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sexta-feira, 25 de janeiro de 2019

Mulheres fazem ato simbólico em frente ao Hospital da Mulher, em Cabo Frio, após mortes na unidade

Grupo faz ato simbólico em frente ao Hospital da Mulher, em Cabo Frio, no RJ — Foto: Paulo Henrique Cardoso/Inter TV

Ato foi realizado na tarde desta quinta-feira (24) para conscientizar sobre violência obstétrica e reivindicar direitos das gestantes.

Um grupo de mulheres se reuniu em frente ao Hospital da Mulher em Cabo Frio, na Região dos Lagos do Rio, na tarde desta quinta-feira (24) para realizar um ato simbólico de conscientização sobre a violência obstétrica e reivindicar os direitos das gestantes.


O grupo colou cartazes na frente do hospital e distribuiu panfletos e adesivos para orientar outras mulheres sobre o assunto.

Entre as reclamações, está o pedido de que sejam cumpridas as leis que dão direito ao parto humanizado, lei das doulas e lei do acompanhante. O ato aconteceu durante o horário de visita das pacientes.

Associação de Doulas do Rio de Janeiro distribuiu adesivos durante ato em frente ao Hospital da Mulher, em Cabo Frio, no RJ — Foto: Paulo Henrique Cardoso/Inter TV

A Associação de Doulas do Rio de Janeiro participou do ato e informou as mulheres que entravam no hospital sobre a episiotomia, que é o corte feito entre a vagina e o ânus. De acordo com médicos, para facilitar a saída da criança no parto normal. Segundo a associação, a episiotomia já é proibida e considerada uma violência obstétrica.

As doulas são profissionais treinadas e capacitadas para acompanhar as mulheres durante a gestação e o parto. A função delas é dar suporte durante a gestação, pré-parto, parto, pós-parto e puerpério, que é o período desde o parto até que os órgãos genitais voltem à forma que eram antes da gestação, com a finalidade de promover o bem-estar neste período.

Ainda segundo a associação, seis bebês morreram no Hospital da Mulher na semana passada. O G1 entrou em contato com a Prefeitura de Cabo Frio e aguarda os números oficiais de registros de óbitos na unidade nos últimos meses.

Mulheres colam cartazes de conscientização para reivindicar direitos no Hospital da Mulher, em Cabo Frio, no RJ — Foto: Paulo Henrique Cardoso/Inter TV
"Quantos mais vão ter que morrer? Basta! Queremos nossas mães e bebês vivos!", diz um dos cartazes.

O Hospital Municipal da Mulher é a única emergência obstétrica e maternidade pública da cidade, funciona 24 horas por dia e atende demandas de toda a região, com equipe médica completa, enfermeiros, técnicos de enfermagem, assistentes sociais e psicólogos de plantão, além de uma unidade intensiva especializada para bebês prematuros com neonatologista.

Desde 2015, o hospital é alvo de denúncias de negligência médica e mau atendimento. Em 2017, por exemplo, uma família acusou a unidade de falta de um acompanhamento pré-natal adequado após morte de bebê com 38 semanas de gestação.

Auditoria

De acordo com o município, um grupo formado por médico, enfermeiro e auditor do setor de controle e avaliação da pasta vai analisar todos os 1069 prontuários de atendimentos do Hospital da Mulher feitos desde 1º de janeiro deste ano.

Será levado em conta todo o atendimento prestado às pacientes na unidade, desde a recepção até o momento em que ela vai para casa. Em seguida, será feito um relatório que será avaliado internamente para nortear as medidas que serão tomadas em todo o acompanhamento gestacional e no atendimento no Hospital da Mulher.

Vamos apurar com afinco o que pode ter causado a morte destes bebês. Toda vez que há a morte de um nascituro, a unidade hospitalar comunica à Vigilância Sanitária Municipal, que por sua vez comunica ao Estado por meio de notificação compulsória. Isso é essencial para nortear e desenvolver as políticas públicas” esclareceu o prefeito Dr. Adriano Moreno.

