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Na Praia de João Fernandes, em Búzios, um funcionário da Prolagos faz coleta para análiseGustavo Stephan / O Globo
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João Fernandes, Tartaruga e Ferradura têm estado
impróprias, segundo o Inea
RIO - Com águas cristalinas e peixes coloridos, João Fernandes, Tartaruga e
Ferradura, em Búzios, sempre foram consideradas praias paradisíacas. Mas têm
recebido sucessivos baldes de água fria do Instituto Estadual do Ambiente
(Inea), que considerou as três, na maior parte das análises de balneabilidade
feitas a partir de janeiro deste ano, impróprias para banho, assim como as
praias do Canto, de Armação e Manguinhos. A informação de que o mar de algumas
das principais atrações da cidade estava com índices de enterococos — bactéria
que indica a presença de esgoto — muito acima do permitido provocou reações da
prefeitura de Búzios e chiadeira dos hoteleiros, que temem prejuízos.
— É muito preocupante. Fiquei surpreso,
principalmente com a condenação da Tartaruga, que não tem quase nada, só um
quiosque e uma pousada — diz Tomas Weber, presidente da Associação de Hotéis de
Búzios.
O prefeito de Búzios, Mirinho Braga, candidato à
reeleição, é mais contundente:
— O pessoal do Inea está maluco. As praias estão
limpas.
Para contestar os laudos do Inea, a prefeitura
de Búzios contratou, na última semana, a Prolagos, responsável pelos serviços
de água e esgoto da cidade, a fim de coletar material para novas análises, que
serão feitas pela empresa e por um laboratório do Rio. A ideia, segundo a
secretária de Meio Ambiente de Búzios, Adriana Saad, é que sejam realizados
testes semanais nas áreas apontadas como impróprias pelo Inea. O resultado
buziano — as coletas foram feitas na última quarta-feira — deve sair em, no máximo,
15 dias.
Búzios reclama dos critérios do Inea. A
resolução 274/2000 do Conama estipula que a água está imprópria se tiver índice
superior a 100 NMP/100 ml em duas amostras de cinco semanas consecutivas. Só
que o Inea não faz testes semanais, e sim quinzenais ou mensais. Isso significa
que dois resultados ruins vão fazer com que a praia continue imprópria por um
período muito mais longo do que se a resolução do Conama fosse seguida à risca.
— Isso não quer dizer que erramos. A informação
pode não estar atualizada, mas é melhor do que não ter nenhuma informação —
dizMarilene Ramos, presidente do Inea, acrescentando que, com a ajuda de
Búzios, passará a fazer análises semanais.
Rede de esgoto cobre só metade da cidade
Os 11 testes realizados pelo Inea desde janeiro
mostram uma situação preocupante para os banhistas. Na Tartaruga, o banho foi
considerado não recomendado em seis das análises. Em João Fernandes, oito
vezes. A Ferradura foi condenada em todas as coletas, assim como as praias do
Canto e Armação. Manguinhos figurou sete vezes como imprópria; a praia Brava,
três e a dos Ossos, quatro.
O problema das praias tem diversas explicações.
Como Búzios não tem rede de esgoto em toda a sua extensão — são apenas 42 km de rede, quando seria
necessário pelo menos o dobro — grande parte das casas usa fossas. Em vez de
contratarem caminhões para levar os dejetos quando necessário, muitos moradores
ligam clandestinamente a fossa à rede de águas pluviais, que deságua na praia.
Para evitar que o despejo ocorra diariamente, a Prolagos — que estima em R$ 50
milhões o custo para implantar toda a rede de esgoto — usa um sistema de
captação em tempo seco em algumas regiões. Ou seja, leva o esgoto ligado
clandestinamente à rede pluvial para elevatórias, que o transportam para a
estação de tratamento. Só que o sistema, existente em parte de Geribá e
Ferradura, em Manguinhos, Tartaruga, Brava e Cem Braças, não funciona quando
chove:
— Quando chove, o volume é muito grande e não
conseguimos bombear, vai tudo para o mar. Não é o ideal, mas já melhora — diz
Thiago Maziero, gerente de operações da Prolagos, apontando outro problema. —
Mesmo em áreas onde a rede foi implantada, os moradores não ligam seu esgoto
porque a obra é cara.
Para piorar a situação, Búzios só tem cinco
agentes para fiscalizar as irregularidades em terra, e cinco para problemas no
mar. Segundo a secretária Adriana Saad, um concurso foi feito este ano, e mais
30 fiscais devem ser contratados.
Repórteres do GLOBO percorreram praias de Búzios
e ouviram relatos de despejo de esgoto mesmo em áreas que têm rede, como João
Fernandes. Lá, segundo moradores, o problema ocorre quando a bomba que leva o
esgoto para a elevatória dá defeito, o que teria ocorrido três vezes no último
mês. Funcionário de um quiosque, Niogi Pereira tem uma enxada reservada para as
ocasiões em que o esgoto sai da galeria de águas pluviais:
— Para não sujar toda a areia, faço um caminho
para o mar.
A secretária de Meio Ambiente diz que muitas
vezes a população confunde as águas pluviais, sujas de terra, com esgoto e que
novos testes vão mostrar que as praias estão limpas.