Aldir Blanc, foto sociedadeblog |
Pois não é que roubaram o Vasco de novo?
Oi, Vó Noemia. Sinto uma saudade que me enlouqueceria não fossem as
filhas, netos e até bisneto. O Ceceu, seu genro, apesar de ter sido desenganado
umas 20 vezes pela mistura de cigarros com asma, jogatina e birita, está vivo,
com 91 anos e tomando cervejinha. A senhora fez muito por mim e não pude
agradecer. Eu corria pela Muda até a Rua Uruguai para lhe aplicar, sei lá,
centenas de injeções, sempre com medo de não chegar a tempo. Na única vez em
que lhe internaram, estava me vestindo, sabendo que ia ser a despedida, quando
tia Cicinha telefonou. A senhora havia morrido. Isso me persegue até hoje.
Quero agradecer também porque a senhora era de Cascadura. Se fosse de
Shrophshire, feito a avó do escritor Julian Barnes, meus dentes de cima voariam
ao pronunciar isso. Valeu!
A senhora não trazia desaforo para casa: era a primeira a xingar e
distribuir suas famosas vassouradas (nada a ver com Jânio). Lembro que a
senhora vestia seu melhor “costume”, um conjunto de saia e paletó azuis com
debrum mais claro na gola, calçava sapato alto de furo pro dedão e botava um
chapeuzinho com véu para ir bater em cunhados agressivos. Entrava no táxi do
desesperado seu Joaquim de vassoura em punho.
Foi com a senhora que aprendi a revidar, a não permitir que empurrem os
meus para dentro de guetos políticos, raciais, socioeconômicos, e até
esportivos.
Pois não é que roubaram o Vasco de novo?!? Desta vez, os larárbitros
“não viram” — o soprador de apito, o bandeirola e o palhaço defecando na linha
de fundo — o impedimento gritante. Vó, isso é cegueira coletiva ou formação de
quadrilha? O mais grave é que, antes do jogo, a mulher do firififi cantou a
pedra...
Uns idiotas, essa quadrilha que o Saldanha denunciava como “imprensa
rubro-negra”, também antes da partida, bolaram uma manchetosca, num jornalzinho
desses que a turma leva pra necessidades no banheiro da Central, “Pintou o
vice”. Explique a esses iletrados que vice é o segundo em uma competição. Já
desclassificado em casa, diante de 55 mil trouxas no Maracoxinha (sacada do
jornalista Mauro Cezar Pereira), constitui um tremendo vexame. Desclassificado
é vigésimo, lanterna, por aí. Dois atletas se destacaram na roubalheira:
Guiñazú, que escondeu uma fratura no pé para jogar, e o goleiro deles, autor da
pérola de lama “roubado é mais gostoso”. Se continuar assim, vai pegar uma
jaula ao lado do colega Bruno, sequestrador, assassino hediondo e ocultador de
cadáver. Incentivar o roubo é incitação ao crime. Mas é bom pro nosso futebol
tão avacalhado ressaltar a diferença entre um atleta que se sacrifica pelo
clube, enquanto outro fala feito um cafajestezinho de quinta categoria, né? Ah,
ia esquecendo! Cartolas são quase sempre desprezíveis, mas faz tempo não vejo
um badareca tão panaca feito esse presidente do Leónfla. Nem mala o bicão é, só
mochilinha sem alça.
Pelo andar da carruagem, noite dessas tô aparecendo pra matar a saudade,
no maior astral, garrafa em punho. Faz ensopadinho de agrião. Beijo.
Aldir Blanc