segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

Interesse público ou interesse do Prefeito?

Vereador Messias, JPH,14/06/2007
Em matéria de capa do jornal Primeira Hora em 2007, assinada por Ruy Borba Filho, o então vereador de Cabo Frio Jânio Mendes disse que foi acertada a decisão da Câmara de Vereadores de Armação dos Búzios em revogar a cobrança da Contribuição de Iluminação Pública (CIP).  Em Cabo Frio, ele votara favoravelmente a um Projeto de Lei de Iniciativa Popular com o mesmo objetivo, mas infelizmente ficou sozinho e o município conseguiu manter a cobrança. Para ele, a CIP não passa da velha Taxa de Iluminação Pública (TIP), condenada pelo STF por ser considerada inconstitucional, depois de uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) que levou quase 5 anos para ser julgada. Mais tarde, uma Emenda Constitucional (EC nº 9) facultou aos municípios a cobrança para aqueles realmente sem condições financeiras de custearem esses serviços.

"Quero deixar muito claro que do conceito e do cálculo do IPTU consta um percentual para o custeio desses serviços urbanos. Portanto, é bi-tributação impor mais esse tributo. Uma 'legal contribuição'  exige uma contraprestação divisível, determinada, não só dos serviços, mas também dos beneficiários destes. Acrescente-se que a cobrança da CIP contraria dispositivos do Sistema Tributário Nacional, um capítulo da própria Constituição" (Jânio Mendes, JPH, 10/03/2007).

Em outubro de 2009, Jânio Mendes, secretário de finanças do governo Mirinho Braga (2009-2012), esqueceu tudo o que dissera antes, manda às favas a inconstitucionalidade da lei, a bi-tributação, a ilegalidade da cobrança e envia, em outubro de 2009, sem o menor pudor, para a Câmara de Vereadores de Búzios,  uma reforma do Código Tributário Municipal que altera 180 de seus 600 artigos, e entre eles, uma mudança especial, retornando  com a cobrança da CIP. Esqueceu também que estava contrariando a emenda constitucional pois esta não autorizava a cobrança em municípios riquíssimos como Búzios.

Um outro vereador, do mesmo quilate e do mesmo partido- PDT-  mas de outro município, também metamorfoseia-se por completo diante do tributo.

Messias Carvalho, vereador de Buzios, inicialmente, também considerava a CIP inconstitucional.

"Em relação à CIP considero uma página virada. É inconstitucional. Este é o entendimento da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara de Vereadores de Búzios. Esse é o interesse público verdadeiro, havendo esta Casa que responder hoje (19/04/2007) à população, para dizer claramente o que é interesse público" (Messias, JPH, 20/04/2007).

Mais tarde, depois da aprovação da EC nº 9, já não considerava mais a cobrança inconstitucional, mas continuou contrário à cobrança por considerá-la injusta.

"Meu entendimento sempre foi que a cobrança da CIP seria constitucional, enquanto vigorasse lei municipal regulamentando a emenda constitucional  que autorizou a cobrança da mesma pelo município. Ou seja, o município que entendesse ser justa a cobrança da CIP, a legitimava através de lei municipal que atualmente eram os artigos 265 a 270 do Código Tributário Municipal. A maioria dos legisladores municipais , entre os quais obviamente me incluo, entendem pelos motivos já conhecidos, que tal cobrança não era justa, e assim decidiu pela revogação dos referidos artigos da lei (e não da CIP) (Messias, JPH, 14/06/2007).

Ao passar de oposição para a situação, com a eleição do seu guru político, Mirinho Braga, em 2009, e como presidente da Câmara de Vereadores graças a ele, abandonou completamente qualquer critério de justiça e votou favoravelmente no que seu chefe ordenou.

Agora, no governo André, votando pelo aumento da contribuição da "famigerada" CIP, apenas confirmou aquilo que Lênin chamava de cretinismo parlamentar. Para onde foi o interesse público vereador? Para onde foi a justa cobrança?

Observação:
Continuem votando na enquete dos prefeitáveis de Búzios (situada no canto superior direito do blog, logo abaixo da propaganda do Google). Ela está emocionante. 

Grato.

        

domingo, 4 de janeiro de 2015

Os prefeitáveis de Búzios

A campanha eleitoral de 2016 já começou. Terminada as eleições gerais de 2014, as reuniões políticas preparatórias para o próximo pleito municipal estão rolando soltas em Búzios. Candidatos, já temos aos montes. Passam de uma dezena. Até mesmo alguns fichas sujas  estão se credenciando. Estória fiada. Apenas se valorizam  para poderem influir no processo.

