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Eraldo deixou de catar materiais durante a noite e passou a ter mais tempo com a família em São Pedro da Aldeia, no RJ — Foto: Rodrigo Marinho/G1 |
Eraldo
Francisco, de 50 anos, é reciclador há 5 anos e usa o aplicativo
Cataki há 3 meses em São Pedro da Aldeia (RJ).
O
catador de material reciclável Eraldo Francisco, de 50 anos, viu sua
renda
duplicar
depois que entrou para o aplicativo
Cataki.
O aplicativo indica os locais onde têm material reciclável e isso
facilitou a vida dele.
O
Cataki é um app gratuito. Além disso, 100% do
dinheiro gerado nas coletas fica com o catador: o app é
apenas a ponte entre quem quer reciclar e quem trabalha com
reciclagem. O usuário gerador de
resíduos pode baixar o aplicativo no Google Play ou na Apple Store.
Eraldo
ou Tatu, como é conhecido, mora em São Pedro da Aldeia, na Região
dos Lagos do Rio. Ele cata os materiais há cinco anos, mas há
apenas três meses conheceu o aplicativo e, além de aumentar a
renda, também conseguiu mais tempo para aproveitar o dia e a
família.
"Antes,
eu saía de casa cinco da tarde e voltava lá pras duas da manhã. Ia
procurando nos lixos pra ver o que tinha. Com o aplicativo, eu
posso sair de casa oito da manhã e três da tarde já tô em casa.
Não preciso parar e mexer [no lixo]. Eu já vou nas casas certas e o
que eu acho na rua eu vou pegando também", disse.
O
material coletado por ele é vendido para uma cooperativa
que recolhe os itens com Tatu a cada 15 dias. Além da cooperativa,
ele também vende itens para artesãos da região que
usam os materiais para criar seus trabalhos.
Antes
de dobrar o faturamento com a ferramenta, a renda do catador girava
em torno de R$ 600 a R$ 800, por quinzena.
Quem
inscreveu o catador no aplicativo foi o filho dele, Dayvison. A
princípio, Tatu fazia parte de um grupo que indicava locais de
coleta em São Paulo. Por meio dos contatos que fez no aplicativo,
ele conheceu os grupos do Rio de Janeiro.
Atualmente,
no interior do Rio, existem 46 usuários cadastrados no app.
Entre eles, catadores individuais e cooperativas. No Brasil, estão
cadastros 1.400 catadores, de acordo com o site do aplicativo.
A
proposta do app é conectar os geradores de resíduos com os
catadores, cooperativas, ecopontos e pontos de entrega voluntária.
Dentro da plataforma, o catador tem acesso a uma lista e um mapa de
pessoas que estão mais perto e podem ver detalhes sobre o material
oferecido.
O
usuário da ferramenta que quer se desfazer de algum material pode
entrar em contato diretamente com o catador por ligação ou pelo
WhatsApp para combinar a entrega ou retirada.
O
app foi lançado em julho de 2017 idealizado pelo
grafiteiro e ativista Mundano, que faz parte da ONG
Pimp My Carroça.
No
mapa do aplicativo, os catadores são identificados com ícones de
carrocinha, para catadores sem veículo motorizado, ou com o ícone
de um caminhão, para quem tem veículo.
Tatu
saía de casa todos os dias, de domingo a domingo, para recolher
material na rua. A mulher dele, Marta, falou sobre a antiga rotina do
catador.
"A
gente ficava muito preocupado com ele na rua, tarde da noite. A gente
nunca sabe o que pode acontecer na beira da estrada sem iluminação,
né? Agora ele passou a sair mais cedo e a gente fica mais
tranquilo", explicou a esposa.
Com
a ajuda da tecnologia, Tatu também passou a contar com alguns dias
de folga. "Tem vezes que no sábado eu nem cato. Eu fico
esperando o pessoal ligar, se tiver mensagem eu vou".
