Plenário da CPI dos Incêndios da ALERJ na sexta-feira (7). Foto: Thiago Lontra |
Rodolfo
Landim poderá até ser conduzido de forma coercitiva se não
comparecer, como aconteceu na reunião da comissão desta sexta-feira
A
Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Assembleia Legislativa
do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) que investiga os recorrentes
incêndios no Estado vai convocar o presidente do Clube de Regatas do
Flamengo, Rodolfo
Landim,
para prestar esclarecimentos ao grupo sobre o incêndio do Ninho de
Urubu, que há um ano vitimou 10 atletas da base do time. Segundo o
presidente da CPI, deputado Alexandre Knoploch (PSL), caso o
presidente não compareça ou não envie como representante o
vice-presidente jurídico do clube, Rodrigo Dunshee – o
novo encontro já está marcado para o dia 14/02
-, Landim poderá ser conduzido coercitivamente. A deliberação
aconteceu na sexta-feira (07/02) durante reunião da CPI que teve
quase seis horas de duração.
Knoploch
afirmou que também será convocado, com possibilidade de condução
coercitiva, o ex-vice-presidente de patrimônio Alexandre
Wrobel. Tanto
Wrobel quanto Landim foram convidados a participar da reunião desta
sexta-feira, mas
não compareceram.
"Se eles não estiverem presentes ao primeiro minuto da próxima
reunião, serão alvos de condução coercitiva imediata pela Polícia
Civil. Estamos cumprindo o que determina a justiça. Primeiro
convidamos esses dirigentes, agora eles serão convocados. Esperamos
não ter que usar a condução coercitiva, já que o advogado do
Flamengo informou que eles virão à reunião", afirmou o
parlamentar.
Famílias
das vítimas
Após
um ano do incêndio no alojamento das divisões de base do Flamengo,
onde 10 meninos morreram e três ficaram feridos, familiares e
advogados das vítimas presentes à reunião reclamaram
da falta de acolhimento por parte do Flamengo.
O clube chegou a acordos de indenização com apenas
três famílias.
Segundo Wedson Candido de Matos, pai de Pablo Henrique – uma das
vítimas -, ele ficou sabendo da tragédia pela mídia e o clube não
prestou nenhuma tipo de atendimento. "Nesse um ano não tivemos
quase nenhum contato com o Flamengo. Total desprezo. O Flamengo nos
abandonou. Não procura, não conversa. Não tive atendimento
psicológico, não tive nenhum tipo de atenção. Apenas pagam a
pensão, que é a conta de comprar os remédios que eu e minha esposa
passamos a tomar depois da tragédia”, revelou Wedson.
Advogada
da família de Pablo Henrique, Mariju Maciel disse que o que se pede
é acolhimento e carinho. "Ainda não tivemos acesso aos autos
do processo e estamos há um ano enfrentando o descaso. O que
queremos é ouvir do Flamengo 'desculpa
por ter colocado seu filho para dormir num container de alta
combustão'.
O Flamengo só me procurou uma vez estipulando um teto de indenização
e não querendo dialogar. Todas as famílias tinham aceitado o acordo
feito em conjunto pelo Ministério Público, Ministério Público do
Trabalho e Defensoria Pública. O clube é que não aceitou e
preferiu tratar com cada família individualmente", disse.
Segundo
Mariju, a família de Pablo veio de Minhas Gerais para a reunião e
pediu, por e-mail, ao clube a liberação para visitar o Ninho do
Urubu na manhã deste sábado (08/02), quando completa exatamente um
ano da tragédia, para
colocar uma vela onde o adolescente morreu.
Inicialmente a diretoria do Flamengo havia negado o pedido,
informando que o time principal se concentraria para o jogo contra o
Madureira pelo Campeonato Carioca. No entanto, durante a reunião, o
CEO do clube, Reinaldo Belotti, chegou a um consenso e as famílias
poderão visitar o CT sem a presença da imprensa.
O
vice-presidente da CPI, deputado Rodrigo Amorim (PSL), disse que o
Flamengo está fugindo do debate.
"A instituição usa a sua força para intimidar. Se nós
parlamentares estamos enfrentando dificuldades em dialogar, imagina
como está sendo para essas famílias", questionou Amorim.
