domingo, 18 de agosto de 2013

EU JÁ SABIA ...

Carlos Terra lendo a Revista Piauí
A expressão se vulgarizou para falar de consequências previsíveis quando de sua consumação. Vou utilizá-la fazendo as vezes de dois famosos expoentes do conhecimento humano, nada mais nada menos que Wernher Von Braun e Albert Einstein.

Esses dois físicos são os pais incontestes de nossa ousadia espacial e da manipulação do poder atômico para os mais diversos fins. Não resta dúvida de que sabiam das coisas. 

É conhecido o desencanto de ambos com relação ao uso de suas excepcionais invenções para fins militares. Várias foram as declarações de ambos de desagrado quanto às consequências catastróficas para a humanidade do uso destruidor de suas invenções maravilhosas a exemplo das bombas V-2 sobre Londres e Antuérpia e as bombas atômicas de Nagazaki e Hiroshima. Fácil de imaginar qual o sentimento do criador quando de frente com as consequências de sua genialidade. 

Até aqui nada demais, uma vez que tudo isto é de domínio público e já foi objeto de vários estudos, publicações, faz  parte do passado. Terão esses gênios se preocupado só com as consequências de destruição material causada por seus inventos ou imaginaram eles que outras mazelas deles poderiam resultar?. Um pensamento de Einstein revela toda a sua preocupação com a evolução do conhecimento e se antecipa setenta anos à realidade. 

Certa feita, lidando com suas dúvidas quanto à utilização do conhecimento, revelou: “Tenho medo do dia que a tecnologia vai se sobrepor à interação humana. O mundo terá então uma geração de idiotas”. O medo que  Einstein tinha ontem, hoje se transformou em realidade, sobre a qual devem os pais meditar responsavelmente, avaliando as consequências que o vício coletivo da reclusão dos jovens à solidão da tela de um computador, terá  na interação da sociedade de amanhã quando, a continuar assim, a afetividade interpessoal deixará de existir.

Nostalgicamente, recordo-me de quantas vezes recorri ao meu velho pai para desfrutar de seu conhecimento sobre quase tudo e quanto me encantava saber e a experiência que ele possuía. Eu o admirava e o tinha como exemplo porque sabia de seu valor como pessoa. Por outro lado, participava das reuniões da minha família por interesse, uma vez que eram frequentes e de presença obrigatória. Inesquecível também, é que a presença de todos os membros da família na hora das refeições era imperiosa e impensável se ausentar antes que meu pai o fizesse. O mundo era assim e não  só na minha família, o mundo de ontem, de Einstein e Von Braun era assim. 

Meu espírito crítico percebe que o avanço da tecnologia tem ocorrido em escala geométrica face ao barateamento dos receptores de informação, haja vista que simples celulares têm capacidade de comunicação e armazenamento de dados impensáveis há poucos anos atrás. 

Recentemente, em um restaurante de bastante frequência, na hora do almoço, havia um grande número de crianças e adolescentes e pude constatar que todos, sem exceção, estavam confinados com a sua “máquina”, totalmente ausentes no microambiente das suas mesas.

Pode parecer nostalgia, mas recordo do bando de moleques tijucanos que se reuniam para jogar futebol, brincar de pique, jogar bola de gude, pião, uma interação social impórtante na formação do caráter de cada um, eis que nesse convívio, éramos obrigados a enfrentar diferenças, desafios, obstáculos, cuja solução dependia de cada um, de improviso, exercitando a capacidade de escolha e gerando confiança individual e, mais do que isso, despertando o sentimento de que coletivamente somos mais fortes, pois os conflitos com os grupos vizinhos eram constantes. Fascinado por esse  convívio, minha mãe reclamava diariamente da sofreguidão com que fazia meus exercícios escolares para  ir ao encontro dos meus amigos do bairro. Assim aconteceu com todos da minha geração e hoje, aos 71 anos, posso assegurar o quanto foi importante o círculo de convivência de minha infância e  adolescência, na minha vida pessoal e profissional.

Voltando à assertiva de Einstein de que “ o mundo terá então uma geração de idiotas” e apoiando-me nela, pergunto com preocupação: o que fazer para evitar?. Não acredito que exista uma receita genérica mas, sem sombra de dúvida, alguma coisa urgentemente há que ser articulada coletivamente pela sociedade para evitar a catástrofe profetizada por Einstein e em paralelo,  os pais precisam se conscientizar das consequências dessa histeria coletiva e, cada um agir no ambiente de seu lar para racionalizar o uso adequado da tecnologia, obrigando seus filhos a frequentar ambientes coletivos, a praticar esportes e outras atividades tais  que sejam capazes de afastá-los da escravidão da “maquininha”.

Carlos Terra 

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