Caderno de Teses do PT |
As
diversas correntes políticas do PT apresentaram nove teses para
serem debatidas no 7º congresso do partido que foi realizado ontem
(8). Por incrível que pareça em nenhuma das teses encontramos a
menor autocrítica a respeito da participação do partido nos
malfeitos cometidos no imenso
esquema criminoso de corrupção envolvendo a Petrobras, o chamado
Petrolão. A duas únicas chapas que falam brevemente em “combate à
corrupção” são as chapas “RENOVAÇÃO
E SOCIALISMO”
(TESE
270)
e “Repensar
o PT, para enfrentar o retrocesso, defender a democracia e os
direitos do povo”
(TESE
230).
A
primeira, representada por Silvana
Donatti, Sheila
Oliveira e
Tiago Soares, e que tem em sua nominata a participante do PT de CABO
FRIO RIVAILDA MARIA DE OLIVEIRA, defende que, para reconquistar a
confiança e esperança no PT pela maioria do povo brasileiro, é
preciso voltar “com os costumes éticos que caracterizaram o PT
como campeão da luta contra a corrupção”. A segunda,
representada por Jacy Afonso, Ricardo
Berzoini e
Letícia Espíndola, defende o “combate à corrupção dentro da
lei, sem pirotecnia e conspiração”.
As
outras 7 chapas não tocam no assunto, o que indica que a bandeira da
“ÉTICA NA POLÌTICA”, defendida nos primórdios do partido,
deixou de ser objetivo central e permanente como defendido por Lula
em seu discurso de posse no Congresso Nacional no dia 01/01/2003:
“O
combate à corrupção e a defesa da ética no trato da coisa pública
serão objetivos centrais e permanentes do meu governo.
É preciso enfrentar com determinação e derrotar a verdadeira
cultura da impunidade que prevalece em certos setores da vida
pública. Não permitiremos que a corrupção, a sonegação e o
desperdício continuem privando a população de recursos que são
seus e que tanto poderiam ajudar na sua dura luta pela
sobrevivência”. (Discurso de Lula no Congresso Nacional. Folha
Online, 01/01/2003)
Mesmo
assim, os autores das duas teses citadas não reconhecem que os
desvios éticos do partido tenham contribuído para alimentar o
antipetismo, um dos principais fatores que levaram à eleição de
Bolsonaro. Para as demais chapas, as razões da derrota passam longe
dos malfeitos cometidos pelo partido e denunciados pela Operação
Lava Jato. Elas se devem basicamente, segundo seus representantes, à
politica de conciliação de classes adotadas durante os governos
Lula/Dilma ou ao afastamento do partido das bases populares,
privilegiando a luta institucional.
CHAPAS
QUE APONTAM COMO RAZÃO DA DERROTA A POLÍTICA DE CONCILIAÇÃO DE
CLASSES
A
Chapa RESISTÊNCIA
SOCIALISTA
(TESE
200),
representada por Paulo
Teixeira, Paulo
Pimenta e Camila
Moreno,
em cuja nominata participam JOSE
LUIZ FERREIRA GOMES ALVES, LUIZ
HENRIQUE GOMES ALVES, RENATA DA COSTA TORRES de Rio das Ostras e
RHAYANE
CRUZ DE SOUZA de Cabo Frio, atribui a responsabilidade pela derrota
do partido nas eleições às “ações ilegais da Lava-Jato, as
fraudes das fake news, ao envolvimento de igrejas cristãs
conservadoras na disseminação de mentiras e preconceitos e a
ausência de debate no segundo turno” e ao “lulismo” que
acreditava em “conciliação
de interesses de classe contraditórios,
avanços sociais sem
rupturas
e amplas
alianças sociais e partidárias”
como método de governo e relação com a institucionalidade”, o
que levou à acomodação da maioria do partido, que “perdeu sua
radicalidade e seus vínculos organizados com o movimento real de
massas”.
A
Chapa “Diálogo e Ação Petista” (TESE
210), representada por Markus
Sokol, Luiz
Eduardo Greenhalgh e Misa Boito, credita ao “aliancismo
conciliador, sem-porteira e sem critério” a derrota.
A
chapa “Em
tempos de guerra, a esperança é vermelha”
(TESE
220),
representada por Natália de Sena, Valter
Pomar e
Patrick Campos Araújo, de cuja nominata participa MARCEL
SILVANO DA SILVA SOUZA de Macaé, propõe que o partido se liberte
“de
todas as ilusões”. “A ilusão dos que acreditavam que se a
esquerda desistisse
da revolução
e do poder, a direita desistiria dos golpes e das ditaduras
militares. Que se desistíssemos
da expropriação dos capitalistas,
estes aceitariam a distribuição de renda e poder. Que se
deixássemos
de lado o anti-imperialismo,
os EUA e seus amigos aceitariam a integração regional e
respeitariam nossa soberania. Que se a esquerda fosse a campeã
do republicanismo
e do “estado
de direito”,
o outro lado abriria mão do “estado da direita”. Para os membros
da chapa, parte da esquerda brasileira deixou o socialismo
na “fila de espera”.