Fonte: "g1"

segunda-feira, 17 de julho de 2017

Como ser mãe em Búzios?

Bárbara Baez
"Estou grávida. E nem ia compartilhar isso aqui. Passei a viver muito melhor na medida em que adotei a discrição como regra, em relação a tudo que compartilho da minha vida pessoal, tanto em rede social quanto fora dela. Mas tem certas coisas que eu me sinto na obrigação de compartilhar. Como mulher, como mãe, como cidadã e consumidora, me sinto na obrigação moral de expor e denunciar os abusos e as violências que eu e outras mulheres sofremos todos os dias. A ideia é divulgar para que cada vez mais pessoas tenham esse tipo de informação, e comecem a lutar contra o sistema, pois passou da hora da gente reagir. Parar de aceitar certas coisas que são simplesmente inaceitáveis.
Tenho plano de saúde há quase dez anos. Unimed Rio. Assim que descobri a gravidez fui me consultar com meu médico de Cabo Frio. Um cara bacana e bem recomendado. Logo perguntei qual era a perspectiva de eu ter um parto natural e humanizado, sem intervenções desnecessárias, que é o que eu desejo. De cara ele fez aquela expressão de “sinto muito” e adiantou: pelo plano, só cesárea agendada. Todas as quartas-feiras ele abre a mulherada e tira os bebês, com a cobertura do plano. Numa quarta-feira feira dessas poderia ser eu. Obviamente achei aquilo absurdo. Há quem prefira uma cesárea e não vou nem entrar nesse mérito (mulher, o corpo é seu), mas cesárea eletiva é algo que não sintoniza com a minha ideologia de vida, com a formação que tenho e as informações que busquei. Dá pra ter parto normal pelo plano, dr.? Resposta: não. E mais: NÃO EXISTE EMERGÊNCIA OBSTETRÍCIA PARTICULAR NA REGIÃO DOS LAGOS.
Essa foi a informação que mais me chocou. Anos e anos pagando uma mensalidade que não é barata, e se passar mal, precisar de um hospital numa emergência, nem adianta ir ao Santa Izabel (que seria o hospital de emergência do meu plano) porque não vão me atender, vão me encaminhar pro Rodolpho Perissé ou pro Hospital da Mulher, públicos. Parto normal, só pagando por fora. Preço: cinco/seis mil reais, que correspondem aos honorários da equipe (2 obstetras, 1 anestesista, 1 pediatra). Com sorte, a internação o plano cobre. Ou então vai pro SUS. E aí minha gente, considerando as opções da região, é um salve-se quem puder. Uma verdadeira roleta russa. Tem médico que é cesarista por natureza, “olha, vc ta evoluindo pouco, o bebê ta em sofrimento, cordão enrolado blablabla e vai ter que ser cesárea”. A mulher ali, em situação de absoluta vulnerabilidade, muitas vezes nem questiona e aceita. Algumas exigem seus direitos e são tratadas com chacota e desprezo pela equipe médica. Outras, muito poucas, têm a sorte de ter seus direitos respeitados (algo que deveria ser padrão).
O problema não é as intervenções em si (embora muitas delas estejam realmente ultrapassadas), mas sim o seu uso indiscriminado, sem indicação real, o que é disseminado em praticamente todos os hospitais e maternidades do país, trazendo consequências graves que poderiam ser evitadas. 
Os relatos que já ouvi do Hospital da Mulher são horripilantes. Eu mesma já precisei de atendimento lá e a experiência foi péssima. Também acompanhei um parto recentemente no Rodolpho Perissé, e posso falar com conhecimento de causa. Primeiro, “acompanhar” é modo de dizer, fui expulsa da sala de parto (contrariando direito assegurado por lei) assim que ele começou. Mas, repito, estamos tão vulneráveis naquela situação, sob a autoridade da equipe médica, que à vezes nem percebemos que nossos direitos estão sendo infringidos. Presenciei uma episiotomia completamente desnecessária, não só um, mas vários cortes que culminaram em