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CPI do Hospital da mulher em Cabo Frio. Foto: Rafael Wallace/ ALERJ |
Diretor
médico alegou que mortes estavam relacionadas a patologias e a
problemas na realização de exames pré-natal
A
Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Assembleia Legislativa
do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) que investiga a morte de
nascituros e recém-nascidos no Hospital da Mulher, em Cabo
Frio, na Região dos Lagos, se reuniu nesta terça-feira (02/04) para
colher os depoimentos dos diretores da instituição.
Desde julho de 2018, Paul Hebert Dreyer e Lívea Natividade são,
respectivamente, diretores médico e administrativo da
instituição, onde foram registrados 16 mortes de
bebês nos três primeiros meses do ano. Eles responderam aos
questionamentos dos membros da comissão em relação às mortes e
sobre procedimentos técnicos e administrativos adotados pelo
hospital.
O
diretor Paul Hebert alegou que as mortes
registradas estão relacionados a doenças, como
sífilis e hipertensão, e ao consumo de drogas
ilícitas. Ele disse que a ausência ou a má
realização do acompanhamento pré-natal também foi um fator
decisivo. “Eram fetos que já estavam em um sofrimento
crônico que não havia sido diagnosticado. As mulheres chegavam no
hospital e não podíamos operá-las imediatamente. Segundo o
protocolo, era preciso estabilizá-las primeiro e, muitas vezes nesse
intermédio, os filhos faleceram porque eles já estavam em
sofrimento fetal”, justificou.
No
entanto, para a presidente da comissão, deputada Renata Souza
(PSol), a justificativa de Hebert não condiz com os relatos e
os documentos apresentados pelas mães que perderam seus bebês.
“Culpabilizar a vítima por perder o seu filho é um equívoco. A
gente precisa saber se foi antes, durante ou depois do parto que
esses bebês tiveram um sofrimento que os levaram à morte. Nós
tivemos acesso a diversos exames pré-natal dessas mulheres
e todas tinham a indicação de que seus filhos nasceriam
saudáveis. A gente precisa saber o que está acontecendo”,
declarou.
A
parlamentar solicitou ao hospital o envio de documentos, entre eles
os prontuários dos 16 casos de falecimento, que serão
analisados por uma equipe técnica de apoio à CPI. Souza também
solicitou o livro com os registros de entrada na instituição
desde novembro de 2018, o relatório de fiscalização
do Conselho Municipal e as atas das reuniões da
comissão interna do hospital que atestou a causa das mortes.
A comissão convidará para esclarecimentos o secretário
municipal de Saúde, Márcio Mureb, e estuda convidar o
prefeito de Cabo Frio, Adriano Moreno.
O
Hospital da Mulher realiza de 150 a 200 partos por mês
e, segundo o diretor Helbert, a taxa de óbitos dos primeiros
meses de 2019 se assemelha ao registrado em anos anteriores, sendo 50
mortes em 2017 e 53 em 2018.
Diligência
e condições de atendimento
Na
última segunda-feira (02/04), os deputados da CPI foram até Cabo
Frio realizar uma visita ao hospital. Lá, encontraram um ambiente
“maquiado”, como afirmou a deputada Renata Souza (PSol).
Ela ouviu relatos de pacientes que tiveram de levar sua própria
roupa de cama e até mesmo ventiladores. “É uma
contradição. A administração do hospital ficou sabendo da nossa
visita, mas a gente conseguiu ver como as famílias não tinham
acesso a insumos básicos, como lençóis e ventiladores, e
como era ruim a relação entre os pacientes e a instituição”,
disse a deputada.
A
diretora administrativa, Lívea Natividade, justificou que muitas das
pacientes decidem levar por escolha própria os seus pertences e
afirmou que vem adotando uma série de procedimentos para melhorar a
qualidade no atendimento, como o controle da rouparia de cama e
a qualificação das equipes de limpeza. “Havia um índice
de retorno de pacientes por conta de infecções e, depois desses
procedimentos, estamos há três meses sem esse tipo de retorno”,
exemplificou.
Estiveram
presentes os deputados Subtenente Bernardo (PROS),
Enfermeira Rejane (PCdoB), relatora da comissão, Doutor
Serginho (PSL), Martha Rocha (PDT), Max Lemos (MDB) e Renan
Ferreirinha (PSB).