Charge: Latuff |
Uma exposição de charges foi
suspensa ontem na Câmara de Vereadores de Porto Alegre. Em um dos
trabalhos, o presidente Jair
Bolsonaro está ajoelhado, lambendo os sapatos do presidente
norte-americano Donaldo Trump.
A exposição "Independência
em Risco" começou na segunda-feira (2) e foi montada em uma
área de circulação da Câmara de Vereadores de Porto Alegre.
Reunia 36 trabalhos de 19 autores. Mas a exposição não durou 24
horas. No dia seguinte, a presidente do legislativo municipal, Monica
Leal (PP), decidiu suspender o evento sob alegação de que os
trabalhos eram ofensivos.
"Eu recebi uma ligação de
que a exposição tinha caráter ofensivo. Eu saí do meu gabinete e
fui conferir. Fiquei chocada, surpresa com a charge do presidente
Bolsonaro beijando botinas do Trump ou do presidente Trump defecando
na embaixada do Brasil. Isso não pode acontecer. Temos que se pautar
no respeito, na razoabilidade", disse Monica.
A vereadora
afirma que, no pedido para reserva do espaço, foi encaminhada uma
imagem diferente das apresentadas. "Estamos numa época que o
exercício da liberdade da expressão se banalizou de uma maneira,
mas não posso permitir que um lugar público, que é de todos,
mostre, sirva de palco para exposição ofensiva", disse Monica.
O vereador Marcelo Sgarbossa
(PT), que solicitou a reserva do espaço, negou que as peças tenham
caráter ofensivo. "Óbvio que não pode divulgar coisas que
afetem a dignidade. Mas não é ofensivo, ali tem crítica política,
da subserviência de Bolsonaro a Trump. Não tem nada que fere
valores íntimos, religiosos, de sexualidade. É uma crítica
política", afirmou o vereador.
Sgarbossa diz que a presidente da
Câmara foi arbitrária ao suspender a exposição. "Ela está
alegando que não tinha conhecimento de todos os trabalhos. O fato de
ter que saber antes o que estão divulgando já é um problema, de
querer funcionar como censora. Ela se auto-proclama como a pessoa que
pode dizer o que pode ser visto e o que pode não ser visto na
Câmara".
A presidente do legislativo
municipal afirmou que na manhã de hoje levou o assunto para a mesa
diretora, composta de outros seis vereadores e que todos concordaram
com a decisão. Entretanto, Sgarbossa salientou que a mesa diretora é
composta apenas por partidos de situação, sem contar com
representantes da oposição.
O vereador do PT espera que seja
revista cancelamento da exposição, que iria até 19 de setembro.
Entretanto, Monica nega que isso irá acontecer. "A decisão
está tomada e não volto atrás", complementou a vereadora.
Responsável pela exposição, o
presidente da Grafistas Associados do Rio Grande do Sul (Grafar),
Leandro Bierhals, considerou o cancelamento como uma forma de
censura. "As nossas charges não são ofensivas, mas são
reflexos da realidade. O que a gente faz com a charge é uma
crítica."
A suspensão da exposição de
charges ocorreu menos de dois anos depois do cancelamento da
Queermuseu, no Santander Cultural, também em Porto Alegre. Na época,
algumas imagens também foram consideradas ofensivas. O banco decidiu
suspender a mostra após receber mensagens argumentando que as obras
incentivavam à pedofilia, zoofilia e era contra os bons costumes. O
curador da mostra Gaudêncio Fidelis, negou essa conotação.
Fonte: "entretenimento"
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