|
Renan Calheiros, foto G1 |
O
jornal O Estado de São Paulo publicou recentemente reportagem em que
garantia que o "Palácio do Planalto teria atuado nos
bastidores, nos últimos dias, para que o Supremo Tribunal Federal
(STF) adiasse o julgamento que podia complicar a vida do presidente
do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL)". O
jornal se referia ao julgamento da "ação pedindo que réus
sejam impedidos de ocupar cargos na linha sucessória da Presidência
da República", que ocorreu ontem (3), quinta-feira. O governo
pretendia adiar o julgamento porque avaliava que "este
cronograma seria inconveniente do ponto de vista político".
Ainda
segundo a reportagem, "dois auxiliares do presidente Michel
Temer teriam procurado informalmente ministros da Corte para falar do
momento inoportuno de se julgar a ação apresentada pelo partido
Rede Sustentabilidade. Na prática, o Planalto tem feito de tudo para
não contrariar o senador peemedebista, às vésperas da votação da
Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 241 no Senado, que na Casa
segue como PEC 55".
Assim,
alastrou-se fortemente o boato de que o presidente Michel Temer teria
pressionado o STF para salvar Renan Calheiros.
O
temor no governo era de que uma decisão imediata do STF, proibindo
que um réu ocupe cargo na linha sucessória da presidência, pudesse
atingir Renan Calheiros. Presidente do Senado e segundo na linha
sucessória, Renan não é réu, mas é investigado no STF em 11
inquéritos, dos quais oito da Operação Lava Jato.
Recentemente o ministro do STF Edson Fachin liberou para julgamento uma denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) contra Renan. Na denúncia a Procuradoria-Geral da República considerou que Renan recebeu propina da construtora Mendes Júnior para apresentar emendas que beneficiariam a empreiteira. Em troca, o senador peemedebista teria as despesas pessoais da jornalista Monica Veloso, com quem o parlamentar mantinha relacionamento extraconjugal, pagas pela empresa. A investigação tramita na Corte desde 2007 e a acusação foi formalizada em 2013. Caso o plenário do Supremo aceite a denúncia, ele se tornará réu e responderá a uma ação penal por peculato, falsidade ideológica e uso de documento falso. A data desse julgamento, no entanto, ainda não foi definida.
A
avaliação no governo é que, se a decisão no STF sobre linha
sucessória tivesse saído nesta quinta, teria havido pressão para que essa denúncia contra o presidente do Senado fosse aceita pela Corte.
O
temor no Planalto era que, nesse cenário, o Senado passaria a ser
comandado pelo vice-presidente da Casa, o petista Jorge Viana. Além
disso, criaria uma instabilidade política no momento em que o
governo espera a conclusão, ainda neste ano, da análise da PEC que
estabelece um teto nos gastos públicos.
"O
cenário ideal para o Planalto seria que a decisão sobre a linha
sucessória fosse postergada, mesmo porque Renan deixará a cadeira
de presidente do Senado em fevereiro de 2017, quando haverá eleição
para renovar o comando do Congresso".
"O
feriado da quarta-feira ainda poderia ajudar o governo. Com um
plenário esvaziado, o STF poderia acabar mesmo adiando o julgamento
da ação movida pela Rede. Para que houvesse quórum e a matéria fosse apreciada seria necessária a presença de oito dos onze ministros".
"O
ministro Gilmar Mendes não participou do julgamento por ter tirado
dias de folga no exterior. Ricardo Lewandowski, por sua vez, esteve
na quinta-feira em Porto Seguro, na Bahia, onde fez a palestra de
abertura do 6.º Encontro Nacional de Juízes Estaduais
(Enaje). Existiria ainda a possibilidade de que um dos ministros
presentes à sessão se declaresse suspeito para analisar o caso ou pedisse vista, adiando o julgamento".
Realmente um dos ministros se declarou suspeito. Luís Roberto Barroso não participou do julgamento, porque membros do seu antigo escritório de advocacia participaram da elaboração da peça. Embora, pelas regras do Tribunal não exista impedimento em ações constitucionais, Barroso costuma não participa de nenhum julgamento que envolva interesse de seus antigos colegas de escritório. Foi o que explicou o blog do Moreno.
Mesmo assim o julgamento prosseguiria, pois estavam aptos a votar 8 dos ministros. Era necessária mais uma declaração de suspeição ou pedido de vista, para o governo Temer conseguir o que queria. E não foi o que aconteceu! Um dos ministros do
STF, Dias Toffoli, pediu vistas, adiando o julgamento sine die. Com
isso, o senador Renan Calheiros não foi contrariado às vésperas da
votação da PEC 241, atual PEC 55 no Senado. Cabe então a pergunta:
o que leva um ministro do STF a ajudar o governo Temer? O Poder Judiciário não é independente?
Segundo
o site jornal da cidade online o ministro
que pedir vista no processo de Renan estará demonstrando
subserviência a Temer. "Uma
coisa parece clara, caso algum ministro peça vistas no processo e,
em consequência, adie a votação, estará evidenciado o seu
envolvimento com o executivo. O Judiciário tem que ser
independente e não pode, em hipótese alguma, caminhar atrelado ao
executivo. Os ministros do STF estão lá, em tese, para fazer
prevalecer a Justiça. Depois de tanto tempo, não cabe agora
pedido de vistas".
Moreno, em seu blog, diz não crer "que o Supremo atenda apelos pró-Renan". "Mas se a sessão de
amanhã for adiada, terei todo o direito de pensar mal da nossa
Corte... Se a
sessão for adiada por conta de pedido de vista, se alguém fizer
isso é porque tá de maracutaia com Renan. Anotem o nome de quem
pedir vista".
Em
nota, Renan disse que a decisão do STF não pode prejudicá-lo. “O
presidente do Senado não é réu em qualquer processo e, portanto,
não está afetado pela manifestação do STF, ainda inconclusa”,
escreveu. Afirmou ainda que os inquéritos contra ele, por “ouvir
dizer” ou por “interpretações de delatores”, e premonitório, garante que todos eles serão
arquivados. Renan Calheiros disse a aliados que "não está preocupado" com o julgamento no STF, segundo o Estadão. Os jornalistas do site antagonista concordam, pois ele "pode contar com Michel Temer, com Dias Toffoli, com o foro privilegiado e com o tempo de prescrição. Não há motivo para se preocupar".
Segundo o jornalista Josias de Souza, o STF
mostra que a Justiça tarda, mas não chega. "O
Supremo Tribunal Federal demonstrou nesta quinta-feira que a Justiça
não é apenas cega. Sua balança está desregulada. E a espada
perdeu o fio... Costuma-se
dizer que os ministros do Supremo estão sentados à direita de Deus.
No caso de Toffoli, ficou entendido que, o ministro está sentado ao
lado de alguém que se considera acima de Deus". Com o seu pedido de vista, "beneficiou
uma única e suprema divindade: o presidente do Senado Federal".
"Ao
protelar o veredicto, o Supremo estendeu um tapete vermelho para que
Renan Calheiros desfile seu rastro pegajoso de processos no comando
do Senado até fevereiro de 2017, quando termina sua presidência. O
senador responde a 12 processos no Supremo. Uma denúncia que poderia
convertê-lo em réu aguarda por um julgamento há 3 anos e oito
meses".
"Ao
poupar Renan, o Supremo ajuda o investigado. Socorre também o
governo Michel Temer, que trata o encrencado como herói das reformas
no Senado. A Suprema Corte só não ajuda à sociedade brasileira,
atormentada pela constatação de que a Justiça tarda, mas não chega".