Então vamos aos nomes possíveis. Esclareço que os nomes citados abaixo não tem nada de oficial. É um exercício puramente especulativo. Especulativo, democrático e também provocativo. Apenas para estimular o debate, que se faz necessário nesta região de tão poucos debates.     

1) Grupo do Dr. André
Começando pela aliança política vitoriosa em 2012.
Se conseguir chegar à data do registro da candidatura em julho de 2016 sem conseguir sujar sua ficha, o atual Prefeito, Dr. André, deve disputar a reeleição, apesar de parecer estar fazendo um enorme esforço contrário. Talvez também desista, se a taxa de rejeição alcançar números insuportáveis, como já se pode imaginar desde agora. Apesar de acreditar que Dr. André e seu grupo  se bastem com apenas quatro anos de governo, nas condições atuais acredito que ele dispute a reeleição. Se não puder, também não poderá lançar seu guru político DJ, por este também estar incluído na Lei do Ficha Suja.     

2) Grupo de Mirinho (Cristina Braga)
A segunda força política da cidade, derrotada em 2012, ao meu modo de ver deve lançar uma candidatura alternativa, já que sua liderança maior, Mirinho,  tem dois enquadramentos na lei do ficha suja. Mesmo que ele tenha disputado a eleição de 2008 com uma liminar debaixo do braço, aquilo que Élio Gaspari chama de “costurar por dentro”, acho muito difícil que Mirinho consiga fazer nova "ourivesaria de desmanche de processos no Judiciário" para estar apto a disputar a eleição de 2016.

Assim como o pedetista histórico Leonel Brizola nunca permitiu que uma nova liderança política surgisse sob sua sombra, Mirinho deve lançar alguém de sua confiança, muito provavelmente de sua família. Comenta-se na cidade que a sua esposa, Dona Cristina Braga, será a candidata a prefeita do PDT em 2016.

3) Grupo do Evandro
Terceiro colocado nas eleições de 2012. Promete voltar forte em 2016. Parece que as duras lições de 2012 foram aprendidas, como escolher um candidato a vice que tira voto e lançar a esposa como candidata a vereadora. Dizem que a escolha de Octavinho como vice foi de Alair Corrêa. Será?   

4) Grupo Toninho Branco (Shirley Coutinho)
Como Mirinho, Toninho também estará impedido de disputar as próximas eleições municipais. Já me garantiu que lançará sua atual esposa, Drª Shirley Coutinho, como candidata de seu grupo político que, por sinal, está fazendo reuniões semanais em sua casa. Toninho ainda tem voto?

5) Vice-Prefeito Muniz
Sem grupo político depois da derrota nas eleições internas do PT, quando apoiou o candidato a presidente do Diretório Municipal derrotado Alessandri. Está montando um novo grupo político com seu fiel escudeiro Dr. Alan Costa. Precisa aprender a fazer política.   

6) Joãozinho Carrilho
Fala-se muito na cidade da candidatura Claudia Carrilho, mas o político da família é o Joãozinho, filho. A rejeição colossal ao atual Prefeito e a reprovação de igual dimensão ao seu governo, pela parceria política estabelecida, respinga em toda família Carrilho, inviabilizando qualquer chance de vitória de Joãozinho. A não ser que se pule do barco momentos antes dele afundar de vez.   

7) Alexandre Martins  
O candidato da pequena especulação imobiliária de Búzios, dos pombais de Geribá, da Lei 17. Acredita que se cacifou para 2016 com a votação que teve para Deputado Estadual em 2014. Ledo engano. São duas eleições completamente diferentes. Mas vem candidato.

8) Valmir da Rasa
Valmir vive há séculos dizendo que é o candidato da Rasa. Quem sabe não venha nas próximas eleições. Búzios já elegeu um vice-prefeito negro. Quem sabe não elege também um Prefeito?  

9) Felipe Lopes
Cacifado pela atuação corajosa na CPI do BO.  Percebeu tarde que não poderá contar com o apoio do líder maior de seu partido, Mirinho Braga. Muito em breve, deverá  deixar o PDT e  embarcar de mala e cuia em uma nova agremiação partidária recentemente criada. Assim consegue escapar da sanha persecutória do Maquiavel de Búzios. Poderia aproveitar a ocasião e fazer uma autocrítica profunda de seu apoio irrestrito ao desgoverno Mirinho (2009-2012). O povo até hoje não esqueceu o vexame do abandono do plenário para não votar  (de novo) as contas de Mirinho Braga. Às vezes o passado condena. 

