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Conrado Hubner. Foto: twitter |
Justiça
rejeita queixa-crime de Aras contra Conrado Hübner Mendes
Juíza
cita direito à liberdade de expressão de pensamentos e ideias;
professor foi alvo de ofensiva após chamar PGR de Poste Geral da
República.
A
Justiça Federal da 1ª Região rejeitou a queixa-crime
apresentada pelo procurador-geral da República, Augusto Aras,
contra o professor da USP e colunista
da Folha Conrado
Hübner Mendes.
O PGR pedia que Mendes fosse condenado pelos crimes de calúnia,
injúria e difamação.
Em
sua decisão, a juíza federal Pollyanna Kelly Maciel Medeiros
Martins Alves afirma que não houve ofensa à honra de Aras e que a
liberdade de expressão e a imprensa livre são pilares de uma
sociedade democrática, aberta e plural.
"O
direito de liberdade de expressão dos pensamentos e ideias consiste
em amparo àquele que emite críticas, ainda que inconvenientes e
injustas. Em uma democracia, todo indivíduo deve ter assegurado o
direito de emitir suas opiniões sem receios ou medos, sobretudo
aquelas causadoras de desconforto ao criticado", diz Alves.
A
magistrada ainda destaca que aqueles que exercem função pública
estão expostos a publicações que citem seu nome —sejam elas
positivas ou negativas. A queixa-crime, agora, será arquivada.
A
decisão da Justiça é celebrada pelo professor da USP, que a define
como "simples, objetiva e correta". "Autoridades não
podem nos privar do direito à crítica, que não se confunde com
ataque, ameaça e incitação. Não podem nos privar do direito às
palavras e adjetivos contundentes, nem do direito ao sarcasmo e à
galhofa", afirma à coluna.
"Eles
são autoridades e nós somos cidadãos. Se nem isso nos sobra,
acabou a última película da democracia", segue Mendes.
Na
petição, o procurador-geral citou publicações de Mendes nas redes
sociais e coluna dele publicada na Folha intitulada “Aras
é a antessala de Bolsonaro no Tribunal Penal Internacional”.
“Aras
não economiza no engavetamento de investigações criminais: contra
Damares por agressão a governadores; contra Heleno por ameaça ao
STF; contra Zambelli por tráfico de influência; contra Eduardo
Bolsonaro por subversão da ordem política ao sugerir golpe”, diz
o texto assinado pelo colunista.
Nas
postagens publicadas nas redes, o professor chamou Aras de “Poste
Geral da República” e “servo do presidente”. E afirmou que ele
é o “grande fiador” da crise sanitária vivida no Brasil.
No
mês passado, o professor também foi alvo
de ofensiva do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Kassio
Nunes Marques.
O ministro acionou a Procuradoria-Geral da República afirmando que
Mendes fez afirmações “falsas e/ou lesivas” à sua honra em
artigo publicado na Folha.
O órgão deu andamento ao caso e repassou a representação à
Polícia Federal.
O
magistrado anexou no ofício à PGR o texto “O
STF come o pão que o STF amassou”,
publicado em abril e no qual colunista abordou a decisão do ministro
que liberava
a realização de cultos, missas e demais celebrações religiosas
no país em meio à crise da Covid-19.
“O
episódio não se resume a juiz mal-intencionado e chicaneiro que,
num gesto calculado para consumar efeitos irreversíveis, driblou o
plenário e encomendou milhares de mortes", afirmou Conrado
Hübner Mendes na ocasião.
As
iniciativas de Aras e do ministro do Supremo contra o professor
mobilizaram a comunidade acadêmica. Um manifesto em apoio a
Mendes reuniu
mais de 280 professores de universidades brasileiras e
nomes como Miguel Reale Jr., José Rogério Cruz e Tucci, Debora
Diniz e Gisele Cittadino.
No
início do mês, um grupo de intelectuais de universidades da
Alemanha enviou uma carta ao presidente STF, Luiz Fux, em sua defesa.
O
Observatório Pesquisa, Ciência e Liberdade da Sociedade Brasileira
para o Progresso da Ciência (SBPC), endossado pelo Cebrap (Centro
Brasileiro de Análise e Planejamento), pelo Fórum Brasileiro de
Segurança Pública e pelo grupo Ciências Sociais Articuladas,
também fez uma nota em defesa do professor de direito da USP.
"Se
tal prática tem se tornado, infelizmente, lugar comum no Brasil, ela
atinge agora novo patamar em um cenário no qual um ministro do
Supremo Tribunal Federal e o representante máximo do Ministério
Público envidam esforços para judicializar críticas a suas
decisões, constrangendo, assim, a opinião pública brasileira",
disse a articulação.
Conrado
Hübner Mendes também é citado em representação
feita por Augusto Aras junto ao Conselho da Ética da USP em
maio deste ano. Passados três meses, o colegiado ainda não se
manifestou sobre o tema.
Em
nota divulgada no dia 29 de julho, o reitor da USP, Vahan Agopyan,
afirmou que a instituição "prima pela pluralidade de opiniões
científicas e acadêmicas" e que um de seus pilares "assenta-se
na liberdade de expressão e na livre manifestação". A
manifestação, no entanto, não faz menção a Mendes.
Fonte: "COLUNAS MÔNICA BERGAMO"
Meu comentário:
O Procurador-Geral que não viu nada demais nos ataques de Robert Jefferson a alguns ministros do STF- para ele pura liberdade de expressão-, processa o professor de Direito Conrado Hubner.