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Em menos de 10 anos tivemos três recadastramentos na Saúde de Búzios. O primeiro, realizado durante o governo Toninho, ocorreu entre setembro e novembro de 2006. O segundo, durante o 3º governo Mirinho, no mês de agosto de 2010. E, o terceiro, no 1º governo André, iniciou em 11 de agosto de 2014 e terminou no dia 31 de maio de 2015.
Partindo-se
da premissa de que há um inchaço no cadastro de usuários da Saúde
do município, porque pessoas egressas de municípios vizinhos
estariam usando nossos serviços de saúde, o governo justifica a
realização do recadastramento como forma de colocar um freio nesse
uso para que apenas os residentes da cidade tenham atendimento
ambulatorial e de exames. Como o atendimento de risco (emergência)
não pode ser negado a ninguém, morador ou não, ele continua
ocorrendo apenas no hospital.
Uma
suposta superlotação das unidades de saúde municipais estaria
impossibilitando a prestação à população local um atendimento de
qualidade. Por esse motivo estariam faltando remédios, o atendimento
médico seria deficiente e a realização dos exames demoraria mais
tempo do que o necessário.
1º
Recadastramento
Para
justificar o primeiro recadastramento, o Sr. Oto Vieira,
administrador da Policlínica, declarou à repórter do jornal
Primeira Hora Maria Fernanda Quintela que foram “contabilizados 24
mil prontuários de família, o que aponta que atendemos cerca de 70
a 80 mil pessoas, quando nosso município possui em média 25 mil
habitantes” (JPH, 28/10/2006). Mesmo que, em outra declaração à
imprensa, a diretora da Policlínica, Daniela Alvarez, fale em
outros números, eles não foram questionados. Em matéria do jornal
O Perú Molhado (OPM), a diretora Daniela afirma que “no cadastro
disponível, que é do tempo em que o município ainda não havia se
emancipado, constariam 15 mil famílias” (OPM, 22/09/2006). Note-se
que há uma diferença entre os números apresentados pelo Sr. Oto e
a Drª Daniela de 9 mil famílias, com certeza mais de 27 mil
pessoas, levando-se em conta, por baixo, que cada família é constituída por três pessoas.
Mesmo
aceitando-se os números apresentados pela diretora Daniela de que 15
mil famílias estavam cadastradas no sistema de Saúde de Búzios,
chegaríamos ao estratosférico número de 45 mil pessoas
cadastradas.
Exibido
estes números absurdos, não se sabe tirados de onde, fica fácil
jogar nas costas dos outros a responsabilidade pela má gestão da
Saúde Pública municipal:
“Estamos
atendendo famílias inteiras de outros municípios com gastos enormes
para nosso orçamento... Não podemos ser responsabilizados pela má
gestão de outros municípios, cada um que faça sua parte e não
sobrecarregue nossa cidade” (Daniela Alvarez, OPM, 28/07/2006).
2º
Recadastramento
No
governo seguinte, de Mirinho, menos de quatro anos depois, novo
recadastramento é feito. A responsável por ele, Drª Luíza
Andrade, garante que há mais de 32.000 pessoas cadastradas na
Policlínica, para uma população estimada pelo IBGE de 27 mil
moradores. Considerando que nem todos os buzianos foram cadastrados,
teríamos mais de cinco mil pessoas de outros municípios usando
nossos serviços de saúde.
Aceitando-se
como verdadeiros os números apresentados pela diretora Daniela e Drª
Luiza, o 1º recadastramento conseguiu reduzir o cadastro de 45 mil
para 32 mil pessoas. Mesmo assim ainda continuaríamos com um excesso
de pelo menos 5 mil pessoas de fora do município. O que demonstra
que a diretora Daniela não comprovou os domicílios declarados no
recadastramento como prometera.
Como
a responsável pelo recadastramento anterior, Drª Luiza também
exime a gestão municipal pela qualidade da Saúde oferecida à
população buziana:
“Há
muitas pessoas que não são do município, mas vêm utilizando os
serviços da saúde municipal, o que provoca superlotação e impede
um atendimento a contento da população local”. Segundo a médica,
muitos pacientes que não são do município têm conseguido aqui
exames de alta complexidade e assistência mais rápido do que nos
municípios de origem. Usam endereços falsos”.
(Tribuna dos Municípios, 12/08/2010) .
Para
Drª Luíza, o recadastramento anterior feito na Policlínica não
conseguiu eliminar os não moradores do cadastro da Saúde de Búzios
porque “quando damos um determinado local para cadastramento,
qualquer pessoa pode ir dando um endereço e na verdade não ser
morador de Búzios” (Drª Luíza Andrade, Secretária Adjunta da
Secretaria Municipal de Saúde de Búzios, Jornal O Pescador,
27/04/2009).
