José Carlos Alcântara, foto Facebook |
Todos que vivem aqui desde outros tempos, e se lembram da
grande alegria da população de Búzios recebendo a notícia da emancipação,
questionam agora onde é que foi parar toda a euforia que deu lugar à
perplexidade de seus moradores, diante do quadro atual de insatisfação com os
rumos políticos da cidade. É como se estivessem submetidos a um ritual de
passagem, ou a uma prova obscura do amadurecimento político da sua população.
Ao comemorar seus dezoito anos em 2013, Búzios caminhava
para assumir responsabilidades de uma jovem que, como tantas outras, tinha lá
os seus problemas, os seus vícios e maus costumes adquiridos na adolescência,
precisando apenas de ajuda para resolve-los e continuar a ser cortejada; não
apenas como uma mulher bonita; mas para continuar a ser elegante, cheia de
atitude e pronta para enfrentar a cobiçada vida de musa do turismo no Brasil.
Daí, ter havido tanta insistência na importância daquelas
eleições em 2012, quando deveríamos ter uma atenção redobrada, pois os nossos
habitantes iriam escolher seu prefeito e seus vereadores, para serem os tutores
da adolescente rebelde, que ainda teimava em se comportar como uma jovem rica e
mimada; quando era na verdade, apenas uma filha metida e perdulária; já então
com sinais visíveis de empobrecimento e do seu envelhecimento precoce.
Os problemas enfrentados pelas suas irmãs (as cidades
vizinhas), já haviam degradado-as a tal ponto, que a recuperação delas nos
parecia impossível e sempre eram citados como exemplos a serem evitados, para
que Búzios pudesse conseguir preservar o seu charme e não se deixasse
contaminar pela peste da ocupação desordenada e a falta do planejamento da sua
mobilidade urbana. O que destruiria sua paz, como fizeram ao desfigurar a
aparência de suas parentes mais próximas.
Búzios ainda tinha direito a seu sonho de debutante. O sonho
de poder ser apresentada ao mundo vestida com simplicidade, mas com classe e
requinte, ressaltando o glamour e a beleza que seu passado exigia. Para tanto,
ela deveria exibir suas ruas bem pavimentadas, limpas, seguras e com boa
iluminação, com calçadas floridas e elegantes, por onde seus turistas e
moradores poderiam caminhar encantados, exclamando alto:
“É uma cidade linda!... Além de possuir belas praias e
paisagens maravilhosas, ainda se dá ao luxo de oferecer aos seus habitantes,
uma das melhores qualidades de vida do Brasil. Por isso ela é considerada como
o quinto destino turístico mais procurado. Os seus habitantes, além de receber
uma educação exemplar, contam com um padrão de serviços de saúde, transporte e
segurança da melhor qualidade, vivendo felizes numa cidade rica, que é uma
referência e sinônimo de bom gosto”.
Mas, em vez de ter dado adeus às ilusões perdidas, guardando
para sempre as boas lembranças da velha aldeia de pescadores, Búzios não está
conseguindo mostrar ao mundo, que pode se tornar numa cidade saneada, com
urbanismo integrado à sua beleza natural, com serviços de transporte eficientes
e com políticas públicas adequadas a uma economia baseada no turismo
sustentável.
Infelizmente, para os seus turistas e moradores, não é bem
isso o que ocorre hoje por aqui. O que nos resta agora, é termos que conviver
com um futuro incerto. Vendendo nossas velhas ilusões perdidas, como a garantia
que nos resta para atrair turistas, sabendo que se este quadro atual não for
logo revertido, nada nos distinguirá das demais cidades da Região dos Lagos.
Tumultuadas e inseguras, sem identidade cultural e sem qualidade de serviços
para sustentar o seu desenvolvimento, nem para poder prover o bem estar de seus
habitantes no futuro.
José Carlos Alcântara
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