Sede da Odebrecht SP, foto O globo |
A pedido do PT, Odebrecht pagou R$ 25 milhões pela montagem da coligação de partidos que favoreceu Dilma com o maior tempo de propaganda eleitoral na televisão.
Atravessou
a portaria da empresa em São Paulo, no 11 de junho de 2014,
quarta-feira animada pela abertura da Copa, dali a 48 horas, no
Estádio de Itaquera — monumento de R$ 1,2 bilhão que o
empreiteiro Emílio Odebrecht define como “presente” ao
ex-presidente Lula.
Edson
Antônio Edinho da Silva — como assina — foi recebido pelo
herdeiro da companhia, Marcelo, e um dos diretores, Alexandrino
Alencar. O tesoureiro da campanha de Dilma Rousseff coletava dinheiro
para a continuidade do PT no poder. Odebrecht pagava para ter acesso
a negócios e ao crédito público.
Marcelo
já recebera nomes e valores de Guido Mantega, ministro da Fazenda.
Anotara-os num rascunho (“Notas p/GM”), abaixo da lista de
pendências de R$ 11,7 bilhões do governo que levou para cobrar do
ministro, dias antes. “Necessidade de fôlego financeiro (inclusive
Arena SP e Olimpíadas)”, escrevera no alto. Era uma lista de
queixas que terminava com duas frases manuscritas, entremeadas por um
palavrão: “Só nos fudeu. Nada dá positivo.”
Depois
da reunião, o ministro insistiu, por telefone: “Estava indo para
casa, passando pela Avenida Morumbi, e recebi uma ligação do Guido
falando ‘Marcelo, você já fez aqueles…?’. Eu falei: ‘não
dá ainda, você acabou de me pedir’” — contou aos
procuradores.
O
tesoureiro de Dilma ali confirmava a compra de partidos. Na véspera,
o PMDB decidira compor a chapa, em troca da vice para Michel Temer.
Representava um aumento significativo (36,3%) no tempo de propaganda
Dilma na televisão.
O
PT queria mais. Mantega pediu R$ 57 milhões para os “partidos da
base”. Marcelo negociou para R$ 25 milhões. O tesoureiro “pediu
diretamente a Marcelo que pagássemos para que os líderes dos
partidos PROS, PRB, PCdoB, PDT e PP formassem a chapa ‘Com a Força
do Povo’, de Dilma/Temer” — relatou Alexandrino Alencar.
Era
uma decisão do comitê eleitoral do PT, acrescentou: “Todos do
comitê, formado por João Santana, Rui Falcão, Gilles Azevedo, pelo
então ministro Aloizio Mercadante e Dilma, além de Edinho Silva,
sabiam que a coligação “Com a Força do Povo” ocorria em razão
da propina paga pela companhia”.
Edinho
da Silva listou os pagamentos, deixando o PP de fora: no PCdoB, R$ 7
milhões a Fábio Torkaski, ex-assessor de Mantega; no PRB, R$ 7
milhões ao pastor Marcos Pereira, hoje ministro da Indústria; no
Pros, R$ 7 milhões a Eurípedes Júnior e Salvador Zimbaldi; e, no
PDT, R$ 4 milhões a Carlos Lupi, ex-ministro do Trabalho de Lula e
Dilma.
Os
R$ 25 milhões compravam um adicional de 30% no tempo de televisão.
Dilma ficava com um total de 11 minutos e 24 segundos, mais que o
dobro do adversário do PSDB.
Os
dirigentes do PCdoB, PDT, Pros e PRB venderam por R$ 125 mil, na
média, cada segundo do tempo de TV dos seus partidos. Lucraram com
apropriação indébita de um bem público, o horário eleitoral,
gratuito para os partidos, mas custeado pelo povo, via compensações
tributárias às emissoras.
Para
a procuradoria, dirigentes partidários são agentes públicos. Por
isso, investiga os envolvidos por crime de peculato. O dicionário
explica: “Desvio de verba, no furto, na apropriação de bens e de
dinheiro; normalmente, realizado por um funcionário público,
valendo-se da confiança pública e, sobretudo, utilizando aquilo que
furta em benefício próprio”.
Fonte:
"oglobo"