Justificou
assim um novo recadastramento em que profissionais de saúde irão de
casa em casa fazer os cadastros, verificando se realmente as pessoas
moram no município. “Através de visitas domiciliares que serão
realizadas pelos agentes comunitários em todos os bairros da cidade,
pelo Programa Saúde de Família -PSF- a secretaria de Saúde
pretende cadastrar cada cidadão buziano. Cerca de trinta agentes
comunitários de saúde farão as entrevistas e a expectativa é de
que em 90 dias todos os buzianos tenham sido ouvidos" (Publicado em
11/08/2010, Comunica Búzios). Segundo a secretária adjunta “essa
foi a melhor forma que encontramos para que possamos realmente
atender apenas nossos moradores” (idem).
Como
até então a cidade não tinha um prontuário único, não se sabe
por que, a secretária afirmou que vai aproveitar o recadastramento
para unificar o cadastro de todas as unidades de saúde do município.
3º
Recadastramento
Se
forem verdadeiras as informações do atual secretário de Saúde Drº
Waknin, o 2º recadastramento realizado na gestão anterior pela Drª
Luíza foi um fracasso total, pois o número de pessoas cadastradas no
sistema de saúde de Búzios deu um salto de 32 mil (em 2010) para 42
mil (em 2014).
Em
depoimento à Câmara de Vereadores no dia 7 de março de 2017, disse
que “de acordo com o último senso (sic) realizado pelo IBGE Búzios
tem 32 mil habitantes. Só que temos 42 mil pessoas cadastradas
nos sistema da prefeitura, o que mostra que ainda tem pessoas que não
são de Búzios usando irregularmente o sistema de saúde dos
buzianos”. (Site prensadebabel).
Com
esse números que ninguém sabe de onde vieram, justifica-se um novo
recadastramento iniciado em 11 de agosto de 2014. Abandona-se o
formato anterior em que se ia de casa em casa cadastrando os
moradores e volta-se ao formato antigo com os moradores se deslocando
a um local determinado para fazer o recadastramento. Os moradores dos
bairros que possuem PSFs (São José, José Gonçalves, Cem Braças, Baía Formosa, Brava, Vila Verde, Capão e Rasa) fizeram
o recadastramento nos próprios PSFs. Aqueles residentes em bairros
que não possuem PSFs - Manguinhos,
Ferradura, Tartaruga, Geribá e Marina- fizeram seu recadastramento
na Policlínica. Não se sabe se o prontuário único prometido pela
Drª Luíza está sendo aproveitado. Não se sabe nem mesmo se ele
ficou pronto. Nada é público.
No
atual governo parece que o recadastramento também não surtiu seus
efeitos pois, sob o mesmo pretexto de barrar o uso de nosso sistema
de saúde por moradores de muncípios vizinhos, o hospital foi
fechado em 22/10/2016 para atendimento de urgência. Segundo Drº Waknin “o
objetivo da medida era e ainda é frear o número de atendimento de
moradores de outras cidades com comprovante de residência fraudado,
e ainda ressaltou que atendimentos de risco não tem necessidade de
recadastramento por se tratar de atendimento de emergência, que
ocorre no hospital, onde não se pode negar atendimento”.
O
pronto atendimento (urgência),
segundo a Prefeitura, passou a ser feito somente no Posto de Urgência
(PU) da Policlínica de Manguinhos.
Conclusão
Curioso
como eu só, e desconfiado desses números exibidos pelos sucessivos
governos municipais, resolvi dar uma navegada pelo excelente DATASUS,
site do Ministério da Saúde. No Sistema de Informação da Atenção
Básica (SIAB) estão disponíveis o número de pessoas e de famílias
cadastradas no sistema de Saúde de Búzios. Os dados são recolhidos
das unidades de saúde de família nos bairros (PSFs).
Em
2006, tínhamos 17.416 pessoas (5.086 famílias) cadastradas nos PSFs
dos bairros. Como os bairros de Geribá e Manguinhos- os que contam
com o maior contigente populacional do município- não possuem PSFs,
deve-se acrescer a estes números mais ou menos 30% correspondentes à
sua população: 5.224 moradores (1.525 famílias). Considerando que
estas pessoas/famílias estivessem cadastradas na Policlínica
teríamos um total de 22.640 pessoas (6.611 famílias). Por sinal,
número bem próximo da população estimada pelo IBGE para o ano de
2006: 23.874 moradores.
Não
dá para aceitar os números, tirados não se sabe de onde, do Sr.
Oto e da Drª Daniela, 24 mil e 15 mil famílias, respectivamente.
Em
2010, segundo dados do SIAB, tínhamos 20.662 pessoas (6.278
famílias) cadastradas nos PSFs. Acrescidos os trinta por cento da
população de Manguinhos/Geribá também chegaríamos bem próximo da
população estimada pelo IBGE para esse ano: 27.538 moradores.
