaro exigir que a Polícia Federal e o ministro da Justiça
dessem um jeito de segurar uma investigação que aponta para a
participação do vereador Carlos
Bolsonaro em
um esquema de ataques virtuais a autoridades e propagação de fake
news.
Nos
últimos dias, Bolsonaro recebeu informações de que o inquérito
sigiloso que apura fake news e ofensas contra autoridades, tocado
pelo ministro Alexandre de Moraes no STF, obteve indícios
contundentes do envolvimento do vereador Carlos, o filho Zero
Dois e apontado como criador do chamado gabinete do ódio — um
grupo que usaria as dependências do Palácio do Planalto para
promover campanhas virtuais contra adversários do governo. Mais que
isso: os investigadores colheram elementos sugerindo que essas são
financiadas por empresários ligados ao presidente.
“A
água está subindo”, disse o diretor-geral da Polícia Federal,
Maurício Valeixo, para Moro, se referindo ao inquérito,
conduzido pelo ministro Alexandre de Moraes, mas que tem na linha de
frente um delegado da Polícia Federal, responsável pela parte
operacional como levantamento de dados, quebra de sigilos telemáticos
e bancários.
Interesses
políticos
O
presidente tentava cotidianamente receber informações de Maurício
Valeixo sobre o andamento das investigações e era ignorado. O
diretor-geral da PF acabou exonerado nesta quinta-feira (23). Moro
também se recusava a interferir no caso. Ao anunciar seu pedido de
demissão, o ministro denunciou a interferência do presidente da
República na Polícia Federal. Bolsonaro, segundo ele, queria
colocar uma pessoa de confiança para ter acesso a informações e
relatórios de inteligências de investigações em andamento.
“O
presidente me disse mais de uma vez expressamente que ele queria ter
alguém do contato pessoal dele, que ele pudesse ligar, que ele
pudesse colher informações, que ele pudesse colher relatórios de
inteligencia, seja diretor ou superintendente. E realmente não é o
papel da Polícia Federal prestar esse tipo de informação. As
investigações têm que ser preservadas”, disse Moro.
Fonte: "VEJA"
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