quinta-feira, 29 de março de 2012

Por uma pedagogia da anticorrupção


Afastada da área há 6 anos, a Educação continua sendo uma matéria apaixonante e para a qual continuo dedicando grande parte de minha vida e  devo isso, em boa parte, a Paulo Freire. Talvez não haja filósofo da educação mais popular do que ele e isso não é à toa, pois não há experiência mais pujante do que pensar a educação, através desse filósofo. Um de seus ensinamentos, contido no livro A importância do ato de ler, lançado pela Editora Cortez, em 1994, fala da natureza política do processo educativo, como ponto de partida para compreender as diferenças fundamentais entre uma prática ingênua, uma prática astuta e outra crítica. Para Paulo Freire não existe neutralidade no processo educativo, nem no processo político. Essa reflexão é tão libertadora, quase um dogma, para aqueles que desejam estar no mundo de forma cuidadosa, eu diria. Nesse mesmo livro, Paulo Freire coloca outra questão fundamental para educadores: “a favor de quem e do quê, portanto contra quem e contra o quê, fazemos educação e de a favor de quem e do quê, portanto contra quem e contra o quê, desenvolvemos a atividade política.”

Todas essas questões, que me constituíram não só como educadora, mas como cidadã, vieram-me à mente, quando participei, com a delegação de Búzios, da etapa estadual da Consocial, que foi realizada, não por acaso, no Instituto de Educação, na Tijuca/RJ, instituição centenária dedicada à formação de professores, onde, hoje, funciona, o Instituto de Formação Superior de Professores.

Inúmeros delegados ali se encontravam para discutir e apresentar propostas que serão levadas a Brasília sobre Transparência e controle social da gestão pública. Não foi à toa, também, que uma boa parte das propostas aprovadas está diretamente relacionada à educação. Os motivos são óbvios: nossa educação é a pior do mundo, só ganhando de países onde a pobreza é clássica, como alguns do continente africano. Consequentemente, como nesses países, nossos índices de corrupção são os mais elevados do mundo.

Há um clamor nacional de que é na escola, e desde cedo, que crianças e adolescentes devem aprender a exercer o controle dos gastos públicos; a conhecer nossas leis; a conhecer e respeitar o patrimônio natural de sua cidade; a aprender que o orçamento público é fruto dos impostos dos brasileiros e que roubar dinheiro público é um crime hediondo, já que, por maior que seja o controle social, o cidadão não tem acesso ao cofre, guardado por alguém que foi eleito, para aplicar esses recursos em prol do bem comum. É um clamor nacional que o exercício da cidadania seja disciplina, em todos os segmentos de ensino.

Mas, para isso, é preciso que os gestores da educação e cada educador apliquem-se a si mesmos a pedagogia da anticorrupção; é preciso que gestores da educação e educadores saibam que o diálogo é um princípio da filosofia de Paulo Freire, e que ele começa com a transparência; com a prestação de contas, no âmbito de cada escola, das verbas municipais e transferências de verbas estaduais e federais; o diálogo começa na eleição do diretor, no estímulo à criação e infraestrutura das associações de pais, alunos e professores; no estímulo à criação de grêmios, entre outras possibilidades.

Somente assim, é possível responder às questões legadas por Paulo Freire: “a favor de quem e do quê, portanto contra quem e contra o quê, fazemos educação e de a favor de quem e do quê, portanto contra quem e contra o quê, desenvolvemos a atividade política.”

*Por Cristina Pimentel

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