10) Professor Luiz 
Acredito que teremos em 2016 mais uma eleição plebiscitária como as de 2004, 2008 e 2012, quando o povo escolheu um candidato de oposição para derrotar o Prefeito (2008 e 2012) ou sua candidata (2004). Como este governo está seguindo o mesmo modelo de gestão dos governos anteriores, sustentando uma maquina pública cara (curral eleitoral e terceirizações caras a rodo) que o deixa com baixo capital de investimento, quase com certeza chegará às próximas eleições com taxa de reprovação que inviabilizará sua reeleição. Neste caso, o desgaste não só do Prefeito, mas de figurinhas carimbadas, abre espaço para que um outro cavalo paraguaio como Dr. André  seja eleito. Se em 2012 o povo de Búzios elegeu um cavalo paraguaio porque não lançar o meu nome? Quem sabe um outro cavalo paraguaio não é eleito?

Observação:
Estou iniciando uma nova enquete onde peço que os leitores do blog respondam à seguinte questão: Se a eleição para Prefeito de Búzios que ocorrerá em outubro de 2016 fosse agora, como você votaria?
A enquete (ver canto direito superior do blog, logo abaixo da propaganda do Google) terá a duração de um mês (30 dias) encerrando-se em 4/2/2015. Publicarei parciais da enquete a cada 10 dias. Esclareço que a enquete não tem nenhum caráter científico, não passando de mera sondagem entre os leitores do blog. É provocação pura mesmo. Ah! ia me esquecendo. A votação é secreta. Nas enquetes do blogger (do Google), diferentemente das do Facebook, não fico sabendo em quem as pessoas votaram.  
    
Os candidatos citados acima estão relacionados em ordem alfabética:
1) Alexandre Martins
2) André Granado
3) Cristina Braga
4) Evandro
5) Felipe Lopes
6) Joãozinho Carrilho
7) Muniz
8) Professor Luiz
9) Shirley Coutinho
10) Valmir da Rasa

Comentários no Facebook:


  • Pedro Rodrigues A mais provável e de maior cacife político, é sem dúvida, a Cláudia Carrilho. É a primeira mulher a disputar a prefeitura depois de nativos e um doutor de fora que terá muito trabalho para convencer para se reeleger. Agora Claudia vem fazendo um trabalho de formiguinha. Prestem atenção.
    4 h · Curtir
  • Thomas Sastre A CLAUDIA CARRILHO E ASSISTENCIALISTA SEU ESTILO E DA TURMA DO PAN E CIRCO MODELITO EVA PERON ,,GOSTA DE SE RODEAR DE BAJULADORES DE PLANTÃO ,QUANDO FOI NA CÂMARA PARA FAZER LOBBY JUNTO COM O MARADONA PARA MUDAR A LEI DO USO DO SOLO,QUERENDO 3 ANDARES PARA FAZER O TEATRINHO DO MARIO MARADONA EM A ESQUINA DO CINEMA FICOU DESACREDITADA POR MUITA GENTE QUE ESTA CANSADA DE ESTORIAS TEM QUE SABER QUE EM A CIDADE A QUE CONSULTAR E PENSAR GRANDE TEM QUE TER SIM UM ANFITEATRO ,,VAI FICAR EM O FORMIGUEIRO ,BÚZIOS QUER UM TAMANDUA BANDEIRA ,UMA PESSOA QUE PENSE,, OBA-OBA,, AFUNDA CADA DIA MAIS A CIDADE ,
  •    

    • Ciro Robison Santos Antes de pensar nesta loucura, gostaria que as pessoas desse uma passada em qualquer equipamento da secretaria de promoção social, e veja se os profissionais que lá estão tem a minima condições de trabalho, falta tudo, tudo mesmo,a secretaria é igual um ovo com uma pequena diferença só tem a casca, falta a gema e a clara.

    Guarda Municipal de Búzios diz "estar acima das placas"

    Estive na sexta-feira(2)  na rua das Pedras- rua exclusivamente de pedestres- e fiquei impressionado com a quantidade de carros estacionados em toda sua extensão. Só faltava ter seu meio fio pintado de azul pela empresa que explora o estacionamento público municipal O principal cartão postal de Búzios- depois das praias, claro- estava abarrotado de carros como pode-se ver nas fotos abaixo: 


    Rua das Pedras, próximo ao Cigalon 

    Rua das Pedras, próximo ao restaurante TAO.

