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segunda-feira, 25 de novembro de 2019

Questão racial no mercado de trabalho no Estado do Rio de Janeiro


O Estado do Rio de Janeiro possuía, no 2º trimestre de 2019, uma população de aproximadamente 17,3 milhões de pessoas, sendo que desse total 7,8 milhões se autodeclararam brancas, o que representa 45% da sociedade fluminense. Considerando apenas o grupo etário de 14 anos ou mais anos de idade, há um total de 8,8 milhões de pessoas, sendo 3,4 milhões de brancas, 3,6 milhões de pardas e 1,3 milhões de pretas.

Taxa de participação

No caso da taxa de participação da força de trabalho do estado, no 2º trimestre de 2019, o indicador entre as pessoas pretas foi 65,3%, enquanto os pardos possuíam taxa de 61,3% e os brancos de 58,2%. No mesmo período, na faixa etária de 14 anos ou mais, estavam ocupadas 7,5 milhões de pessoas. Dentre os ocupados, o maior contingente foi de pessoas que se declararam brancas, e o menor de pessoas pretas.

População desocupada

A população desocupada totalizou 1,3 milhões de pessoas com idade de 14 anos ou mais. Dessas, há 635 mil de cor Parda, 476 mil de cor Branca e 220 mil de pessoas de cor Preta. Estes números são alcançados após uma trajetória crescente no número de pessoas desocupadas, verificada desde o 4º trimestre de 2014. Atualmente a taxa de desocupação é 17,6% entre as pessoas pardas, 17,0% entre as pessoas pretas e 12,2% entre as brancas. Observa-se que durante todo o período citado as taxas de desocupação para os pretos e pardos permaneceram acima daquelas relativas às pessoas brancas.

Média de horas habitualmente trabalhadas por semana no trabalho principal

O comportamento da média de horas trabalhadas na atividade principal demonstrou que as pessoas pretas trabalharam 40,2h por semana. No mesmo período, as pessoas pardas trabalharam 39,9h semanal e as brancas, em média, trabalharam 39,5h semanalmente.

Nível de Informalidade no setor privado

No caso do Nível de Informalidade, há uma condição persistente e estrutural do mercado de trabalho fluminense, independente do atributo cor ou raça da pessoa. A partir de 2014, o Nível de informalidade vem apresentando elevação, saindo de um patamar de 44%, no 1º trim. de 2012, para 51% no 2º trim. de 2019. Assim, para cada trabalhador formal existe um outro informal no Estado do Rio de Janeiro.

Posição na Ocupação do Trabalho Principal

Considerando a classificação por Ocupação do Trabalho Principal, 45,4% das pessoas brancas são empregadas, por outro lado, entre os pretos 48,7% são empregados, enquanto entre os pardos são 48,3%. Entre os trabalhadores pretos, 24,6% formam a categoria por “Conta Própria”, percentual inferior aos brancos e aos pardos. Além disso, 12,3% dos pretos e 8,5% dos pardos encontram-se na faixa “Trabalhadores Domésticos”, enquanto os brancos somam apenas 4,6%. O percentual de 5,1% de brancos empregadores mostra-se superior ao observado para os pretos e pardos, com 1,5% e pardos 2,7%, respectivamente.

Rendimento médio real do trabalho principal, efetivamente recebido no mês de referência

Na trajetória recente do rendimento médio real do trabalho principal, ocorreu um pequeno crescimento do valor em todos grupos por cor e raça. No 1º trim. de 2012, o indicador relativo ao total apresentou rendimento médio de R$2.500. No 2º trim. de 2019 essa valor passou a R$2.644. Atualmente, as pessoas brancas passaram a receber, em média, R$3.427, valor superior aos R$2.040 recebidos pelas pessoas de cor parda e aos R$1.815 relativos às pretas. Há uma diferença salarial média de R$1.612 entre pessoas brancas e pessoas pretas no estado.

Rendimento real do trabalho principal das pessoas ocupadas

Diagrama Boxplot: rendimento real do trabalho principal das pessoas ocupadas


O diagrama boxplot é constituído pelas linhas referentes aos 25% das pessoas ocupadas, da mediana (linha no interior da caixa) e dos 75% acima da mediana. Os pontos na parte superior do gráfico representam os valores discrepantes (outliers). O gráfico é utilizado para comparar concentração e dispersão de dados. Observa-se que o rendimento mediano das pessoas pretas e pardas encontra-se bem abaixo da mediana das pessoas brancas. E, da mesma forma, há uma concentração de pessoas pretas e pardas ganhando rendimentos do trabalho principal bastante inferiores às pessoas brancas. O rendimento mediano dos brancos é cerca de R$2.000, enquanto os pretos apresentam rendimento de R$1.300 e os pardos de R$1.409. No diagrama observa-se, ainda, que 75% dos pretos e também dos pardos recebem rendimentos até R$ 2.000. No caso dos brancos, 75% recebem rendimentos até R$3.500.