Representando a família do Jorge Eduardo, a advogada Paula Wolf,
argumentou que o clube trata os advogados dos parentes das vítimas
como entraves. "O
Flamengo age como se as famílias não tivessem direitos.
O presidente Landim diz que nós estamos atrapalhando as negociações,
mas o clube não procura essas pessoas", lamentou.
Posição
do Flamengo
O
advogado do Flamengo, Willian Oliveira, pediu desculpas aos
familiares presentes e disse que após o incêndio, o clube realizou
todos os procedimentos legais para que o Centro de Treinamento (CT)
pudesse voltar a funcionar. A nova gestão, segundo ele, constituiu
um diretor para cuidar do CT. Com mais de três horas de reunião da
CPI em andamento, o ex-presidente do Flamengo, Eduardo
Bandeira de Mello,
e o atual
CEO do clube Belotti
chegaram à Alerj.
Segundo
Bandeira de Mello, único dirigente do clube indiciado inicialmente
pela polícia, sua gestão havia acabado em 2018 e ele não era mais
presidente do Flamengo em fevereiro
de 2019.
Ele negou todas as acusações e disse que não tinha acesso às
informações de manutenção dos equipamentos e nem sobre as
licenças e alvarás do Corpo de Bombeiros e da prefeitura. "Essas
questões não chegam diretamente ao presidente do clube. Só soube
dos problemas
de alvará, das licenças e do pedido de interdição do CT pela
prefeitura através da mídia e depois do incêndio",
declarou. "Agora eu sou um torcedor. Fiquei seis anos na
presidência e melhoramos todo o patrimônio e as finanças do clube.
Quando eu sai de lá todos estavam vivos e com saúde",
finalizou.
Já
o CEO Belotti afirmou que o incêndio pode ter sido causado por
possíveis problemas elétricos devido às chuvas que caíram na
cidade do Rio dois dias antes da tragédia. "Foi uma das maiores
tempestades registradas no ano passado. Soubemos de relatos de quedas
de energia no CT, além de um ar-condicionado ter parado de
funcionar. Esclareço que o aparelho foi reparado e não foi o mesmo
que causou o incêndio. Além disso, os jovens estavam eufóricos com
um treino e há relatos de que foram dormir mais tarde naquele dia, o
que pode ter dificultado a saída deles do alojamento",
disse.
Ele
assegurou, ainda, que no Flamengo está tomando todas as providências
possíveis. “Oferecemos ajuda e apoio médico aos 16 atletas
sobreviventes, como auxílio psicológico. Quanto às vítimas
fatais, sabemos que nenhum valor indenizatório vai ser o suficiente
devido à perda dos jovens. Mas já fizemos acordo com três famílias
e tem outro caso em que os país da vítima eram separados e um dos
parentes também já aceitou um acordo com o clube", concluiu.
Participaram
também da reunião da CPI os deputados Jorge Felippe Neto (PSD) e
Renata Souza (PSOL)
Fonte: "alerj"
Veja o link do vídeo da sessão da CPI: "youtube"
Observação:
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Meu comentário:
O Flamengo está usando algo semelhante à tática de "dividir para reinar", muito usada pelos poderosos diante dos mais fracos. Ou seja, não negocia coletivamente com as famílias para ter ganhos financeiros. É jogo sujo, baixo mesmo, porque sabe das necessidades pelas quais estão passando as famílias dos jovens atletas mortos no incêndio. Chega a ser desumano.
A notícia no site do MPRJ:
A notícia no site do MPRJ:
MPRJ
participa na Alerj de reunião da CPI dos Incêndios
O
Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ) participou,
nesta sexta-feira (07/02), na Assembleia Legislativa do Rio de
Janeiro (Alerj), de uma reunião da Comissão Parlamentar de
Inquérito (CPI) destinada a investigar e apurar os casos de
incêndios ocorridos no Estado do Rio, a CPI dos Incêndios. O
objetivo da sessão foi debater as causas e consequências do
incêndio que provocou a morte de dez jovens atletas do Flamengo, em
fevereiro do ano passado, no Centro de Treinamentos do clube,
conhecido como “Ninho do Urubu”. O encontro durou pouco mais de
cinco horas.