    Intrigado, procurei um guarda municipal no cruzamento da Rua das Pedras com a Travessa dos Pescadores. Completamente despreparado para a função, não deu nenhuma resposta afirmativa às minhas indagações, e ainda saiu-se com esta pérola: "estou acima das placas". Vejam a gravação: 



    sábado, 3 de janeiro de 2015

    Estão destruindo a joia da Coroa

    "Armação dos Búzios não é uma cidade qualquer. É uma verdadeira joia da Coroa, frágil e pequena, que precisa estabelecer um limite ao número de turistas que entram na cidade. No Brasil, Fernando de Noronha e Ilha Grande já fazem isso. Na Ilha, por exemplo, só entram 500 pessoas por vez. Como as Ilhas Seicheles, Cancun ou Bali- verdadeiros paraísos naturais-, Armação dos Búzios precisa de um tratamento diferenciado" (Aspásia Camargo, Jornal O Perú Molhado, 12/03/2011).

    Um município, estima-se, com 33 mil moradores não pode receber, como dizem, 330 mil turistas nesta época do ano. Proporcionalmente, é como receber 100 pessoas em uma casa onde cabem apenas 10. Vão faltar banheiros, vagas de estacionamento, luz, água, telefone, alimentos, tranquilidade e paz. Obviamente, quando os visitantes forem embora constatar-se-á que os estragos na casa foram enormes. Diante do prejuízo, arrependido, o senhorio (povo de Búzios) se perguntará se valeu a pena ter alugado a casa para tanta gente.   

    Este tipo de promiscuidade turística não interessa de forma alguma ao povo de Búzios. Como sempre, poucos são aqueles que se beneficiam deste turismo altamente predatório. Já passou da hora de os representantes do povo buziano no Executivo e no Legislativo tomarem providências e estabelecerem, de uma vez por todas, a "Capacidade de Carga" da Cidade. 

    Efluente da ETE de São José despejado no canal da Marina, foto de 2/1/15, 12:08 horas
    Efluente, dia 31/12/2014, 18:26 horas 

    Engarrafamento Centro, 2/1/2015, 20:47
    Engarrafamento Geribá, 2/1/2015, 12:48 horas

    Vegetação nativa destruída, Geribá, 2/1/15 

    Lixo na porta de mansão em Geribá, 2/1/15
      
    Ver links:


    http://ipbuzios.blogspot.com.br/2012/11/sem-governo-5.html#.VKff6yvF-P8

    Meu comentário:

    O Prefeito de Búzios, que apareceu em rede de TV bebendo água de reuso da Prolagos, bem que poderia dar uma chegadinha no canal da Marina e dar uma cheirada- no bom sentido- para sentir o odor emanado pelo efluente que está sendo despejado no outrora belo canal da Marina. Uma perguntinha: alguém fiscaliza a porcaria dessa empresa chamada Prolagos?

    Durante os engarrafamentos não vi uma alma viva de guarda municipal de Búzios. Por onde andam eles?

    A placa do MPF e nada é a mesma coisa. A vegetação nativa cercada, e mesmo com o aviso do MPF , é pisoteada à vontade, e ainda serve para guarda dos apetrechos dos ambulantes e quiosqueiros da praia de Geribá. Também não se viu uma alma viva de fiscais de meio ambiente ou de posturas nas imediações. Por onde eles andam?

    Se o lixo não é recolhido em áreas de mansão próximo à praia de Geribá, imaginem a montoeira de lixo que não deve estar sendo acumulada nos bairros da periferia. O Prefeito poderia dar uma passadinha pela Rasa, Cem Braças, Tucuns, Baía Formosa, etc. Afinal, ele é Prefeito de todos, ou não?

    Última perguntinha: esse desgoverno municipal fiscaliza alguma coisa?

    Estão destruindo a joia da Coroa. Depois não vão dizer que eu não avisei!

    Comentários no Facebook:



  • Marcao Buzios Gostaria de saber quantas multas foram aplicadas contra a prolagos pelo crime ambiental... E cadê os vereadores que ainda não fizeram nada.............Fica pergunta!!!!!!!!!!!!!!!!



