Marina em campanha, foto do blog balaiodokotscho |
Caminhava tudo inexoravelmente para mais uma disputa entre
PT e PSDB no segundo turno, como tem acontecido nos últimos 20 anos. Só se
discutia se haveria ou não segundo turno. Aí caiu o avião de Eduardo Campos, do
PSB, candidato da chamada terceira via, que nem chegou a entrar no jogo, não
conseguindo atingir os dois dígitos nas pesquisas.
Faz apenas 17 dias. O furacão Marina Silva, que até outro
dia nem partido tinha, entrou no lugar de Eduardo, varreu tudo que encontrou
pela frente e, agora, é a favorita para ganhar as eleições presidenciais.
Para se ter uma ideia deste fenômeno eleitoral, na primeira
pesquisa pós-tragédia, logo após os funerais de Eduardo, Marina já aparecia com
21% no Datafolha, deixando Aécio Neves para trás, e colocando quatro pontos à
frente de Dilma Rousseff no segundo turno (47 a 43).
De uma pesquisa para outra, em apenas duas semanas, como
mostra o novo Datafolha divulgado na noite de sexta-feira, Marina deu outra
disparada, agora empatando com Dilma (34 a 34) no primeiro turno e abrindo dez
pontos de vantagem no segundo (50 a 40). Aécio ficou na poeira da estrada,
registrando apenas 15%, cinco abaixo da pesquisa anterior, praticamente fora da
disputa no segundo turno.
E agora? O que Dilma e Aécio ainda podem fazer para furar a
onda Marina Silva que se alastrou pelo país, cada vez mais forte? Não sei a
resposta. Constato apenas que a nova candidata do PSB está fazendo um strike
nos adversários, que vão caindo, tirando votos não só de Dilma e Aécio, mas até
do Pastor Everaldo, que já não tinha muitos, e fazendo um verdadeiro rapa nos
nanicos, indecisos, nulos e brancos.
Posso imaginar como está o clima nos comitês eleitorais de
Dilma e Aécio. Já passei por isso, em 1994, quando trabalhava na campanha
presidencial de Lula, que liderava com folga as pesquisas até a metade do ano.
Em poucas semanas, com o lançamento do Plano Real, as curvas nas pesquisas
foram-se invertendo até que o tucano Fernando Henrique Cardoso virou de vez e acabou
ganhando a eleição no primeiro turno. Ninguém no PT sabia o que fazer para
segurar a onda do Real, que virou uma febre com frenético apoio popular.
Agora, a reviravolta não se dá por conta de nenhum plano
econômico para acabar com a inflação ou promover a volta do crescimento, mas em
consequência de uma tragédia aérea, que provocou grande comoção no país e
beatificou a herdeira política de Eduardo, que surfa em direção à vitória.
Claro que não se deve atribuir tudo apenas ao fator
emocional causado pela morte do candidato, mas foi este o divisor de águas da
campanha presidencial de 2014. Marina soube encarnar como nenhum outro todos os
descontentamentos levados às ruas em junho do ano passado, juntando
desesperançados com o PT a descrentes do PSDB, revoltados, mal amados,
eleitores cansados da polarização entre os dois partidos e cidadãos de saco
cheio, em geral.
Um comentário enviado ao Balaio às 7h37 da manhã deste
sábado mostra bem qual é o clima que vivemos no país nestes momentos decisivos,
a apenas cinco semanas das eleições gerais:
"Bom, essa Marina também não me parece uma solução
ideal... mas tudo... tudo mesmo, menos o PT. Portanto, em um segundo turno,
entre Marina e Dilma, vou com certeza absoluta votar em Marina. PT nunca
mais..."
Como se vê, trata-se de um voto muito mais contra do que a
favor de alguém, algo que tenho ouvido por toda parte: acima de tudo, Marina
conseguiu catalisar o voto anti-PT, que hoje parece majoritário no país, algo
que Aécio e Eduardo não lograram ao longo de suas campanhas.
Ricardo Kotscho
Pedido: Não deixem de votar na enquete do RECALL dos vereadores no link: https://apps.facebook.com/minhas-enquetes/xvtxrn?from=admin_wall
Grato.
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