José Carlos Alcântara |
Mais de 11 mil empregos com carteira assinada foram,
perdidos no último mês em todo o estado do Rio de Janeiro. Este é o pior
resultado para um mês de fevereiro, desde que o levantamento começou a ser
feito em 1992. Segundo o mapa nacional do desemprego do Ministério do Trabalho,
o comércio foi o setor que mais fechou postos: 6.010. Em seguida vem a
construção civil, com 4.043 demissões e a indústria de transformação, com 2.544 postos fechados.
Em São Gonçalo, não é difícil encontrar desempregados
distribuindo os seus currículos em busca de uma oportunidade no mercado. A todo
momento, as pessoas entram à procura de emprego no posto do Sine, um dos que
atendem aos empregados demitidos do Comperj - Complexo Petroquímico do Rio de
Janeiro. Com a súbita desaceleração dessas obras, o município registrou a maior
queda percentual e mais de 1.200 empregos formais já foram fechados.
Mas, foi a cidade do Rio de Janeiro que teve a maior perda
absoluta. Fevereiro terminou com 2 mil empregos a menos, (1.993). A fila do
seguro desemprego, que pode ser observada no centro, começa antes do amanhecer.
Economistas afirmam que esse resultado ruim, está diretamente ligado aos
problemas da Petrobras e ao fim dos empregos temporários comuns na virada do
ano.
A construção do Comperj, em Itaboraí, prometia transformar a
região num novo eldorado do petróleo. Mas, para ao menos 15 mil trabalhadores o
sonho acabou, por causa das demissões após o início da crise da Petrobras e,
muitos ex-empregados vindos de Minas Gerais ou do Nordeste, não receberam a
multa por rescisão de contrato e agora passam por dificuldades e, sem poder
retornar aos seus locais de origem, a cidade ficou estagnada.
Em todo o Brasil, somente os canteiros de obras do Comperj
(mais de 15 mil demissões); da Refinaria Abreu e Lima, em Ipojuca, Pernambuco
(22 mil); e da Unidade de Fertilizantes Nitrogenados (UFN3), em Três Lagoas,
Mato Grosso do Sul – alguns dos principais projetos de infraestrutura da
Petrobras – somam ao menos 37 mil demissões. Por causa das mudanças no modelo
de gestão, a empresa já vinha cancelando ou revisando seus contratos com
empreiteiras.
Com o início da Operação Lava Jato e a divulgação do
envolvimento de construtoras em casos de corrupção, as dificuldades aumentaram
e as demissões em todo o Brasil se aceleraram, num prenúncio de que a crise da
maior empresa brasileira, poderá gerar um impacto ainda maior na economia
brasileira. "Todas as empresas envolvidas na Operação Lava Jato estão
demitindo em massa e existem empreiteiras que abandonaram a Refinaria Abreu e
Lima sem deixar a obra pronta", diz o coordenador de fiscalização do
Sintepav-PE.
"Muitos empregados pediram demissão e ainda não
receberam o valor inteiro da rescisão." E a situação deve piorar. Pois,
sem dinheiro, muitas empresas – como a Alumini Engenharia (ex-Alusa) e a Iesa
Óleo e Gás – solicitaram a entrada em processo de recuperação judicial depois
que a estatal interrompeu os repasses dos pagamentos. A crise afeta não só
empreiteiras, mas também os estaleiros envolvidos na construção de plataformas
e navios-sonda.
A Justiça aceitou o pedido de recuperação judicial da
Alumini Engenharia, uma das empreiteiras que mais demitiu no Comperj e na
Refinaria Abreu e Lima. A empresa alega que tem 1,2 bilhão de reais a receber
da Petrobras. "É muito difícil estimar o impacto da crise. Até porque não
sabemos se ela está no começo ou no meio. Mas, com certeza, não está no fim. A
Petrobras entrou em crise num momento em que o país também está em crise. Essa
coincidência é muito perversa", afirma Adriano Pires, diretor do Centro
Brasileiro de Infraestrutura.
Para o economista Márcio Salvato, do Ibmec-MG, os problemas
na Petrobras vão gerar um efeito em cascata na economia brasileira, já marcada
pelo baixo crescimento e pelas medidas de austeridade anunciadas pelo governo
federal. Para as empresas que têm contratos só com a estatal, é esperado um
período muito conturbado. Em alguns casos, não é possível descartar a falência.
"Para as que têm menor dependência da estatal, haverá problemas para
substituir a carteira de clientes, porque o nível da atividade econômica
brasileira está caindo e as atividades de investimentos e obras também devem
desacelerar. Com isso, não haverá espaço para todos os trabalhadores
demitidos", afirma Salvato.
José Carlos Alcântara
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