    • Carlos Simas Trata-se de algo que nos parece não mais haver solução, professor Luiz Carlos Gomes. Não que falte dinheiro, pois há até demais, haja vista que em 2007 o Governo do Estado lançou o chamado Pacto pelo Saneamento, que em tese prometeu que até este ano de 2015 haveria 90% do esgoto doméstico tratado na Região dos Lagos. Só em 2013 foram disponibilizados R$ 88.000.000,00 (isso mesmo, oitenta e oito milhões de reais) que a sortuda Prolagos teve o direito de administrar. O espaço é pequeno para tantos questionamentos óbvios, porém o principal é: O que foi feito de fato com todo este dinheiro em relação ao tratamento do esgoto in natura que é lançado todos os dias em nossos córregos, a céu aberto, contaminando águas subterrâneas, lagoas, lagunas e acaba finalmente em nossas praias destruindo a vida marinha e dessa forma causando sem nenhuma justificativa tantas doenças de veiculação hídrica à população e turistas? "O que fica claro que há e sempre existiu é a falta de vontade política para fazer! Com a palavra nossas autoridades, que certamente nada falarão...ou farão de concreto. Um abraço professor e um, se possível (diante das circunstâncias) feliz 2015!



      

    Ricardo Amaral: a história de um embuste



    Salvador Dali ficaria assustado com o surrealismo. Não havia projeto na Reserva do Peró. Era um enorme pedaço de papel com muitos quadradinhos, círculos, retângulos, triângulos e várias outras formas que parecem terem sido inseridas com o uso de um processador de texto, todos coloridos. Era um embuste, um crime quase perfeito como o conto do vigário em que se usa uma nota de R$100 sobre um pacote de papéis em branco que o vigarista diz conter R$5.000. Os bancos estão fechados, diz ele, não quer andar com tanto dinheiro e precisa de alguém de confiança para guardá-lo. Alega ter pressa, aceita R$500 e voltará para pegar o resto. A ganância induz o otário a aceitar a proposta e o vigarista desaparece. Mas, sempre deixa rastros.

    No caso do "projeto", inicialmente divulgado em 2007, com muito espalhafato em um anúncio de uma empresa de nome Lakpar de propriedade de Ricardo Amaral, constavam as construções de seis hotéis (Sheraton, dois Boutique, Bora-Bora, Moorea e Club Med), campo de golfe, áreas residenciais, etc. O embuste adquiriu legitimidade e legalidade quando foi solicitada a licença para a construção, ainda em 2006, uma vez que ocuparia uma área de preservação ambiental. Àquela época o incomparável Luiz Firmino Martins Pereira, então secretário-executivo do CILSJ, participou de uma reunião onde foram feitas recomendações quando às localizações dos hotéis. A ata da reunião foi a nota de R$100 que o vigarista usa e que, além do mais, era falsa. Mas serviu.

    Acontece que nada em que Ricardo Amaral e Firmino tocam, cheira bem. Mas, o quê, no caso?
    Da releitura da ata salta aos olhos de onde vem o mau cheiro: o projeto seria executado numa área que está sob o controle do município de Cabo Frio, mas, curiosamente, não se encontram os documentos onde o proprietário de cada hotel concorda e autoriza a empresa de Ricardo Amaral a executar as obras. É como se alguém solicitasse licença para construir um hotel cinco estrelas do grupo Othon no terreno em frente à rodoviária em Cabo Frio e não apresentasse algum documento onde aquele grupo concorda com a empreitada. E mais: sem custo algum para o grupo! Bom demais para ser verdade.

    Como pode esse fato, tão elementar, passar despercebido? A prefeitura, o CILSJ, o INEA e a SEA não notaram? Ninguém notou? A discussão ficou centrada na nota de R$100 no topo do pacote com papéis em branco: a aplicação correta da lei. Afinal, tratava-se de Ricardo Amaral, o famoso cozinheiro de feijoadas que preparava para os deslumbrados da elite carioca, íntimo de ex- presidentes da República, ministros de Estado e escritores famosos. Como suspeitar que seria o autor de tamanho trambique, um dos maiores contos-do-vigário na história dos empreendimentos imobiliários no Brasil?

    Por outro lado teriam percebido o embuste e trataram de ficar calados e continuar a enganar a prefeitura de Cabo Frio? Bem possível. De fato, mais do que possível: altamente provável. Mas, havia mais. Tal como o otário no golpe do vigarista, a ganância do setor imobiliário e agências de turismo aflorou: seus olhos ficaram cobertos por cifrões. Trataram de dar ampla visibilidade ao projeto, imaginando navios de cruzeiros ancorados em Cabo Frio e levas de turistas comprando pacotes de viagens. A questão jurídica se resolveria, imaginaram, e, claro, a favor do visionário Ricardo Amaral e comparsas.

