"Teori
Zavaschi morreu, às vésperas de homologar as delações premiadas
de executivos da Odebrechet que poriam o mundo político abaixo,
praticamente sem exceções. Vou falar o que todo mundo cochicha, mas
ninguém fala às abertas: certeza não existe, mas é quase certo
que Teori tenha sido assassinado. Ora, vamos deixar destas manias
crônicas que nós, brasileiros, temos. Nunca dizemos as coisas
diretamente, nunca damos o nome de quem estamos falando,
“adivinhando” que o leitor saberá dele. Sempre falamos
obliquamente, de forma tortuosa, para não ofender susceptibilidades.
E, acima de tudo, sempre buscamos soluções conciliatórias. Chega.
Basta de conciliar. Tancredo foi um grande político, mas, no
momento, precisamos de menos Tancredos Neves e mais Brizolas, mais
Dom Pedros I´s.
A
conciliação política se tornou um câncer a ser extirpado. Nós
fomos o único país que não puniu torturadores da ditadura, sob o
pretexto da “anistia conciliatória”. Bete Mendes teve de apertar
a mão de seu torturador (o execrável Brilhante Ustra, então adido
militar) quando foi visitar a embaixada do Brasil no Uruguai.
Deixamos Evo Morales se apropriar de nossas refinarias para não
causar problemas com a Bolívia. No passado, Jânio, precursor, e
depois Jango, notório covarde, entregou o país aos militares para
que não “houvesse guerra civil”. Pergunto eu, para um Jango
morto: se não devo lutar pela democracia e justiça em meu país, o
que, então, mereceria a minha luta?
Michel
Temer indicará o Ministro que o julgará, já que seu nome foi
citado textualmente no processo da Lava Jato quase uma centena de
vezes. Ele vai ser denunciado, vai virar réu? Claro que vai, é
óbvio, todo mundo no meio jurídico sabe disto. Mas ninguém diz.
Ninguém quer se arriscar, ser chamado de irresponsável, etc, etc.
Agem assim por atávica covardia. Assim como também agiram os
Ministros do Supremo que se reuniram, às pressas, a pedido de
Sarney e sabe Deus quem mais, para salvar o pescoço de Renan
Calheiros, a pretexto de “governabilidade”. Saibam, senhores
ministros, que ponho em Vossos colos Excelênciais a culpa, ao
menos indireta, pela morte de Teori. Quando aceitaram esta reunião
grotesca e se curvaram vergonhosamente ao Presidente do Senado,
incidiram na hipótese – vou chamar assim – “Sonny Corleone”.
No filme (“O Poderoso Chefão I”), o filho Sonny expõe divisão
sobre um assunto na frente de outra “famiglia” mafiosa, e seu
pai, em seguida, é vítima de atentado. Fácil entender: a partir do
momento em que alguém da própria família indica quem é o
empecilho para o acordo, fica fácil saber quem deve eliminado. Na
fatídica reunião de nossos intrépidos Ministros, Teori
queria, de qualquer jeito – como todo juiz que se preze iria querer
– que a decisão de Marco Auréiio fosse cumprida. Ele não iria
deixar de falar isto, honrado e corajoso como era, em uma reunião
para “salvar” um acusado. Nesta reunião, ficou claro quem era
aquele que era “fechado”, “impossível de se conversar” (ouvi
os termos por toda a imprensa nos dia seguintes). Seus colegas,
naquele momento, colocaram um alvo em sua testa. O jogaram aos leões.
Não de propósito. Não, pior que isto, fizeram isto agindo com
medo, temor reverencial ao imperial Renan.
Esta
aí, posto o fato. Teori morreu e fica todo mundo soltando
declarações obliquas e cautelosas. “Tudo deve ser rigorosamente
apurado”, blá-blá-blá. Não. Está na hora de alguém se dispor
a ser processado, a perder cargo, a tomar porrada. Quem sabe coisa
pior. Quem não sabe pelo que morrer, não merece viver disse, salvo
engano, M. Luther King. Eu sei pelo que morrer, Teori Zavascki me
ensinou. Honrarei seu legado".
José
Eduardo Leonel Ferreira, 45, doutor em direito pela USP, mestre em
direito pela PUC/SP, é juiz federal