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domingo, 13 de dezembro de 2015

O dia que o laranja morreu

Conheci o laranja há mais ou menos 10 anos. Na Rasa. Era um negro bonito, jovem, com mais ou menos 30 anos. Pelo que eu sei, como muitos jovens envolvidos na política buziana, nunca trabalhou de verdade na vida. Digo de verdade, em uma empresa, encarando o mercado de trabalho que, pelas suas qualificações, lhe permitiria auferir apenas pouco mais do que um salário mínimo. Mas pelo seu "trabalho" na política buziana faturava quatro vezes mais do que isso.

Como ele, muitos jovens buzianos foram atraídos para esse tipo de atividade política. Nela dois caminhos são oferecidos. Existem aqueles que se cacifam pra vagabundagem permanente disputando eleições pra perder, desde que consigam cento e poucos votos. Com isso, desempenham a contento seus papeis de bucha para eleger determinado vereador, que vão lhes render um salário razoável no futuro governo. São candidatos de araque. Só estão ali na nominata pra enganar o otário do eleitor, em troca de um carguinho. Conheço em Búzios, uns 10 que vivem nesse metiê desde a emancipação. 

São "profissionais" da política buziana. Montam um grupo em determinado partido, que chamam de grupo político, mas que mais se parece com um quadrilha formada para assaltar cargos públicos. Digo assalto porque sustentar durante quatro anos 14 ou 18 pessoas de uma nominata de vereadores custa muito caro. Entra governo e sai governo, e eles sempre estão aí.

Nosso laranja não era dessa vertente política. Ele não tinha votos. Tinha até dificuldade de expressão verbal. Era da outra vertente. Podemos dizer que ele era da parte econômica da política buziana, emprestando seu nome como laranja de de um vereador, ou mesmo de um Prefeito, já que estes não podem contratar com a Prefeitura.

Sempre desconfiei do meu amigo. Não entendia como um jovem saudável como ele nem estudava nem trabalhava.  Mas, apesar de ter sentado algumas vezes comigo em bares e restaurantes, nunca deu a menor pista de sua atividade empresarial clandestina. 

Foi então que recebi a notícia de sua morte. Peço que me perdoem não revelar a causa mortis porque se o fizesse revelaria o seu nome. Não quero nominá-lo. Posso adiantar, apenas, que sua morte foi um choque para todos. Ninguém podia compreender que um jovem como ele, quase atlético, pudesse morrer naquelas condições. Só se estivesse embriagado. Mas confesso, ele não era apreciador de bebidas alcoólicas. 

Não sou muito chegada a enterros. Depois que perdi meu pai com 8 anos de idade, decidi evitar o máximo possível a ida a cemitérios. Mas, não sei bem o porquê estava lá no enterro do laranja. Não tinha tanta amizade assim com ele para tal gesto. Inexplicavelmente, estava lá no Cemitério de Santana. Da mesma forma não entendia a razão da presença de quase toda a administração municipal no velório, prefeito incluído. Pô, cheguei a pensar, o cara era muito querido. 

Mas cidade pequena é fogo. Tudo se descobre. Não é que o laranja tinha um filho com a filha da mulher de um estrangeiro amigo meu. Da militância política ligada à oposição. Ele me contou que recebeu em sua casa, no mesmo dia do falecimento do laranja, a visita nervosa de um emissário do Prefeito e do vereador, que fora buscar com a viúva a documentação da empresa terceirizada que prestava serviços para a Prefeitura. Foi dessa forma que descobri que meu amigo era um laranja, assim como tantos outros que ainda "militam" na suja política buziana. Para acabar com o imenso laranjal buziano, basta que se consiga a quebra de sigilo bancário, fiscal e telefônico deles. São todos muito conhecidos. Assim, veremos cair uma laranja após outra da podre árvore política buziana.

Comentários no Facebook:

Comments
Julio Medeiros Esse era um laranja duro, ao contrário de outros que não se contentaram com as merrecas oferecidas e hj andam de carros caros e não escondem suas belas e confortáveis casas.
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Thomas Sastre LARANJA MADURA EM A BEIRA DA ESTRADA ,OU ESTA BICHADA OU TEM MARIMBONDO EM O PÉ ,,POIS ZÉ ...
Geovane Candido Hernandes Fiquei curioso... rs

                            

quinta-feira, 1 de maio de 2014

Revisitando as ilusões perdidas

José Carlos Alcântara, foto Facebook
Todos que vivem aqui desde outros tempos, e se lembram da grande alegria da população de Búzios recebendo a notícia da emancipação, questionam agora onde é que foi parar toda a euforia que deu lugar à perplexidade de seus moradores, diante do quadro atual de insatisfação com os rumos políticos da cidade. É como se estivessem submetidos a um ritual de passagem, ou a uma prova obscura do amadurecimento político da sua população.

Ao comemorar seus dezoito anos em 2013, Búzios caminhava para assumir responsabilidades de uma jovem que, como tantas outras, tinha lá os seus problemas, os seus vícios e maus costumes adquiridos na adolescência, precisando apenas de ajuda para resolve-los e continuar a ser cortejada; não apenas como uma mulher bonita; mas para continuar a ser elegante, cheia de atitude e pronta para enfrentar a cobiçada vida de musa do turismo no Brasil.

Daí, ter havido tanta insistência na importância daquelas eleições em 2012, quando deveríamos ter uma atenção redobrada, pois os nossos habitantes iriam escolher seu prefeito e seus vereadores, para serem os tutores da adolescente rebelde, que ainda teimava em se comportar como uma jovem rica e mimada; quando era na verdade, apenas uma filha metida e perdulária; já então com sinais visíveis de empobrecimento e do seu envelhecimento precoce.

