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Arte do Jornal Folha de São Paulo |
Dois artigos publicados recentemente na imprensa brasileira (ver abaixo Artigo 1 e Artigo 2) mostram cabalmente que não é verdade que a imprensa internacional vem tratando o impeachment da presidente Dilma como golpe. Para chegar a essa conclusão os dois jornalistas distinguiram o que é opinião do jornal (editorial) de opinião de colunistas contratados para manifestar sua opinião ou de alguém que queira manifestar sua opinião em artigos avulsos assinados.
No artigo 1 a jornalista Patrícia Campos Mello "avaliou 11 editoriais dos principais veículos de mídia estrangeira". No artigo 2 de Pedro Dória foram avaliados praticamente os mesmos editorias, levando o autor a concluir que "nenhum compra a ideia de que há um golpe em curso".
1) "Financial
Times"
Em editorial de 15 de abril, afirma que falar em golpe é
um "exagero", já que o processo é conduzido por um
Judiciário independente e está previsto na Constituição.
2) "Le Monde"
Em seu
editorial "Brasil: Isto não é um golpe de Estado", afirma
que é uma "retórica infeliz" usar a palavra golpe.
3) "New York Times"
Em
editorial de 18 de abril, não julga se o impeachment é legítimo ou
não. Diz apenas que o processo não está baseado nas "pedaladas
fiscais" e trata-se de um "referendo" sobre o governo
Dilma. No texto, o diário concorda que muitos dos
legisladores liderando o processo de impeachment são acusados de
crimes muito mais sérios do que os imputados à presidente. Mas diz
que ela também não pode driblar os questionamentos sobre corrupção.
4) "Washington Post"
Em editorial de 18 de
abril, diz que “a presidente brasileira Dilma Rousseff insiste que o impeachment
levantado contra ela é um ‘golpe contra a democracia’.
Certamente não o é.” A partir daí, desanca tanto o governo Dilma
quanto o Congresso Nacional. O único elogio que os editorialistas do
“Post” conseguem fazer ao Brasil é que, no fundo, “este é um
preço alto a pagar pela manutenção da lei — e, até agora, esta
é a única área na qual o Brasil tem ficado mais forte.”
5) "Wall Street
Journal"
Publicou várias reportagens sobre a crise política,
mas não fez nenhum editorial.
6) "The Economist"
Pediu a saída de Dilma em editorial de 26 de março, "Hora de
ir embora", dizendo que a presidente, ao indicar seu antecessor
Lula para um ministério, tinha perdido credibilidade.
Trechos de outro editorial: "Em manifestações diárias, a presidente brasileira
Dilma Rousseff e seus aliados chamam a tentativa de impeachment de
Golpe de Estado. É uma afirmação emotiva que mexe com pessoas além
de seu Partido dos Trabalhadores e mesmo além do Brasil.” (...) “a denúncia de Golpes tem sido parte do
kit de propaganda da esquerda.” (...) ”
o problema é que Dilma perdeu a capacidade de governar, e, em
regimes presidencialistas, quando isso ocorre a crise é sempre
grave".
Mas ressaltava que, sem provas de crimes, o
impeachment seria apenas pretexto para derrubar uma presidente
impopular.
Editorial de 23 de abril, a revista argumenta que a melhor opção
seria a realização de novas eleições.
"Se Rousseff for afastada com base em uma
tecnicalidade, Temer terá dificuldades para ser visto como um
presidente legítimo."
7) "El País"
Em editorial de 18 de abril, afirma que o processo é baseado em uma
"tecnicalidade fiscal", "recorrer a empréstimos de
bancos públicos para equilibrar o orçamento", e que a
presidente Dilma é a única a não ser acusada de enriquecimento
ilícito. Mas não usa a palavra golpe.
8) "The Guardian"
Muita gente tem citado como se fosse opinião do jornal o texto “A razão real
pela qual os inimigos de Dilma Rousseff querem seu impeachment”, assinado por David Miranda. Na verdade, não é a opinião do
jornal. É a opinião de um cidadão brasileiro.
O “Guardian” manifestou sua opinião no editorial “Uma Tragédia é um Escândalo”, no qual aponta os que considera responsáveis pela crise brasileira atual: “Transformações da economia global, a personalidade
da presidente, o PT ter abraçado um sistema de financiamento
partidário baseado em corrupção, o escândalo que estourou após
as revelações, e uma relação disfuncional entre Executivo e
Legislativo”. Sem poupar em momento algum o Congresso ou Eduardo
Cunha, em nenhum momento o jornal britânico sequer cita o termo
“golpe”.
9) "Miami Herald"
Em editorial recente afirmou: “Os brasileiros não devem
se distrair. O crime que trouxe o país abaixo é roubo por parte de
quem ocupa cargos públicos. Que sigam atrás dos bandidos e deixem
para os eleitores o destino de políticos incompetentes.” Para os
editorialistas, a incompetente é Dilma, e bandidos, os políticos
envolvidos em corrupção.
10) "Süddeutsche
Zeitung"
Em artigo de opinião do correspondente no Brasil Boris Herrmann intitulado
"Quase um golpe: o processo contra a presidente é errado", afirma que a palavra golpe não é "necessária
nem adequada", mas que o processo tem "contornos
golpistas". "A tentativa de se livrar de uma presidente
eleita" não é "processo democrático".
11) "Der Spiegel"
Outro correspondente no Brasil, Jens Glüsing, diz: "Partidários
de Lula alertam para um 'golpe não tradicional' contra a democracia.
Não dá para dizer que essa preocupação seja totalmente
descabida", declara. Foi o
único a criticar a Operação Lava-Jato, afirmando que “o sucesso subiu à cabeça (do juiz
Sérgio) Moro”.
12) CNN
Há também uma série de manifestações avulsas
de opinião. Dentre as mais populares dos blogueiros governistas está
a entrevista concedida pelo jornalista americano Glenn Greenwald a
Christiane Amanpour, da CNN. Greenwald, que vive no Brasil e é companheiro de David Miranda, autor de um outro artigo do “Guardian” também muito citado por blogueiros petistas e governistas. À CNN,
disse que “plutocratas veem agora uma chance de se livrar do PT por
meios antidemocráticos.” Cita, como contexto, o extenso
envolvimento de inúmeros deputados, a começar pelo presidente da
Câmara, com escândalos de corrupção. Mas, mesmo quando
questionado diretamente por Amanpour, evitou o termo “golpe”.