Eraldo
era funcionário de uma empresa de mineração em uma pedreira
que fica no bairro onde mora. Quando começou a catar
material para reciclagem, pediu demissão do antigo trabalho.
"O
aplicativo é muito bom se você tem disposição e coragem. Eu tava
cansado de trabalhar pros outros, aí eu pedi conta e comecei a
juntar reciclagem na bicicleta. Da bicicleta veio uma carrocinha
menor, depois veio essa [que uso hoje]".
Até
o carrinho que ele usa na coleta é feito de material reciclado.
Quando
sai pelas ruas, ele chama atenção das pessoas sobre a importância
da reciclagem. Junto do carrinho, ele usa uma caixinha de som com um
pendrive conectado que toca uma música criada por um catador
da cidade de Lavras, em Minas Gerais.
A
letra da música diz: "Preste atenção, Brasil, sociedade. Vem
chegando o funk da reciclagem.
É sério, é sério, meu irmão. O mundo não aguenta mais tanta
poluição".Atualmente, Eraldo tem um registro como
microempresário, que é necessário para exercer a função
de catador na cidade. Tudo que ele coleta é depositado em um galpão
que fica na frente da casa dele, e foi emprestado por um conhecido.
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Catador de material reciclável separa os itens e guarda em terreno cedido por amigo em São Pedro da Aldeia, no RJ — Foto: Rodrigo Marinho/G1 |
Todo
tipo de material é coletado por ele, desde vidros de xampu e
desodorante até latas de óleo, papelão, plástico e livros
descartados. E no galpão, cada item é separado para facilitar a
identificação.
"O
Cataki é pra tudo. Ou você recicla tudo ou você então não
recicla. As pessoas não querem pegar plástico, papelão e
preferem pegar latinha ou cobre".
Eu
pego tudo, o negócio é reciclar... é limpar o nosso Brasil que tá
precisando".
Sobre
o trabalho de recolher os itens nas casas, Eraldo é claro:
"Orgulho!
Você tá ajudando a limpar o meio ambiente, ajudando a reciclar.
Muita gente ainda não tem consciência. Acho que se o pessoal
começasse a separar o material que é reciclável do lixo, ia
facilitar mais pros catadores. Não só pra mim, mas pra todos os
catadores do Brasil".
A
música
O
funk da reciclagem foi escrito pelo catador Gilsênio,
conhecido como Mc Gil da reciclagem.
Gil
tinha o sonho de conseguir gravar a música em estúdio mas, sem
recursos, o sonho parecia estar longe. O que o catador não esperava
era que pessoas que lutam pela mesma causa ambiental se juntariam
para que o sonho dele fosse realizado.
Evaldo
Garcia tem uma empresa social que trabalha com reciclagem. Ele
trabalha na área há 14 anos e conheceu o Gil quando procurava
catadores cadastrados na cidade de Lavras, onde vive em Minas Gerais.
Evaldo
contou ao G1 que
soube do sonho do Gil, viu a letra da música e começou a correr
atrás de estúdio e parcerias para a gravação.
A
princípio, um estúdio cobrou R$ 4 mil para que a música fosse
gravada mas, depois de pechinchar o preço e explicar a causa, os
catadores conseguiram que o valor fosse reduzido para R$ 700.
Mesmo
com a redução do valor, ainda era preciso arrecadar o dinheiro.
"Eu
fiz campanha nas redes sociais, pedi pra amigos pelo WhatsApp, e de
pouco em pouco conseguimos juntar o dinheiro que precisava",
contou Evaldo.
Evaldo
tem uma empresa social que faz coleta de material em condomínios na
região onde vive e ajuda na conscientização e renda de
catadores individuais.
Ele
usa uma Kombi que anda pelas ruas tocando o Funk
da Reciclagem, assim como o seu Eraldo, de São Pedro
da Aldeia, faz com a caixa de som no carrinho.
Além
de Minas Gerais e Rio de Janeiro, a música que fala sobre a
conscientização do trabalho de coleta e os benefícios para o meio
ambiente também já é tocada por catadores de São Paulo.