A partir da posse como Prefeito do Município de Casimiro de Abreu de ANTONIO MARCOS DE LEMOS MACHADO, em janeiro de 2013, instalou-se na Câmara Municipal do Município um verdadeiro esquema do tipo “mensalinho”, no qual Antônio pagava mensalmente a sete dos nove Vereadores que compunham a Câmara (ADEMILSON AMARAL DA SILVA, vulgo “Bitó”, ALESSANDRO MACABU ARAÚJO, vulgo “Pezão”, ADAIR ABREU DE SOUZA, vulgo “Kinha”, JOÃO MEDEIROS NETO, LÁZARO SANTOS MANGIFESTE, LUIZ ROBINSON DA SILVA JUNIOR, vulgo “Juninho”, e ODINO MIRANDA DO NASCIMENTO) quantias em dinheiro para que estes “blindassem o Prefeito”, evitando Comissões Parlamentares de Inquérito, barrando requerimentos, além de fornecer sustentação política ao prefeito.
No
período compreendido entre janeiro de 2013 e abril de 2015, no
Município de Casimiro de Abreu, os sete vereadores receberam, para si,
em razão de suas funções de Vereadores do Município de Casimiro
de Abreu, vantagens indevidas oferecidas pelo então Prefeito de
Casimiro de Abreu ANTONIO MARCOS DE LEMOS MACHADO,
consistentes tais vantagens em importâncias mensais em dinheiro para
cada um dos referidos Vereadores, com a promessa de que estes,
formando maioria parlamentar na Câmara Municipal, pudessem, se
necessário, blindar o Prefeito.
ADEMILSON AMARAL DA SILVA, vulgo “Bitó”, ADAIR ABREU
DE SOUZA, vulgo “Kinha”, JOÃO MEDEIROS NETO e ALESSANDRO MACABU
ARAÚJO, vulgo “Pezão”, recebiam mensalmente a vantagem indevida
de R$ 10.000,00 (dez mil reais), valor que se devia ao fato de terem
sido reeleitos e já ocuparem o cargo de Vereador
Na
mesma sistemática delituosa, LUIZ ROBINSON DA SILVA
JUNIOR, vulgo “Juninho”, e ODINO MIRANDA DO NASCIMENTO, em razão
de estarem exercendo o primeiro mandato como Vereador, recebiam
mensalmente a vantagem indevida de R$ 7.500,00 (sete mil e quinhentos
reais).
Por
fim, LÁZARO SANTOS MANGIFESTE, em razão de ser
suplente de Vereador e somente ter assumido o cargo pelo fato de o
Vereador Eliezer Crispim ter se afastado de suas funções, recebia
mensalmente a vantagem indevida de R$ 5.000,00 (cinco mil reais).
Os
pagamentos ilegais acima descritos perduraram de janeiro de
2013 até abril de 2015, perfazendo 27 (vinte e sete
meses), somente sendo interrompidos quando várias gravações
de áudios sobre atos de corrupção envolvendo Vereadores do
Município de Casimiro de Abreu foram divulgadas pela imprensa.
Para
realizar os pagamentos das vantagens ilegais, o então Prefeito, ANTONIO MARCOS DE LEMOS MACHADO, socorreu-se, para o
aporte financeiro, de três empresários que à época possuíam
contratos com a Prefeitura de Casimiro de Abreu, quais sejam, WAGNER CARDOSO HERINGER, RICARDO MARTINS XAVIER e ELÍSIO
DA SILVA NOSSA NETO, os quais tinham total conhecimento de que o
dinheiro dado ao Prefeito ANTONIO MARCOS DE LEMOS MACHADO era
destinado ao pagamento do “mensalinho” dos Vereadores.
Os
referidos pagamentos de vantagens indevidas aos Vereadores, que, como
dito acima, perduraram por 27 (vinte e sete) meses, de janeiro de
2013 a abril de 2015, foram realizados ora pessoalmente por ANTONIO MARCOS DE LEMOS MACHADO, ora pelo chefe de
gabinete deste, JOÃO GILBERTO ASSUNÇÃO ALFRADIQUE,
vulgo “Mandizão”, ora pelos próprios empresários, WAGNER CARDOSO HERINGER, RICARDO MARTINS XAVIER e ELÍSIO
DA SILVA NOSSA NETO
WAGNER
CARDOSO HERINGER é sócio da empresa Construtora Heringer
Ltda, RICARDO
MARTINS XAVIER é sócio da empresa Xavier Box comércio de
veículos Ltda., e ELÍSIO
DA SILVA NOSSA NETO é empresário representante da empresa IGH,
do ramo de administração hospitalar.