Participaram
da reunião a promotora de Justiça Ana Cristina Huth, titular da 4ª
Promotoria de Justiça da Infância e da Juventude da Capital, o
promotor de Justiça Pedro Rubim, integrante do Grupo de Atuação
Especializada do Desporto e Defesa do Torcedor (GAEDEST/MPRJ), os
pais do atleta morto Pablo Henrique, o ex-presidente do Flamengo,
Eduardo Bandeira de Melo, deputados estaduais e representantes do
clube, do Ministério Público do Trabalho no Rio (MPT-RJ), da
Polícia Civil, do Corpo de Bombeiros e do Conselho Regional de
Engenharia e Agronomia do Rio (Crea-RJ).
De
acordo com Ana Cristina, após uma tentativa extrajudicial frustrada
para que as condições do CT se adequassem aos requisitos básicos
de habitação, o MPRJ ajuizou, em 2015, uma ação civil pública
para obrigar o clube a realizar as adequações necessárias. Ela
acrescentou que é fundamental uma normativa própria para os atletas
adolescentes que se encontram alojados em clubes longe de suas
famílias. “Precisamos, com urgência, regulamentar estes casos
específicos, com o objetivo de dar segurança a estes jovens, já
que a nossa Constituição diz que é dever de todos proteger as
crianças e os adolescentes. Atualmente, estes menores encontram-se
fora de casa e não se sabe de quem é a sua guarda, pois os clubes,
como pessoas jurídicas, não podem ter essa atribuição. Além
disso, considerando que pela Constituição Federal é dever da
família, da sociedade e do Estado a defesa dos direitos das crianças
e dos adolescentes, é imperiosa uma campanha de empoderamento das
famílias e da sociedade para levar ao conhecimento das autoridades
as irregulares verificadas”, destacou a promotora.
Pedro
Rubim informou que o inquérito policial que apura o incêndio
retornou ao MPRJ esta semana para análise. Além disso, lembrou que
foi o clube que procurou o Ministério Público logo após o
incêndio, assumindo a obrigação de indenizar as vítimas.
“Adotando os melhores padrões de Desenho de Solução de Disputas
como no Programa de Indenização - PI 447, utilizado com
sucesso no caso do acidente da Air France, a Câmara de Conciliação
com MPRJ, Defensoria Pública do Estado e MPT formalizou ao Flamengo
a proposta de um PI Ninho do Urubu para acolhimento das vítimas em
um ambiente colaborativo, com valorização dos jovens atletas e de
suas famílias. A proposta previa critérios objetivos de
indenização, referenciados pela jurisprudência, equilíbrio das
partes e resultado justo, célebre e adequado para a dor e sofrimento
das vítimas. O Flamengo teria a oportunidade de pedir desculpas
oficialmente em jornal de grande circulação, garantir a
estabilidade dos sobreviventes por 24 meses e homenagear a memória
das vítimas. Com o abandono das negociações pelo Flamengo,
ajuizamos a ação coletiva para assegurar os direitos das vítimas,
o que não impede ações individuais diretamente pelos familiares
das vítimas”, relatou o integrante do GAEDEST/MPRJ.
Os
pais de Pablo Henrique foram os primeiros a fazerem uso da palavra
durante a reunião, relatando insatisfação com o tratamento que
receberam do clube. Os advogados das vítimas e representantes
jurídicos do Flamengo falaram em sequência, respondendo também às
indagações dos deputados Alexandre Knoploch, presidente da CPI,
Rodrigo Amorim e Jorge Felippe Neto, que compunham a mesa diretora da
CPI, e da deputada Renata Souza, presidente da Comissão de Direitos
Humanos da Alerj. O delegado Márcio Petra, responsável pelo
inquérito policial, além de técnicos do Instituto Médico Legal e
dos responsáveis pela perícia criminal no local do incidente,
fizeram suas exposições, apontando detalhes da investigação sobre
as causas do incêndio e das mortes dos adolescentes. Ao final, o CEO
do clube, Reinaldo Belotti, e Eduardo Bandeira de Mello responderam
às perguntas dos presentes. A CPI convocou o atual presidente do
Flamengo, Rodolfo Landim, para participar de uma nova reunião,
inicialmente marcada para o próximo dia 14/02.
Fonte: "mprj"