quase dez pontos de sutura. Vc pode imaginar o que é ter sua vagina retalhada por um bisturi, e levar não-sei-quantos pontos ALI? Pode imaginar o sofrimento físico e psicológico decorrentes disso? E essas foram apenas as VO (violências obstétricas) que eu presenciei. Conhecidas já relataram a manobra de kristeller (em que sobem na barriga da parturiente pra empurrar, um troço medieval), exames de toque a toda hora, hormônio artificial pra acelerar o parto (que tbem traz uma série de reações) e a mais comum de todas, que é a violência emocional, com o isolamento da parturiente, as “gracinhas” da equipe médica (“ta doendo? Mas na hora de fazer foi bom, né?”), muito descaso e desrespeito.
E não tem só as violências cometidas durante o parto. As condições do hospital já são uma violência em si. Nosso hospital municipal não tem ar condicionado nos quartos, só um mísero ventilador, sujo e barulhento. Para dar conta do calor (principalmente no verão), as pessoas são obrigadas a deixar as janelas abertas. Mãe e bebê em recuperação são simplesmente devorados pelos mosquitos (que além de muito incômodos transmitem doenças seríssimas). No banheiro (em péssimas condições) a porta não tranca, vc toma banho espiando quem passa no corredor. O pai só entra na horinha da visita e não pode ficar. As enfermeiras da maternidade são um capítulo a parte... a má vontade, a falta de sensibilidade, de preparo, de humanidade de QUASE todas ali, só de lembrar sinto a raiva borbulhar dentro de mim. Ah, e não tem aparelho de ultrassom. Isso mesmo, um hospital maternidade que NÃO TEM UM APARELHO DE ULTRASSOM. É o cúmulo. Se tiver alguma complicação tem que esperar o próximo dia útil, horário comercial, para ser atendida num dos laboratórios particulares conveniados à prefeitura. Agora parem para pensar: quem tá lucrando com isso? Certamente não somos nós.
Todos os dias eu me pergunto, por que tenho que me sujeitar a tudo isso, tendo pago plano de saúde durante quase dez anos? Aliás, por que qualquer mulher, em qualquer situação, precisa se sujeitar a tudo isso? Aí vc assiste ao Renascimento do Parto, entra em grupos de apoio, vê os relatos, o desespero e a revolta vão se instalando quando vc percebe que as únicas opções dignas de consideração estão distantes de vc, e ao final a gente se sente impotente, ludibriada, enganada e violada de todas as formas.
Não era pra ser assim. Tanta pressa em condenar o aborto, queria ver no mínimo a mesma indignação quando se trata da vida e da saúde da gestante! C A D Ê ? ? ? Ou será que viramos alguma espécie de bicho que tá ali apenas pra parir, sem merecer nenhuma consideração? Estamos trazendo uma nova vida ao mundo, era pra ter mais respeito! Mais dignidade! Mas, pensando bem, respeito e dignidade são justamente tudo que NÃO temos nesse país, e na hora do parto não seria diferente.
Vejo amigas que moram fora relatarem outra realidade, que é possível: doula custeada pelo governo, piscina/banheira em todas as salas de parto, permissão para vários acompanhantes, equipe médica respeitosa, licença maternidade realmente digna; e me embrulha o estômago comparar isso com a dura realidade que vivemos aqui e que somos obrigados a engolir, mesmo PAGANDO OS IMPOSTOS MAIS CAROS DO MUNDO!
É isso minha gente. Eu seguirei na luta pelo meu parto humanizado – que devia ser REGRA, mas por aqui tá quase como achar o pote de ouro no fim do arco íris. Deus abençoe todos que tiveram o interesse e a paciência de ler até aqui, e que se solidarizam a causa. Só botando a boca no trombone mesmo, brigando e lutando, é que alguma coisa pode mudar. Nosso (des)governo não está aí pra facilitar em NADA. Tenham isso sempre em mente".