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Cristina Pimentel |
Enquanto
o que está em jogo é o futuro, não importa se da cidade ou do mundo, aqueles
que dedicam suas vidas a alguma questão coletiva não têm o direito de se recolher,
neutros e indiferentes, diante da luta. Esta reflexão é de Pierre Bourdieu
(filósofo) em quem me amparo para, mais uma vez, ocupar a mídia com a variação
de um mesmo tema: a educação e o acesso ao emprego público, motivada por fatos
recentes, da vida pública desta cidade.
O
primeiro deles diz respeito ao Edital nº 09/13, da Secretaria Municipal de
Educação, BO 574, que visa à criação de cadastro de reserva para futuras
contratações de professores auxiliares, em que o principal requisito é ter concluído
a formação de magistério, de nível secundário, no Colégio Municipal Paulo
Freire.
Não
pertenço à área jurídica, portanto, não desejo valer-me de um discurso com o
qual não tenho intimidade. É a própria área jurídica, no entanto, que me aufere
o direito de meter o bedelho, já que
o Código Civil diz que ninguém pode alegar o desconhecimento da lei, para se
defender o que é válido para os leigos e para aqueles que carregam longa experiência
administrativa nas costas. É público e notório que um concurso público, em
qualquer esfera, não pode criar empecilhos à igualdade de participação.
Parece-me, então, que o concurso público convocado pelo Edital 09/13, como
dizem os juristas, está “eivado de vício”.
O
segundo fato diz respeito à atuação do Vereador Felipe Lopes. Há quase dois
anos, o Vereador fez uma aparição, na mídia, para dizer o quanto estava
comovido com o sofrimento de mães que não conseguiam vaga em creches e propôs
um critério inaceitável de seleção que só ajudava a manter a exclusão social.
Se a oferta foi ampliada de 1 creche para 3, nos últimos 4 anos, foi graças à
Ação Civil Pública, movida pelo Ministério Público. Agora, o Vereador ocupa a
cena, mas o enredo é o buziano que não está sendo empregado pela Prefeitura. E,
para isso, vale-se de uma chantagem ideológica, com soluções inconstitucionais,
incitando o atual Secretário de Educação a arranjar emprego para os buzianos
(certamente não está sozinho nisso) além de imputar ao novo Secretário toda a
responsabilidade pelo fato de as escolas de Búzios terem começado o ano letivo
sem professores.
Política que
humilha o povo buziano
Assim
como o “Vereador da Educação”, como se apresenta, não tem qualquer registro em
seu mandato anterior sobre atuação junto ao Executivo para exigir a ampliação
da oferta de creches, também nunca se posicionou sobre a convocação de um novo
concurso público, para o magistério, logo no início de 2009, quando Mirinho
Braga assumiu a Prefeitura, pela terceira vez. Assim, o “Vereador da Educação”
é coautor na transformação de nossas escolas públicas em celeiros de empregos
para pessoas sem qualificação e sem preparo, política responsável pelos
péssimos índices de educação, que chegaram a figurar, no noticiário, como os
piores do Estado e, logicamente do país. Algumas escolas de Búzios, e é o caso
da Escola Municipal Professor Darcy Ribeiro, chegaram a ter apenas 10% de
professores concursados contra 90% de contratados, o que minou a consolidação
de equipes e fez despencar a qualidade da oferta do serviço prestado, nas
unidades escolares onde isso vinha ocorrendo.
O
“Vereador da Educação” não pode alegar que desconhece o Artigo 37, de nossa
Constituição, que obriga a realização de concurso público para acesso ao
emprego público - a forma mais democrática, ainda, de selecionar os melhores
para prestar serviços públicos de qualidade ao povo brasileiro (que nos custam
uma fortuna). Será que o povo buziano precisa de vereador que o desonre e o
humilhe desta forma? O caminho natural é estudar, formar-se e passar (ou não –
e estudar mais ainda) em concurso público. Isso é digno e conheço dezenas de
buzianos nesta luta. E esta luta é a vida. Como cidadã teria vergonha de que
alguém me representasse dessa forma. O vereador pode (e deve) empenhar-se para
que a gestão municipal invista seriamente em uma política de geração de emprego
e renda, estando a sua disposição uma infinidade de opções que poderiam ser
pensadas, em conjunto, pelo Legislativo e Executivo. Contudo, dirijo-lhe uma
última pergunta: por que o único emprego que lhe vem à mente é o emprego na
Prefeitura?
*Servidora Pública do
Estado do Rio de Janeiro e integrante da ONG ATIVA BÚZIOS.
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