Presidente do STF, ministra Cármen Lúcia, durante a sessão. Foto Orlando Brito |
As
instituições sempre foram instáveis no Brasil. De tropeço em
tropeço, elas vem se moldando. Ao longo dessa tortuosa história, há
protagonistas que cresceram ou encolheram em momentos decisivos.
Evidente
que sempre há riscos. Mas é justamente por aí que passa a régua.Foram
encruzilhadas desse tamanho que tornaram Ulysses Guimarães maior.
Ele nem sempre seguiu o próprio roteiro. Mas conseguiu improvisar e
crescer nas adversidades.
Em
seus embates, alguns em tempos sombrios, Ulysses se valia de seu
talento de traduzir em frases implacáveis posturas éticas
impecáveis. Assim se impôs como estadista. Assim ajudou a
reconstruir as instituições e fazer avançar a democracia no
Brasil.
A
exemplo de Ulysses Guimarães, a ministra Cármen Lúcia tem
vocalizado valores que ajudam a lavar a alma nacional diante desse
pântano em que as elites políticas, econômicas e corporativas
mergulharam.
Não
há dúvida de que ela é bem intencionada.
Seu
problema, e não é de hoje, é a dificuldade de reagir a pressões
contra suas próprias convicções. Cármen Lúcia não gosta de
brigas. Prefere ceder a enfrentar uma parada que não sabe aonde vai
dar.
Seu
primeiro posto de poder como ministra do STF foi a presidência do
Tribunal Superior Eleitoral. Ali, ela soube de uma série de
malfeitos que punham altos funcionários da Justiça e boa parte dos
partidos em péssimos lençóis.
Resolveu
pôr tudo a limpo. Sua equipe foi à luta, aprofundou as apurações,
chegou a gente de alto escalão, apadrinhados por poderosos na
Justiça. A reação foi forte, inclusive de colegas do Supremo.
Para
frustração de quem foi para a linha de frente, com o aval dela, ela
recuou. A apuração morreu aí.
Há
outros casos que ela evitou confrontos. Por exemplo, na trapalhada de
Marco Aurélio Mello ao afastar Renan Calheiros da presidência do
Senado. Ou, então, ao abençoar a pedalada na Constituição, em uma
parceria do próprio Renan com o ministro Ricardo Lewandowski, para
manter os direitos políticos de Dilma Rousseff depois de seu
impeachment.
Vexame
agasalhado pelo STF.
Mas,
na noite da quarta-feira (11), Cármen Lúcia teve a oportunidade de
corrigir vacilos do passado e, como presidente do Supremo Tribunal
Federal, reafirmar a independência do Judiciário. Era para ser um
julgamento histórico — a primazia da lei, não da impunidade,
nesses tempos de Lava Jato.
Mesmo
assim, ela recuou mais uma vez. De maneira atrapalhada, claudicante,
mal conseguiu se explicar e precisou da ajuda do decano Celso de
Mello para fechar a sessão.
Deixou
a impressão de que aceitou a intimidação da turma do outro lado da
rua envolvida na Operação Lava Jato para livrar Aécio Neves, um
dos seus, e abrir caminho para salvar a turma toda.
A
biografia dela e a Justiça mereciam mais.
Fonte: /"osdivergentes"