    A história continuava a cheirar mal e foi muito simples verificar o que estava acontecendo: consultar as administrações dos operadores de cada hotel. E vieram as respostas: do Sheraton, do Boutique, do Bora-Bora e do Moorea, que negaram terem projetos, não só na Reserva do Peró como em qualquer lugar no Brasil. Já o escritório do Club Med no Brasil fez extenuantes exercícios de retórica para escapar de uma resposta definitiva. Era sabido, porém, que seu representante no Brasil, Janyck Daudet, estava e continua a estar, preocupado com a sobrevivência da empresa Club Med com sede em Paris, que por pouco não faliu em 2008. Mas, junto com Ricardo Amaral, teve a ousadia de em setembro de 2013 vir a Cabo Frio e assegurar ao prefeito Alair Corrêa haver interesse na construção de um Club Med na Reserva do Peró. Mas, e eis nisso um dos erros que todo vigarista comete: uma consulta aos atuais e principais controladores do Club Med, os grupos Fosun e Ardian, mostrou que continuam a manter a posição de que o interesse é investir na China, embora os acionistas restantes do Club Med original - e que retêm 8% da empresa - continuem a imprimir relatórios que falam em "futuros" resorts no Brasil e na Rússia.

    Não se pode dizer que Daudet mentiu. Apenas omitiu fatos, entre eles o de que Giscard d´Estaign foi mantido na presidência da empresa Club Med como uma cortesia do bilionário chinês Guo Guangchang, presidente do grupo Fosun. Omitiu o fato de que d´Estaign retém, apenas, 0,01% das ações do Club Med e de que todas as decisões que toma são submetidas para aprovação de Guo. Atualmente Guo e o milionário italiano Bonimi estão numa disputa pelo controle da empresa cujo valor está estimado em mais de um bilhão de dólares. Essa disputa já estava em curso quando Daudet esteve em Cabo Frio com Ricardo Amaral. Os dois omitiram essa importante informação. Talvez Daudet tenha sido pressionado por Amaral. Talvez tenha se encantado com a oportunidade de ter uma foto sua junto ao empresário para ser divulgada nas redes sociais, o que de fato aconteceu.

    De qualquer forma, os anos haviam se passado desde a concessão da licença para a execução das obras com base na lei municipal (Cabo Frio) 1968 de 23/11/2006, sancionada pelo prefeito Marcos da Rocha Mendes. (Cabe uma pergunta: será que o prefeito também não percebeu que estava em andamento um bem elaborado embuste?).

    Há anos, também, um dedicado grupo de cidadãos vem liderando uma batalha na Justiça destacando várias irregularidades na execução do projeto. É mais um componente do embuste.

    A Juíza Sheila Draxler Pereira de Souza concedeu uma liminar, em 19/12/2014, no processo nº: 0037499-92.2014.8.19.0011, Ação Civil Pública proposta pelo Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro, sendo dois dos réus Costa do Peró Participações Ltda., Estado do Rio de Janeiro e Instituto Estadual do Ambiente - INEA ordenando a paralisação das obras e proibindo a concessão de nova licença para sua continuação. Nessa liminar consta um detalhe bastante significativo e importante.

    SMJ esses dois réus conspiraram para que os relatórios técnicos que produziram tivessem conclusões pré-estabelecidas, qual seja beneficiar a empresa Costa do Peró Participações Ltda., de propriedade de Ricardo Amaral. Dessa conspiração participou um especialista brasileiro que presta serviços à Costa do Peró. Ocorre que a credibilidade de um documento técnico ou científico depende da credibilidade do(s) seu(s) autor(es), quase sempre ocorrendo discordância de outro(s) autor(es) no que concerne a metodologia utilizada ou as conclusões. No caso, portanto, é válido questionar todos os relatórios produzidos pelos dois réus e, ainda, pelo especialista. A posição desse especialista se agravou quando, talvez numa tentativa de elevar o nível de credibilidade de seu trabalho, fez uso de papel timbrado da instituição da qual se havia se aposentado, o Instituto de Geociências (IGEO) da UFRJ. Dessa forma envolveu aquela universidade, mesmo que indiretamente, no embuste perpetrado por Ricardo Amaral. O comportamento desse especialista está registrado numa carta, incluída nos autos do processo, endereçada ao MP pelo diretor do IGEO afirmando que o IGEO não autorizava o uso de seu nome até porque outros pesquisadores possuem opiniões diferentes daquele especialista. Eis que, com isso, SMJ, quer parecer que a participação de outros especialistas na oitiva marcada para 16/01/2015 para que os relatórios e/ou pareceres emitidos passem pelo crivo do contraditório é desnecessária. Afinal, o próprio diretor do IGEO já afirmou que existem opiniões diversas sobre o que tratam aqueles relatórios e/ou pareceres.

