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Eike e Cabral, FOTO de DANILO VERPA/ FOLHAPRESS |
"Nos
últimos meses de 2010, em plena campanha eleitoral para a reeleição,
Sérgio Cabral fez uma visita a Eike Batista em seu escritório na
praia do Flamengo, no Rio de Janeiro. Os dois se conheceram na
campanha eleitoral anterior, em 2006, quando Cabral disputava pela
primeira vez o governo do estado e Eike começava sua trajetória
ascendente nos negócios.
Com
uma fila de empresas de mineração, logística e petróleo na
carteira de projetos, altamente dependente de concessões, licenças
e financiamentos governamentais, Eike tinha como estratégia
financiar campanhas eleitorais de todos os partidos. Eram tempos de
bonança econômica, e as verbas destinadas aos políticos eram
generosas. Cabral, governador do estado em que ficava a sede dos seus
negócios, era um dos principais beneficiados. E reconheceu isso
naquela conversa íntima. Disse a Eike que a campanha eleitoral
estava paga, que tudo caminhava muito bem e que ele só tinha a
agradecer. Mas havia um problema: vida de político, o amigo sabia, é
incerta. Numa hora o sujeito está bem, noutra esta sem mandato e sem
dinheiro. Cabral preocupava-se com o futuro dos filhos. Por isso,
tinha um pedido especial a fazer. Queria de Eike uma espécie de
seguro, como pagamento pelo “conjunto da obra” de seu governo em
favor das empresas X. O pedido, feito assim de chofre e sem
contrapartida específica, foi relatado por Eike a seus executivos
mais próximos em tom de espanto e ironia.
Mas,
como revelou a etapa da Operação Lava Jato realizada hoje, batizada
de Eficiência, o seguro de Cabral – 16,5 milhões de dólares –
foi depositado pouco tempo depois. O futuro dos meninos de Cabral
estava garantido.
Naquele
momento, sem saber, Eike Batista amarrou seu destino ao de Sérgio
Cabral, na alegria e na tristeza. Abriu, ainda, um flanco para a
descoberta de seu canal preferencial para transações semelhantes à
que foi feita com o governador: a Golden Rock Foundation, subsidiária
do grupo X que tinha conta num banquinho obscuro do Panamá, chamado
TAG Bank. Propriedade do ex-sócio do Pactual Eduardo Plass, gestor
de recursos respeitado no mercado financeiro, o TAG Bank era
considerado seguro pelos executivos do grupo X. Foi lá que Eike
depositou os recursos recebidos pela venda de uma mina de ferro para
uma multinacional em 2008 – dezenas de milhões de dólares que
nunca entraram no sistema bancário brasileiro, e por isso estariam
fora do radar de eventuais investigações e bloqueios judiciais. Foi
dessa mesma conta que saíram 2,3 milhões de dólares do grupo X
para a offshore de Monica Moura, mulher do marqueteiro do PT, João
Santana.
Em
maio passado, o próprio Eike Batista foi ao Ministério Público em
Curitiba dar sua versão da história. Segundo ele, no final de 2012,
o então ministro da Fazenda, Guido Mantega, o procurou para pedir
dinheiro para saldar dívidas de campanhas petistas. Assim como no
caso de Cabral, forjou-se um contrato de prestação de serviços de
consultoria para justificar o pagamento, feito em abril de 2013.
Acontece que, da mesma forma que Mantega e Cabral, diversos outros
políticos e agentes públicos foram agraciados com o dinheiro da
pedra dourada de Eike. Gente que se sentia à vontade para pedir
qualquer coisa ao empresário, mesmo que fossem milhões de dólares
sem qualquer contrapartida imediata. Por muito tempo, Eike acreditou
que esse dinheiro clandestino garantiria a sobrevivência de suas
empresas. Agora prestes a ser preso, Eike Batista e sua Golden Rock
devem arrastar outros mais, além de Cabral, para trás das grades".
MALU GASPAR
Observação: Malu Gaspar é autora do livro "Tudo ou Nada: Eike Batista e a Verdadeira História do Grupo X".