Ocupações mais frequentes

Considerando os dados por ocupações mais frequentes, há um maior percentual de trabalhadores de cor preta nos serviços domésticos em geral, profissão de pedreiros e serviços de limpeza em edifícios. Em todas as ocupações o rendimento médio de pretos e pardos é menor que o rendimento das pessoas brancas. A maior diferença está entre os comerciantes de lojas. Enquanto os brancos possuem rendimento médio de R$3.477, os negros recebem apenas R$1.900 reais e os pardos R$2.164.

Fonte: "proderj"

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

O branco e o preto em Búzios com o pardo entre eles

Foto do site fecatolica
Um leitor do blog me pediu que lhe fornecesse dados sobre o desemprego, taxa de homicídios e faixa salarial  da população negra de Búzios. Disse que pesquisou no blog e não encontrou nada sobre esses temas. Realmente, quando começaram a sair os dados do Censo de 2010 publiquei tudo aqui no blog, menos aqueles que se referiam à questão racial, por sinal abundantes. Evitei divulgá-los por não concordar com a distinção entre pretos de pardos feita pelo IBGE. Por outro lado, a compilação dos dados poderia levar a conclusões incorretas porque nem todos os pardos podem ser considerados negros, apesar de sabermos que muitos negros  se declaram pardos por incorporarem o racismo existente no país. Mas seria um absurdo levarmos em consideração que Búzios só tem 2.866 negros, representando apenas 10,4% da população. Mesmo assim acredito que as   diferenças não sejam consideráveis. Então, para o nosso estudo da realidade buziana, vamos considerar todos os pardos como negros e compararemos suas condições de vida com as dos brancos.

O Censo de 2010 do IBGE divulgou que somos 14.003 (50,8%) moradores de "cor ou raça" branca. Pretos, somos 2.872 (10,4%) e pardos, 10.495 (37,9%), que somados alcançam 13.367 (48,5%). O que falta para completar a população de 27.560 habitantes é formado por poucos moradores da "cor ou raça" amarela e indígena Com estes dados cai mais um mito buziano que apregoava que a maioria da população era de cor preta/parda. Mesmo considerando-se todos os pardos negros os brancos ainda são maioria.  

As desigualdades sociais entre brancos e negros em Búzios, assim como no país, são gritantes em todas as áreas que se pesquise. Considerando "pessoas de 10 anos ou mais de idade sem instrução e/ou fundamental incompleto", temos 5.122 (36,5%) brancos. Entre os negros, encontramos mais da metade nessa situação: 1.539 (53,5%). Entre os pardos, 4.596 (44%). Considerando todos os pretos e pardos sem instrução e/ou fundamental incompleto chegamos ao índice de 46%, bem superior ao índice de 36,5% dos brancos.  

Se na base da piramide educacional a situação é tão desigual, no topo não poderia ser diferente. Mil e quinhentos e cinquenta e oito (1.558 ou 11%) brancos têm o curso superior completo. Pretos, apenas 55 (2%), e pardos, 325 (3%).

Ainda na área educacional, o número de "pessoas de 15 anos ou mais de idade que não sabem ler e escrever" é muito maior entre os pretos/pardos do que entre os brancos. Temos 293 (2,7%) de pessoas brancas com mais de 15 anos analfabetas. A taxa dobra entre os pardos (5,4%) e quadruplica entre as pessoas de cor preta (10,2%). Só para registro: temos 423 pardos e 233 pretos analfabetos com mais de 15 anos de idade. O quadro agrava-se se considerarmos apenas as pessoas com "60 anos ou mais": são 106 (7,8%) brancos, 154 (22,3%) pardos e 82 (35,8%) pretos idosos analfabetos.    

As desigualdades sociais entre pretos/pardos e brancos são enormes também nas questões referentes ao trabalho. O "valor do rendimento nominal médio mensal das pessoas de 10 anos ou mais de idade ocupadas" de cor branca é de R$ 1.600,18, enquanto as de cor parda é de R$ 994,90  e as de cor preta, R$ 954,98. Entre os empregadores, 76% (360) são pessoas de cor branca, 2,3% (11) de cor preta e 21% (99) de cor parda. A disparidade dos rendimentos por discriminação de cor ou raça é revelada pela razão entre as "médias do rendimento mensal total nominal". A razão entre as médias dos trabalhadores de cor branca (R$ 1.578,00) e as de cor preta (R$ 854,00) é de 1,9; entre brancos e pardos (R$ 973,00), de 1,6; e entre pardos e pretos, 1,1. 

Quanto às condições de moradia o IBGE recenseou 493 pessoas em Búzios morando em "aglomerados subnormais": 121 de cor preta, 241 pardas e 130 brancas. Constatou ainda que, mesmo em aglomerados normais, as "características do entorno dos domicílios particulares permanentes" de pessoas de "cor ou raça preta" são inferiores em termos urbanísticos aos domicílios das pessoas de cor branca ou parda quanto à pavimentação da rua, existência de calçadas, de meio-fio/guia, de bueiro/boca de lobo e arborização.