    O que parece ficar evidente é que Costa do Peró Participações Ltda., com a colaboração do especialista que contratou, e o INEA fizeram uso de documentos deliberadamente fraudados.
    Talvez àquele queira especialista o MP oferecer o benefício da já notória prática da delação premiada a fim de ajudar a esclarecer a extensão do embuste perpetrado por Ricardo Amaral e por seu comparsa Paulo Pizão.

    Para o bem de todos Cabo Frio será poupado de qualquer reação dos embusteiros: a Câmara de Vereadores, percebeu ter sido enganada e em uma história reunião, em 23/12/2014, revogou a lei 1968/2006.

    Foi o fim do embuste.

    Chegaram ao fim as ações de quem tratou e trata a população da Região dos Lagos como cidadãos de segunda classe. Tipifica o comportamento dos arrogantes, dos prepotentes, dos que agem com desdém, dos que ignoram os direitos de todos.

    A população da Região deve um agradecimento especial aos vereadores de Cabo Frio e aos que nunca desistiram de lutar contra o absurdo que ocorreu na Reserva do Peró: Anna Bina Mehdi, Paulo Klem, Profa Kátia Leite Mansur/Geologia/UFRJ – IGEO, Davi Moura Neves, Sérgio Ricardo Verde, Professor Cyl Farney Sá/JBRJ, Professor Guilherme Fernandez/Geografia - UFF, Juarez Lopes, Professora Desirée Freire/Geografia - UFF, Thais Figueiredo, Profa Thais Rocha/Geografia - UERJ, Daniel Bastos/Herpetofauna - Museu Nacional, Rafael Cunha Pontes/Herpetofauna - Museu Nacional, Professor Mauricio Vecchi Brandão/UERJ, Professora Cristina Ariani, Antônio Revail, Deputada Janira Rocha, Deputado Paulo Ramos, Cacau Agostini, Maryanne Medeiros, Martin Moulton/Geografia - UFF, Igor Zelada, Claudia Souza, Zeca Nader, Paula Richard, Cris Paramita, Vanda Marcelino, Elias Brito, Grimalda Magalhães, Niete Martinez/Revista Cidade, Manoel Santos, Renata Moura e Luiz Lyra, Sabata Belgrano, Rosa Espinosa, Douglas Santana, Hilarion Faggioli, Luiza Gerhard, Janete Veiga, Mabel Mow, Kitty Ayala, Ativa Buzios, Wagner Silvano, Luiz Carlos Gomes/IP Buzios, Ong Ecoar, OAB de Cabo Frio, Dr. José Carlos Sícoli Seoane/Geologia UFRJ, Anna Maria Croce, Anderson Inacio e Karina Ramos, Profa Dalila Mello/Biologia – IFF, Mauro Spacenkopf e Isabela Mariz, Alejandra de Luca, Chico Tatoo, Profa Maria Alice dos Santos Alves/Ecologia, IBRAG – UERJ, Prof Elizeu Fagundes de Carvalho/Ecologia – UERJ, Prof. Carlos Frederico da Rocha/ Ecologia – UERJ, Prof. Dr. João Wagner Alencar Castro/Lab Geologia Costeira(Museu Nacional) – UFRJ, Prof Wilson Costa /Ictiofauna - UFRJ, Vila Jaghanata.

    Que o prefeito de Cabo Frio respeite a vontade do povo e sancione a lei.

    Vigaristas, porém, nunca desistem: se flagrado na Estação Central do Brasil e desmascarado, muda-se para a Estação da Leopoldina. Que se acompanhem os próximos passos de Ricardo Amaral. É bem capaz de tentar vender seu "projeto" em alguma cidade litorânea.

    Por essa razão a investigação em curso pelo MP não deveria se limitar às conclusões de relatórios e/ou pareceres técnicos. Tudo o que consta neste artigo, até esse ponto, pode ser considerado como ilação, mas a decisão da Câmara de Vereadores de Cabo Frio, revogando a lei 1968/2006, traz à luz fatos que devem ser investigados. Por exemplo, em seu discurso na seção de 23/12/2014, declarou o vereador Luiz Geraldo "sentir-se enganado quando da aprovação da Lei 1968, em 2006, e sentia-se, agora, muito à vontade para derrubá-la", declaração corroborada pelo vereador Paulo Henrique. Que fatos chegaram ao conhecimento dos vereadores para que concluíssem que "no local, se vendia a ideia que seriam construídos quatro resorts, sendo um deles o Club Méd, mas apenas loteamentos estão sendo implantados"? (Ver artigo nesta revista em 
    O leitor poderá consultar, por exemplo, a página cujo link se segue, onde consta a notícia de 10/10/2007, de que o Club Med investiria USD$45 milhões na construção de eu quarto resort no Brasil. Cita também os demais cinco hotéis mencionados no início deste artigo. De que maneira essa notícia chegou ao conhecimento do autor da notícia? Além disso, se a informação era verdadeira, deveria ter sido assinado um contrato com a empresa Lakpar, de Ricardo Amaral, que àquela época já a havia divulgado em sua página que, aliás, foi retirada da Internet. Qual a razão para Ricardo Amaral omitir esse importante detalhe? Se contrato houve ou havia, porque razão essa informação não passada ao prefeito Alair Corrêa, por Janyck Daudet e Ricardo Amaral, em setembro de 2013? (Ver