No
depoimento prestado pelo réu colaborador ALESSANDRO MACABU ARAUJO,
constante do Apenso Sigiloso relativo à colaboração premiada, o
referido réu colaborador corrobora, com seu depoimento, as provas
constantes dos autos, sobretudo os áudios cuja transcrição consta
dos autos principais. Confira-se:
1)
Quanto mais mandatos o vereador possuía, maior era o mensalinho
ALESSANDRO
MACABÚ ARAUJO: Tem o áudio. Em relação ao que o senhor
acabou de me perguntar, nós ganhávamos um dinheiro mensal para
blindar o PREFEITO, contra CPIs, contra requerimento...
MINISTÉRIO
PÚBLICO: Nós quem? O senhor (XXX)
ALESSANDRO
MACABÚ ARAUJO: Nós, nós 7, os 7 que se elegeram junto com
ele. Os 7 da bancada do PREFEITO. (...)
MINISTÉRIO
PÚBLICO: E havia alguma diferença em relação a quem
recebia, quem já era VEREADOR e foi reeleito, quem estava assumindo
o primeiro mandato? Havia alguma diferença em relação aos valores
que eram pagos pelo PREFEITO?
ALESSANDRO
MACABÚ ARAUJO: Existia, a gente conversando...
MINISTÉRIO
PÚBLICO: Esse era o chamado MENSALINHO?
ALESSANDRO
MACABÚ ARAUJO: É, é, todo mês né? Chama MENSALINHO.
Havia entre nós, as conversas e de acordo com o depoimento dos
VEREADORES, inclusive na gravação o BITÓ já fala isso...
MINISTÉRIO
PÚBLICO: Eu vou passar pra gravação aqui, pro senhor
esclarecer a gravação, mas eu gostaria que o senhor dissesse assim,
o senhor disse quem recebeu, agora quanto recebia.
ALESSANDRO
MACABÚ ARAUJO: Tá, tá bom. Tá, então... eu, KINHA, BITÓ
e JOÃO, recebíamos 10 MIL.
MINISTÉRIO
PÚBLICO: Que eram os 3...
ALESSANDRO
MACABÚ ARAUJO: Os 4 que vinham de reeleição.
MINISTÉRIO
PÚBLICO: Reeleitos!
ALESSANDRO
MACABÚ ARAUJO: É... JUNINHO e ODINO recebiam 7 e 500.
MINISTÉRIO PÚBLICO: Primeiro mandato?
ALESSANDRO
MACABÚ ARAUJO: Primeiro mandato. E LÁZARO recebi 5 MIL
porque ele era suplente, então ele recebia um pouquinho menos, um
pouco menos. Isso era fruto de conversas entre nós.
MINISTÉRIO
PÚBLICO: Um pouquinho menos quanto?
ALESSANDRO
MACABÚ ARAUJO: 5 MIL.
MINISTÉRIO
PÚBLICO: Então os que foram reeleitos recebiam 10 MIL por
mês? ALESSANDRO MACABÚ ARAUJO: 10 MIL, isso.
MINISTÉRIO
PÚBLICO: Os que estavam em primeiro mandato, quanto?
ALESSANDRO MACABÚ ARAUJO: 7 e 500.
MINISTÉRIO
PÚBLICO: R$ 7.500, 00.
ALESSANDRO
MACABÚ ARAUJO: É.
MINISTÉRIO
PÚBLICO: E LÁZARO que na verdade era suplente e substituiu
ELIEZER?
ALESSANDRO
MACABÚ ARAUJO: 5.
MINISTÉRIO
PÚBLICO: R$ 5.000,00.
ALESSANDRO
MACABÚ ARAUJO: Isso.
MINISTÉRIO
PÚBLICO: Isso é mensalmente?
ALESSANDRO
MACABÚ ARAUJO: Mensalmente”.
2)
Formas de pagamento do mensalinho
MINISTÉRIO
PÚBLICO: Como que era feito esse pagamento?
ALESSANDRO
MACABÚ ARAUJO: Esse pagamento não tinha um critério exato
não, era assim, ligava: “Óh, vem pegar seu negócio aqui”.
MINISTÉRIO
PÚBLICO: Mas ele ligava? Assessor, quem é que ligava?
ALESSANDRO
MACABÚ ARAUJO: Quem, eu, eu, eu recebia das mãos do
PREFEITO, do MANDIZÃO e do WAGNER HERINGER.