Em
2015, tínhamos 21.106 pessoas cadastradas nos PSFs. Se o cadastro
foi unificado, como garantiu a Drª Luíza, já estaria incluído
nele os 30% oriundos de Manguinhos/Geribá.
PELA
REABERTURA IMEDIATA DO HOSPITAL
Nada
justifica o fechamento do hospital. Nem mesmo os números. Segundo
dados extraídos dos PROCEDIMENTOS HOSPITALARES DO SUS, até setembro
de 2016, um mês antes do hospital ter sido fechado, não houve, de
forma alguma, uso excessivo da urgência do hospital por parte de
moradores de municípios vizinhos, que justificasse seu fechamento.
Vejam os dados:
Mês
- Ano – Internações – Urgência - Eletivos
Janeiro 2016 84 68 16
Fevereiro 2016 84 66 18
Março 2016 73 54 19
Abril 2016 81 60 21
Maio 2016 63 47 16
Junho 2016 65 44 21
Julho 2016 85 52 33
Agosto 2016 85 55 30
Setembro 2016 90 56 34
Em
todo ano de 2016 (9 meses) foram internadas no hospital 710 pessoas
(78,8 por mês, em média) com 502 casos de urgência (55,8 por mês,
em média) e 208 casos eletivos. No ano anterior, 2015, a média de
internações foi de 75,6 por mês, muito próxima da média de 2016.
Em 2015, a média das internações por urgência de 58,4 por mês é
superior à média de 55,8 pelo mesmo motivo no ano passado. Se fosse
o caso de fechar o hospital, ele deveria ter sido fechado no ano de
2014 em que se iniciou o recadastramento, quando se bateu o recorde de
internações: 1.081 (90,1/mês): e de internações/urgência: 767
(64,0/mês).
Então
porque o hospital foi fechado? Os números que levantei do DATASUS me
permite lançar uma hipótese. A taxa de mortalidade hospitalar do
Hospital Rodolpho Perissé pode ser calculada dividindo-se o número
de internações pelo número de óbitos e multiplicando-se o resultado por 100. Assim, a taxa de
mortalidade hospitalar anual de 2016 (9 meses, até setembro) pode ser obtida dividindo-se o número de óbitos de 2016 (50) pelo número de
internações (710) e multiplicando-se o resultado por 100, o que dá a taxa de
7,04. Ou seja, de cada 100 pessoas internadas no nosso hospital em
2016, 7 morreram. Essa taxa vem aumentando desde 2012: de 2,64 passou para 3,88 (2013), 3,89 (2014) e 5,73 (2015).
No
ano passado (2016) morreram 5 pessoas por mês em média no nosso
Hospital. Em 2015, 4. Em 2014 e 2013, 3. Em 2012, 2. E ,em 2011, 3.
Agora,
se calcularmos a taxa de mortalidade hospitalar do Hospital Rodolpho
Perissé mensalmente no ano de 2016 até o mês de setembro poderemos
compreender os motivos que levaram o governo municipal a fechá-lo.
Vejamos.
Janeiro: 2,38 (óbitos: 2)
Fevereiro: 10,71 (óbitos: 9) (explica-se pelo carnaval)
Março: 9,59 (óbitos: 7)
Abril: 6,17 (óbitos: 5)
Maio: 7,94 (óbitos: 5)
Junho: 7,69 (óbitos: 5)
Julho: 3,53 (óbitos: 3)
Agosto: 4,71 (óbitos: 4)
Setembro: 11,11 (óbitos: 10)
Reparem
que a média do ano (5) dobrou no mês de setembro (10), mês anterior ao fechamento do hospital. Essa taxa de
11 mortos para cada 100 internados é inaceitável em qualquer país
civilizado do mundo. Todos os municípios, nossos vizinhos,
apresentaram taxas abaixo de 7, próximas às médias estaduais e
nacional. Cabo Frio, teve taxa de 4,27. Arraial do Cabo, de 5,45.
A
coisa era tão escandalosa que o município parou de enviar seus
dados para o DATASUS a partir desse mês de setembro. Não se sabe o que
ocorreu a partir de outubro de 2016, mês em que o Hospital Rodolpho
Perissé foi fechado. Boa coisa não deve ser. Arraial do Cabo, Araruama, Cabo Frio e Rio das
Ostras continuaram enviando seus dados normalmente até o mês de abril de 2017.
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Ernesto Medeiros É
no mínimo duvidoso, as informações. Mas, quem mais perdeu neste ultimo
foi os servidores, que segundo relato, pela primeira vez, tiveram
cerceados de acesso à policlínica municipal, segundo sindicato informou
em tribuna livre da Câmara, há algum tempo. Inadmissível, ser estes
administrados por um médico, numa administração que parece fechar os
olhos para o jargão : " Mais vale uma grama de prevenção , do que kg de
tratamentos.
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