Os problemas enfrentados pelas suas irmãs (as cidades vizinhas), já haviam degradado-as a tal ponto, que a recuperação delas nos parecia impossível e sempre eram citados como exemplos a serem evitados, para que Búzios pudesse conseguir preservar o seu charme e não se deixasse contaminar pela peste da ocupação desordenada e a falta do planejamento da sua mobilidade urbana. O que destruiria sua paz, como fizeram ao desfigurar a aparência de suas parentes mais próximas.

Búzios ainda tinha direito a seu sonho de debutante. O sonho de poder ser apresentada ao mundo vestida com simplicidade, mas com classe e requinte, ressaltando o glamour e a beleza que seu passado exigia. Para tanto, ela deveria exibir suas ruas bem pavimentadas, limpas, seguras e com boa iluminação, com calçadas floridas e elegantes, por onde seus turistas e moradores poderiam caminhar encantados, exclamando alto:

“É uma cidade linda!... Além de possuir belas praias e paisagens maravilhosas, ainda se dá ao luxo de oferecer aos seus habitantes, uma das melhores qualidades de vida do Brasil. Por isso ela é considerada como o quinto destino turístico mais procurado. Os seus habitantes, além de receber uma educação exemplar, contam com um padrão de serviços de saúde, transporte e segurança da melhor qualidade, vivendo felizes numa cidade rica, que é uma referência e sinônimo de bom gosto”.

Mas, em vez de ter dado adeus às ilusões perdidas, guardando para sempre as boas lembranças da velha aldeia de pescadores, Búzios não está conseguindo mostrar ao mundo, que pode se tornar numa cidade saneada, com urbanismo integrado à sua beleza natural, com serviços de transporte eficientes e com políticas públicas adequadas a uma economia baseada no turismo sustentável.


Infelizmente, para os seus turistas e moradores, não é bem isso o que ocorre hoje por aqui. O que nos resta agora, é termos que conviver com um futuro incerto. Vendendo nossas velhas ilusões perdidas, como a garantia que nos resta para atrair turistas, sabendo que se este quadro atual não for logo revertido, nada nos distinguirá das demais cidades da Região dos Lagos. Tumultuadas e inseguras, sem identidade cultural e sem qualidade de serviços para sustentar o seu desenvolvimento, nem para poder prover o bem estar de seus habitantes no futuro. 

José Carlos Alcântara 


domingo, 27 de abril de 2014

Vovó e o revide

Aldir Blanc, foto sociedadeblog
Pois não é que roubaram o Vasco de novo?

Oi, Vó Noemia. Sinto uma saudade que me enlouqueceria não fossem as filhas, netos e até bisneto. O Ceceu, seu genro, apesar de ter sido desenganado umas 20 vezes pela mistura de cigarros com asma, jogatina e birita, está vivo, com 91 anos e tomando cervejinha. A senhora fez muito por mim e não pude agradecer. Eu corria pela Muda até a Rua Uruguai para lhe aplicar, sei lá, centenas de injeções, sempre com medo de não chegar a tempo. Na única vez em que lhe internaram, estava me vestindo, sabendo que ia ser a despedida, quando tia Cicinha telefonou. A senhora havia morrido. Isso me persegue até hoje. Quero agradecer também porque a senhora era de Cascadura. Se fosse de Shrophshire, feito a avó do escritor Julian Barnes, meus dentes de cima voariam ao pronunciar isso. Valeu!

A senhora não trazia desaforo para casa: era a primeira a xingar e distribuir suas famosas vassouradas (nada a ver com Jânio). Lembro que a senhora vestia seu melhor “costume”, um conjunto de saia e paletó azuis com debrum mais claro na gola, calçava sapato alto de furo pro dedão e botava um chapeuzinho com véu para ir bater em cunhados agressivos. Entrava no táxi do desesperado seu Joaquim de vassoura em punho.

Foi com a senhora que aprendi a revidar, a não permitir que empurrem os meus para dentro de guetos políticos, raciais, socioeconômicos, e até esportivos.

Pois não é que roubaram o Vasco de novo?!? Desta vez, os larárbitros “não viram” — o soprador de apito, o bandeirola e o palhaço defecando na linha de fundo — o impedimento gritante. Vó, isso é cegueira coletiva ou formação de quadrilha? O mais grave é que, antes do jogo, a mulher do firififi cantou a pedra...

Uns idiotas, essa quadrilha que o Saldanha denunciava como “imprensa rubro-negra”, também antes da partida, bolaram uma manchetosca, num jornalzinho desses que a turma leva pra necessidades no banheiro da Central, “Pintou o vice”. Explique a esses iletrados que vice é o segundo em uma competição. Já desclassificado em casa, diante de 55 mil trouxas no Maracoxinha (sacada do jornalista Mauro Cezar Pereira), constitui um tremendo vexame. Desclassificado é vigésimo, lanterna, por aí. Dois atletas se destacaram na roubalheira: Guiñazú, que escondeu uma fratura no pé para jogar, e o goleiro deles, autor da pérola de lama “roubado é mais gostoso”. Se continuar assim, vai pegar uma jaula ao lado do colega Bruno, sequestrador, assassino hediondo e ocultador de cadáver. Incentivar o roubo é incitação ao crime. Mas é bom pro nosso futebol tão avacalhado ressaltar a diferença entre um atleta que se sacrifica pelo clube, enquanto outro fala feito um cafajestezinho de quinta categoria, né? Ah, ia esquecendo! Cartolas são quase sempre desprezíveis, mas faz tempo não vejo um badareca tão panaca feito esse presidente do Leónfla. Nem mala o bicão é, só mochilinha sem alça.

Pelo andar da carruagem, noite dessas tô aparecendo pra matar a saudade, no maior astral, garrafa em punho. Faz ensopadinho de agrião. Beijo.

Aldir Blanc