MINISTÉRIO
PÚBLICO: Quem é esse, quem é MANDIZÃO e quem é WAGNER,
só pro senhor...
ALESSANDRO
MACABÚ ARAUJO: WAGNER HERINGER é o empresário, MANDIZÃO...
MINISTÉRIO
PÚBLICO: Então o próprio empresário dava nas mãos do
senhor o dinheiro?
ALESSANDRO
MACABÚ ARAUJO: É.
MINISTÉRIO
PÚBLICO: Esses 10 MIL.
ALESSANDRO
MACABÚ ARAUJO: É. Alternava, né? Às vezes eu pegava como
o WAGNER, às vezes eu pegava com... com o PREFEITO, e às vezes eu
pegava com o JOÃO GILBERTO, que a gente chama de MANDIZÃO. E não
tinha lugar e nem hora específica não, eles me ligavam: “Oh, vem
pegar seu negócio, aí eu ia ao encontro deles ou eles vinham ao meu
encontro.
MINISTÉRIO
PÚBLICO: Mas o senhor ia ao encontro deles aonde?
ALESSANDRO
MACABÚ ARAUJO: Não tinha um lugar, podia ser...
MINISTÉRIO
PÚBLICO: Num posto de gasolina?
ALESSANDRO
MACABÚ ARAUJO: ...eh, numa lanchonete, ele ia lá em casa,
“Oh, eu tô aqui em frente”...
MINISTÉRIO
PÚBLICO: Que lugares que foram que o senhor lembra?
ALESSANDRO
MACABÚ ARAUJO: Ah, eh, JOÃO GILBERTO já levou lá em casa
algumas vezes, já... na lanchonete, na beira, da beira da pista
também”
3)
Os empresários financiadores do mensalinho
MINISTÉRIO
PÚBLICO: Mas, isso só o WAGNER? Desculpa.
ALESSANDRO
MACABÚ ARAUJO: Que tinha, que tinha... contratos?
MINISTÉRIO
PÚBLICO: Não, só o WAGNER que tinha locação de máquinas?
ALESSANDRO MACABÚ ARAUJO: Só, locação de máquinas.
MINISTÉRIO
PÚBLICO: Que pagava o senhor, mas consta daqui da
investigação que haviam 2 outros empresários.
ALESSANDRO
MACABÚ ARAUJO: Isso. O outro, o... XAVIER, era locação de
carros. MINISTÉRIO PÚBLICO: RICARDO XAVIER?
ALESSANDRO
MACABÚ ARAUJO: É, locação de carros utilitários e carros
de passeio. MINISTÉRIO PÚBLICO: Mas o senhor não
pegava dinheiro...
ALESSANDRO
MACABÚ ARAUJO: Não.
MINISTÉRIO
PÚBLICO: ...com ele?
ALESSANDRO
MACABÚ ARAUJO: Não, nunca peguei. Com ele, não!
MINISTÉRIO
PÚBLICO: Mas ele pagava outros?
ALESSANDRO
MACABÚ ARAUJO: É, eu tô supondo, se o WAGNER me pagava,
ele devia pagar os outros e devia haver, a fazer uma, uma divisão,
entendeu? O, o XAVIER, inclusive, foi, não vamo falar do áudio
agora, né? Mas precisa falar, foi até o próprio BITÓ que levantou
o XAVIER, eu, eu recebia JOÃO, eh, JOÃO GILBERTO, uma poucas vezes
de ANTÔNIO MARCOS e WAGNER HERINGER.
MINISTÉRIO
PÚBLICO: Mas os outros VEREADORES diziam que recebiam do
XAVIER também?
ALESSANDRO
MACABÚ ARAUJO: De, de, falaram de diversos, e XAVIER, mas
uma grande maioria, era JOÃO GILBERTO que pagava.
MINISTÉRIO
PÚBLICO: Sei, mas, o XAVIER também pagava os outros
VEREADORES?
ALESSANDRO
MACABÚ ARAUJO: Ele falava que pagava, a mim não, mas falava
que pagava os outros. Ou melhor...
MINISTÉRIO
PÚBLICO: Quem (foi)?
ALESSANDRO
MACABÚ ARAUJO: ...eles falavam que recebiam do XAVIER, ao
(juiz) falava.
MINISTÉRIO
PÚBLICO: Eles os outros VEREADORES, né?
ALESSANDRO
MACABÚ ARAUJO: Oi?
MINISTÉRIO
PÚBLICO: Os VEREADORES, os demais VEREADORES? ALESSANDRO
MACABÚ ARAUJO: Isso, isso.
