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Grafite de Marielle (Foto: Daniel Ramalho/AFP) |
Sonho
da vereadora do PSOL de multiplicar número de mulheres no poder
legislativo se realiza
“A
presença de Marielle Franco nas eleições de 2018 foi nacional.
Candidatas de outros estados disseram ao JORNAL DO BRASIL que a
vereadora do PSOL — morta a tiros em março, assim como seu
motorista Anderson Gomes — inspirou fortemente a participação
delas no pleito. No post em que comemora sua eleição, a
vereadora Aúrea Carolina (PSOL), deputada federal com o
maior número de eleitores em Minas Gerais, com 162.740 votos,
escreveu “#MarielleVive;ElasSim”. “Marielle lutava pela
presença de mais mulheres negras na política, para que mandatos
feministas e antirracistas e periféricos pudessem se multiplicar”,
disse Áurea Carolina ao JB.
Em
São Paulo, Mônica Seixas, eleita deputada estadual,
disse que sua candidatura foi construída com Marielle. “Ela nos
deixou uma responsabilidade e abriu alas para milhares de negras
passarem. A luta antirracista e por direitos humanos se reforçou em
um momento de grande retrocesso nos legislativos do país”, disse a
parlamentar, que passou a ser a terceira mulher negra a chegar à
Assembleia Legislativa de São Paulo — Leci Brandão
do PCdo B se reelegeu.
Amiga
de Marielle desde que dava aulas no vestibular da Favela da Maré, a
vereadora de Niterói Talíria Petrone agora é
deputada federal. Ela e Marielle fizeram uma dobradinha forte nas
eleições de municipais de 2016, quando algumas vezes Marielle foi a
Niterói fazer campanha ao lado da amiga, e Talíria também ia ao
Rio panfletar com ela. “A decisão da minha candidatura ao
Congresso Nacional foi construída sob inspiração de Marielle. A
morte dela nos dá uma imensa responsabilidade de manter suas pautas
cada vez mais presentes no debate. Precisamos lutar contra o
homicídio dos jovens negros, por um novo modelo de segurança
pública nas favelas e na periferia por cidades mais dignas às
mulheres, como fazia Mari”, afirmou Talíria, que obteve mais de
cem mil votos. “Renata Souza, Dani Monteiro e Mônica
Francisco formam a maior bancada de mulheres na Alerj”,
ressaltou Talíria, citando candidatas que integravam o gabinete de
Marielle.
Renata
Souza, que como Marielle nasceu na Favela da Maré, passa a
frequentar a Alerj com um lastro de ativismo em comunidades. Mônica
Francisco, por sua vez, é uma forte liderança da Favela do
Borel. Também integrante do mandato de Marielle, ela lembra que
recebeu um recado bem direto em relação à sua candidatura: “Eu
disse a ela que ainda não estava pensando em ser parlamentar, e ela
me olhou e disse: ‘É bom você ir pensando’”.
Dani
Monteiro, por sua vez, recorda que Marielle insistia que
mulheres negras e faveladas eram eleitas rarissimamente, como Jurema
Batista e Benedita da Silva e que isso deveria mudar
urgentemente: “Isso incomodava muito a Mari. Ela liderou encontros
históricos com mulheres aqui no Rio e em outros estados para mudar
isso. E não há dúvida de que Marielle realizou essa
transformação”.
Para
Mônica Freitas, essa transformação vai se
solidificar ainda mais nas eleições municipais em 2020: “Nós
estamos nos comunicando com frequência. Mulheres negras e
periféricas de diferentes estados estão cada vez mais unidas. Esse
é o legado que ela nos deixou”. Marielle fazia um tipo de política
que trazia os problemas reais à Assembleia Legislativa. “Sua
proposta de um transporte sem assédio a mulheres é de quem sabia a
realidade do transporte público. Era a vida real de que ela
tratava”, disse Mônica Francisco”.
Rogério
Daflon