Thomas Sastre |
"Não somos como nos vemos
A construção da política cultural e social transladou-se da cidade para os
meios de comunicação, ilustrando-a apenas em uma tela.
É assim como a mídia mostra nosso modo de ser, e ao desenvolvermo-nos
respondemos com desprezo ao que é diferente.
Com o mesmo propósito com que se festeja no mundo todo a Diversidade
Cultural, paira uma esperança, de que nesse ano do governo do Dr. André Granado
e o respectivo Secretário de Cultura Alexandre Raulino de Oliveira,
recuperaremos a nossa auto-estima cultural, e retomaremos a ideia de uma cidade sem fronteiras,
reivindicando os diversos modos de ser de cada cidadão buziano.
Búzios nunca foi uma cidade homogênea e por isso jamais pode definir-se
culturalmente uniforme. Mas assim mesmo há um paralelismo com o ideário de um
município integrado.
Esta cidade passou sua vida dissimulando origens, escondendo embaixo dos
tapetes dos governos as diversas etnias que povoaram a aldeia de pescadores,
misturando ou liquidando múltiplas identidades, reduzindo grupos sociais com
suas tradições.
Selou-se para a nostalgia atual rótulos como “o paraíso buziano”, mas o
tempo e a história se encarregam de mostrar-nos na cara que não somos puros
como nos vemos. Somos parte de uma sociedade deslumbrada, sábios e eruditos,
apenas isso.
Apesar desses falsos valores, os nativos e os imigrantes de outros estados
e países marginalizados pela exclusão social, podem suportar o trabalho e a
exploração com mais dignidade de quem os gera.
As expressões musicais nas periferias geram sempre muitos adeptos, mas seu
clube de detratores, que é cada parcela da tal dita sociedade buziana,
recrimina depreciativamente cada vez que nega qualquer expressão artística.
E damos um passo pra trás na construção de uma cidade verdadeira, para todos,
sem fronteiras urbanas intransponíveis, com menos violência, com uma ideia de
concórdia e bem estar.
Uma tarefa nada fácil, pois ademais de toda essa riqueza de identidade que
povoa o município, considerada pobreza aos olhos do sistema, existe uma expressão cultural que encarna os
humildes, e assim mesmo não podem tirar-se de cima deles o estigma de cidadãos
de segunda classe. Estas manifestações que não são pensadas, espontâneas, sem a
menor ideia de que podem ser mal divulgadas. A partir das políticas culturais
bem divulgadas, como subculturas de bairros, não podem passar despercebidas aos
olhos dos políticos.
Devem pleitear-se seriamente sua gestão, tendo em conta a diversidade cultural, como um modo de
garantia de que todas essas expressões que se encontram fragmentadas em Búzios,
tenham a possibilidade de existir, de ter visibilidade e reconhecimento como
uma estratégia política-cultural para não cairem na armadilha da violência,
como único testemunho de pertinência, e como aval da voluntariedade de ser bem
no meio de uma sociedade que lhe torna
difícil a vida em sua plenitude.
A necessidade de planejar calendários e políticas públicas ,
centralizando-as no eixo da diversidade cultural não implica em trabalhar
simplesmente em um suposto âmbito da cultura. Abarca a esfera do político,
econômico e social de maneira rotunda, pois a negação histórica e sistemática
da diversidade mantém até os dias de hoje uma coleção de novos marginalizados,
desconectados, diferentes e desiguais. Citando um exemplo: Búzios foi sempre
toda direcionada a Rua das Pedras, e ao Centro, sempre em destaque, e o resto,
sempre é o resto.
Existem casos de jovens que desempenham distintos trabalhos e fixam suas
residências em casa de parentes e amigos, que moram no centro, com vergonha de
revelar seu bairro de origem periférica. Existem jovens que não podem ascender
a oportunidade de emprego, e são empurrados para uma realidade de ocupações ilícitas,
ou diretamente condenados a raízes laborativas por carecer de outras
oportunidades que não seja o comércio ambulante.
O mais problemático, as favelas, os bairros inexpugnáveis, os guetos, e
mais frequente que sua construção venha de fora dos meios, e por meios da
indústria cultural, que por não terem (eles), seus habitantes, as ferramentas
para construir sua própria identidade, seus símbolos, suas verdadeiras
representações, seu orgulho pessoal e grupal, acabam se isolando e gerando
atitudes de revolta.
Vamos ser claros e com humildade entenderemos o que é a Diversidade
Cultural, para aqueles que não sabem.
A diversidade Cultural é um conceito essencial, impulsionado de maneira recente por uma
declaração em 2001, e divulgada na Convenção da Unesco em 2004. A Diversidade Cultural não
deve impor-se simplesmente, porque o diálogo entre gente que pensa diferente
soa bonito, atrativo, exótico, tampouco deve implantar-se porque é um exercício
de tolerância, e reconhecimento do outro. A diversidade cultural oferece um
entendimento da complexidade do que é fruto de cada cidadão na atualidade, é
por isso que deve estruturar-se em conjunto, porque a falta de reivindicação
dos grupos sociais, sua omissão, e sua falta de integração na cidade, por parte
dos governos, equivale a oferecê-los como simples objetos das mais variadas
formas de exploração ao que pode submetê-los o mercado.
Para trabalhar em políticas públicas de inclusão de grupos étnicos,
desiguais, e diferentes, índios, negros, brancos, mulatos, amarelos,
rosas...originários, é preciso reconhecer e entender sua capacidade de criação,
tais como artesãos , balés folclóricos , a música popular , forró, pagode,
funk, hip-hop, samba, bandas tradicionais, chorinhos, blocos de carnavais,
cinemas nas praças, (como espetáculo), teatros de bairros , festas tradicionais
(Sta Rita, Santana), músicas eruditas, escola de cinema de bairros, poesias,
escultura, belas artes, circo. A cultura do espetáculo, festival de blues e
cinema já tem seus espaços garantidos e
seu sucesso absoluto na cultura do espetáculo.
É preciso abrir-lhes caminhos para se constituírem imagens poderosas de si
mesmo, através das gestões associadas a alianças com políticas sociais,
reativar casa de cultura nos bairros, dar-lhes um respaldo e uma segurança
cultural séria, programas que garantam a governabilidade em calendários
artísticos, que promovam a inclusão , que ofereçam alternativas de trabalho e
criação.
De fato que a implementação implica a inversão financeira de parte do
município ou estado, em todas as suas inversões, pela qual os municípios
argumentaram em todos os governos nunca ter dinheiro, mas isso não é uma razão
séria e honesta no mundo atual. Nossos municípios vizinhos vem investindo fortunas, financiando a arte
local, e a nós ninguém nos obriga a
converter-nos em vítimas.
Para termos uma cultura sólida, além de pessoas preparadas, sem egos, e
vaidades, há que se ter um Conselho deliberante da cidade, integrado por
pessoas ligadas a cultura, e não a política, evitando-se assim picaretagens
culturais. Criar dentro da secretaria o Instituto da Diversidade, um espaço
singular e inédito de articulação social e cultural.
Uma ideia que deu certo, em vários países, resolvendo a exclusão social e o
analfabetismo em 70 por cento.
O que se espera para o município é que se construa uma Diversidade Cultural
com esperança e justiça".
Thomas Sastre
Nenhum comentário:
Postar um comentário