MINISTÉRIO
PÚBLICO: Diziam ao senhor que recebiam do XAVIER?
ALESSANDRO
MACABÚ ARAUJO: Ih, o, isso. Isso.
MINISTÉRIO
PÚBLICO: E de mais alguém?
ALESSANDRO
MACABÚ ARAUJO: E de JOÃO GILBERTO, maciçamente de JOÃO
GILBERTO.
MINISTÉRIO
PÚBLICO: Mas há 2 outros empresários aqui na investigação,
é que em tese, também contribuíam para esse pagamento, o senhor
citou o RICARDO XAVIER... ALESSANDRO MACABÚ ARAUJO:
Huhum.
MINISTÉRIO
PÚBLICO: ...em relação a locação de veículos...
ALESSANDRO
MACABÚ ARAUJO: Certo.
MINISTÉRIO
PÚBLICO: ...que tinha contratos com a PREFEITURA. Tinha um
outro ainda, ELÍSIO, da administração de unidade hospitalar, IGH.
ALESSANDRO
MACABÚ ARAUJO: Huhum.
MINISTÉRIO
PÚBLICO: Ih, segundo a investigação, também, eh,
contribuía para esse, pra esse montante que os senhores recebiam.
Como é que isso se dava?
ALESSANDRO
MACABÚ ARAUJO: É, eu não tenho conhecimento que ele
passava para nenhum VEREADOR, não.
MINISTÉRIO
PÚBLICO: Ele quem?
ALESSANDRO
MACABÚ ARAUJO: Esse ELISIO, ih, a gente (XXX) sabe que ele
passava.
MINISTÉRIO
PÚBLICO: Mas passava pro PREFEITO?
ALESSANDRO
MACABÚ ARAUJO: Pro PREFEITO, e o PREFEITO passava pros
VEREADORES e para outras pessoas.
MINISTÉRIO
PÚBLICO: E o RICARDO XAVIER?
ALESSANDRO
MACABÚ ARAUJO: E RICARDO XAVIER, também passava para o
PREFEITO e o PREFEITO fazia o pagamento as...
MINISTÉRIO
PÚBLICO: Mas para pagar o MENSALINHO dos senhores?
ALESSANDRO MACABÚ ARAUJO: E uns outros pagamentos, de
outras coisas, despesa dele, qualquer coisa, qualquer tipo de coisa.
MINISTÉRIO
PÚBLICO: Como é que o senhor sabe que o ELÍSEO fazia esse
pagamento?
ALESSANDRO
MACABÚ ARAUJO: Eu, eu sei porque era o comentário, era
geral, entre nós VEREADORES. Os VEREADORES comentavam isso, os
VEREADORES comentavam que esses empresários repassavam dinheiro para
o PREFEITO, eles comentavam, e não era um comentário individual,
eram vários VEREADORES comentando, falando a mesma coisa, então eu
sei através deles, entendeu?
MINISTÉRIO
PÚBLICO: Eles disseram que recebiam do...?
ALESSANDRO
MACABÚ ARAUJO: Do XAVIER e do JOÃO GILBERTO que era o CHEFE
DE GABINETE de ANTÔNIO, eh... todos falavam que IGH repassava para o
PREFEITO, então supõem -se
MINISTÉRIO
PÚBLICO: IGH é do ELISIO?
ALESSANDRO
MACABÚ ARAUJO: Do ELISIO, é, que ele repassava para o
PREFEITO, e o PREFEITO passava para os VEREADORES ou para outro tipo
de despesa que ele podia ter.
MINISTÉRIO
PÚBLICO: Mas... o repasse era também para pagar o
MENSALINHO dos VEREADORES?
ALESSANDRO
MACABÚ ARAUJO: Também, também.
MINISTÉRIO
PÚBLICO: Nesses três empresários?
ALESSANDRO
MACABÚ ARAUJO: Isso.
MINISTÉRIO
PÚBLICO: RICARDO XAVIER, WAGNER e ELISIO?
ALESSANDRO
MACABÚ ARAUJO: Isso.”
Meu
comentário:
Ainda
bem que na nossa Câmara de Vereadores isso não acontece. Nossos
vereadores não barram Comissões Parlamentares de Inquérito, não
rejeitam requerimentos e, muito menos, blindam o prefeito. Só se preocupam com o interesse coletivo. E nossos empresários que possuem contratos com a prefeitura não estão preocupados com seus
interesses particulares. Nunca se prestariam a isso de comprar
vereador.
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