A
chapa LULA LIVRE! FORA BOLSONARO! GOVERNO DEMOCRÁTICO E
POPULAR! (Tese 290),
representada por Carlos
Árabe, Renato
Simões e Vilson
Oliveira
e
ANNY RODRIGUES FIGUEIREDO (ARMAÇÃO DOS BÚZIOS ) acredita que a
credibilidade dos partidos de esquerda foi abalada por seus erros,
“sobretudo os de conciliação com o neoliberalismo,
que não foram vistos como alternativas confiáveis para enfrentar o
austericídio que levou ao caos. De maneira mais ampla, as forças
políticas tradicionais se mostraram incapazes de oferecer resposta
aos problemas que se avolumavam. A combinação entre esses fatores
desaguou em uma crise civilizatória marcada por profunda
instabilidade política e desesperança, abrindo espaço para a
emergência da extrema-direita”.
“A
estratégia
meramente institucional,
nos marcos das brechas do atual sistema político, com programa
rebaixado e alianças
amplíssimas
com setores de centro e centro-direita, não foi capaz de deter o
Golpe de 2016 nem as fraudes eleitorais de 2018. Os dados apontam
inclusive para uma perda significativa dos votos do PT junto à
classe trabalhadora em grandes centros urbanos do país, e uma
crônica incapacidade de mobilização social dos segmentos populares
que dão sustentação eleitoral ao lulismo e ao petismo”.
A
chapa “Lula Livre
– Partido é para todos e todas”
(TESE 250)
, representada por Romênio
Pereira,
Marcos Lemos e Saulo Dias, acredita que o PT perdeu as eleições
porque
o
conjunto do partido incorreu em duas ingenuidades nesse
processo: 1) o “Republicanismo”. “Fomos
republicanos com quem não é e nunca foi republicano” (a mídia
monopolista, o judiciário, os serviços de inteligência, as forças
armadas e os aparatos de segurança, e o MP e grande parte da PF); e
2) “Outra ingenuidade é que acreditamos que bastava fazer política
sociais benéficas para a maioria da população e essa se manteria
conectada politicamente conosco. Não investimos na disputa de
valores e de cultura como deveríamos fazer, na disputa de hegemonia
de um novo bloco histórico”.
CHAPAS
QUE ATRIBUEM A DERROTA AO DISTANCIAMENTO DAS BASES DO PARTIDO
A
chapa “Na
Luta, Ruas e Redes #LulaLivre”
(TESE
260)
, representada por Henrique
Donin,
Lourival Casula e Ricardo Hott Junior, e que tem na nominata os
seguintes participantes do PT da Região: ALEXANDRE
DE OLIVEIRA COSTA (
IGUABA
GRANDE), ANDRE LUIZ BERNARDES, CARINA DE ALMEIDA CUNHA, IZAIAS
PEREIRA DE ANDRADE, JOCIANA DA SILVA CONCEIÇAO, JOEIMARA DA SILVA
CONCEIÇAO, MARIA EDUARDA COELHO DANIELLI DE SOUZA, WANDER TEIXEIRA
CARDOSO ( ARARUAMA), CARLOS HENRIQUE CAMPOS TUCCI (ARMAÇÃO DOS
BÚZIOS), JOSE LEANDRO DE SOUSA OLIVEIRA FERNANDES DA SILVA, LUCIANA
AMARAL RAPOSO, PRISCILA SOARES SANTOS, RICARDO CARDOSO DOS SANTOS
(CABO FRIO), MARCOS VINÍCIUS SANTOS DE JESUS (MACAÉ), NAYENE
RODRIGUES DOS SANTOS, SERGIO RODRIGUES DOS SANTOS, SONIA MARIA
BITTENCOURT WALDSTEIN DE MOURA e YURI NUNES DO NASCIMENTO MATTOS (SÃO
PEDRO DA ALDEIA), afirma que o erro foi o distanciamento das bases.
“Nos
distanciamos
das bases
e perdemos apoio popular, sofremos rompimentos e rupturas políticas
infantis, privilegiamos adversários, flertamos com agendas liberais
e burocratizamos as relações internas partidárias, governamentais
e com os movimentos sociais, aparelhamos disputas pequenas, acúmulos
de erros táticos, de avaliação e de condução política,
equívocos à frente do Governo e do Partido que custaram nossa
capacidade de resposta e diálogo direto com parte da sociedade”.
A
chapa LULA
LIVRE PARA MUDAR O BRASIL!
(Tese
280),
representada por Gleide
Andrade,
Francisco Rocha e Mônica
Valente
e CARLOS
ROBERTO DA SILVA e PRISCILA
DA LUZ SILVA (Arraial do Cabo)
“Não
há contradição entre consolidar a unidade das esquerdas e, ao
mesmo tempo, buscar
alianças mais amplas, até com personalidades e setores de centro,
em prol do Estado de Direito e
de outras causas como a defesa da Universidade Pública ou o combate
à homofobia.
Sem
falar, naturalmente, na luta pela liberdade de Lula, crucial para a
recuperação da plena democracia
no país, que exige a máxima amplitude social e política. Sempre
que for possível articular
frentes mais amplas em torno de bandeiras democráticas, agregando
forças e personalidades
que se opõe ao Estado Policial, à perda da soberania nacional e à
eliminação de direitos
sociais, devemos nos empenhar para construí-las e fortalecê-las.
Na
resistência ao governo
de extrema direita a mobilização massiva da sociedade é
imprescindível, sem prejuízo da
batalha institucional. No processo de acumulação de forças para
retomarmos nosso projeto transformador,
o PT deve reafirmar a sua estratégia de maioria, um dos
elementos-chave (desde
o “Manifesto de Fundação”) do ideário do partido”.
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