    A ousadia de Ricardo Amaral parece não ter limites. Em 27/11/2014 foi publicada uma notícia divulgando a assinatura de um contrato da empresa Club Med com uma construtora ligada à Costa do Peró Participações Ltda. para a construção de um resort na Reserva do Peró. É muito estranho que o Club Med em Paris não tenha dado notícia sobre a assinatura desse contrato e é válido concluir de que há pessoas em Cabo Frio dispostas a servirem de capacho de Ricardo Amaral e espalharem notícias falsas. Além do mais a notícia confirma que Ricardo Amaral estava usando, sem permissão, a marca do Club Med para validar o embuste.

    Por qual razão as ações de Ricardo Amaral são sempre anunciadas indiretamente? Nada o impediu de apresentar à prefeitura de Cabo Frio o original desse contrato. Essa postura parece indicar que em novembro de 2014 já tinha conhecimento da decisão sobre a ação movida pelo MP e que, afinal, foi divulgada em 19/12/2014. Talvez, também, tenha tomado conhecimento da discussão que ocorria na Câmara de Vereadores de Cabo Frio e a divulgação da notícia tenha sido uma tentativa de alterar a decisão que foi tomada em 23/12/2014 pelos vereadores. Eis ai a oportunidade para que o MP exija a apresentação do original desse contrato, mesmo porque sua existência leva a uma conclusão oposta a que chegaram os vereadores de Cabo Frio um mês depois (23/12/2014).

    Todos esses fatos devem ser investigados uma vez que os danos causados na Reserva do Peró resultaram das ações de pessoas que agiram, deliberadamente, de má fé. A eles deve ser cobrada uma indenização, devida ao estado do Rio de Janeiro e à sua população, e exemplarmente punidos.


    Ernesto Lindgren
    CIDADE ONLINE

    02/01/2015


    sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

    Percepção da corrupção na Região dos Lagos

    Segundo a percepção dos leitores do blog o município mais corrupto da Região dos Lagos é Armação dos Búzios. O segundo,  Cabo Frio. A enquete foi realizada durante o mês de dezembro de 2014. Votaram 98 pessoas. Vejam o resultado:

    O município mais corrupto:

    1º) ARMAÇÃO DOS BÚZIOS
      60 (61%)

    2º) CABO FRIO
      21 (21%)

    3º) ARARUAMA
      4 (4%)

    4º) ARRAIAL DO CABO
      3 (3%)

    5º) IGUABA GRANDE
      1 (1%)

    SAQUAREMA
      1 (1%)

    SÃO PEDRO DA ALDEIA
      1 (1%)

    NÃO SEI
      4 (4%)

    NÃO TÔ NEM AÍ PRA ISSO!!!
      3 (3%)

    Meu comentário:

    É óbvio que a enquete não tem nada de científico, mas bem que poderia servir de estímulo para que algum órgão ou entidade civil fizesse uma pesquisa séria sobre o tema, como a Transparência Internacional faz, desde 1995, publicando um relatório anual do Índice de Percepção da Corrupção 
    "que ordena os países do mundo de acordo com 'o grau em que a corrupção é percebida a existir entre os funcionários públicos e políticos'. A organização define a corrupção como "o abuso do poder confiado para fins privados".

    É sintomático que a percepção de corrupção seja maior entre os municípios mais ricos como Búzios e Cabo Frio. A escolha de Araruama como terceiro, talvez se deva ao fato do município ter tido seu prefeito recentemente afastado do cargo, mesmo que por curto período, por denúncia por improbidade administrativa. Arraial do Cabo, como quarto colocado, também se explica pelo envolvimento do atual prefeito com problemas judiciais, mas em outra esfera da Justiça, a Eleitoral, por crime de abuso de poder.