Joesley Batista da JBS, foto FSP |
Clóvis
Rossi, na Folha de SP
"Em
meio ao tsunami de acusações a políticos de todas as cores,
corre-se o risco de ficar escondido num cantinho o grande criminoso,
que é o capitalismo tal qual praticado no Brasil (haverá quem diga
que é o capitalismo “tout court”, mas aí entrar-se-ia em outra
discussão).
Vou
dizer uma obviedade, mas até obviedades se tornam necessárias
quando se assiste, no horário nobre da TV, o deboche que foram os
depoimentos da turma da JBS: para haver corrompidos, é indispensável
que haja corruptores.
Simples
assim.
Pior:
são corruptores confessos, pelo menos nos casos da Odebrecht, da OAS
e, agora, da JBS. A Odebrecht emitiu nota oficial, na qual admite ter
adotado “práticas impróprias”.
É
uma confissão agravada pela desfaçatez. Práticas impróprias é
dizer muito pouco para a escala de corrupção praticado.
A
JBS também adotou a mesma técnica de confissão, mas com uma
desfaçatez ainda maior: insinuou que fez o que fez porque foi
obrigada pela maneira usual de se relacionar com os poderes públicos
no Brasil.
Corruptos,
corruptores e cínicos: até parece que os que receberam recursos da
empresa procuraram seus executivos com uma metralhadora na mão,
prontos a dispará-la se não se recebessem a dinheirama que pediam.
Uma
brilhante análise desse capitalismo mafioso está no artigo de Bruno
Carazza para a Folha deste sábado (20). É imperdível de A a Z, mas
vale ressaltar um trecho que generaliza corretamente:
“De
acordo com as regras de funcionamento do nosso capitalismo de
compadrio, o sucesso de boa parte de nossas grandes empresas foi
construído mediante corrupção, sonegação de impostos e lavagem
de dinheiro. No melhor estilo ‘rent seeking’, nossos empresários
investem em “relações institucionais” em vez de bens de
capital, tecnologia e produtividade da mão-de-obra”.
Eu
só trocaria “capitalismo de compadrio” por “capitalismo
mafioso”. Os envolvidos, de um lado e outro do balcão, não são
apenas compadres, são uma organização criminosa.
Carazza
também deixa claro que os corruptores, pelo menos no caso da JBS,
escapam com punições pecuniárias absurdamente leves. Ou, posto de
outra forma, fica claro que o crime compensa para os grandes
criminosos, embora possa, quando descoberto (tardiamente), pôr na
cadeia alguns (poucos) corrompidos.
Não
se trata apenas de um problema ético e moral, o que seria por si só
bastante grave. É também uma questão de construção de um país.
Carazza cita o livro “Por que as Nações Fracassam?”, de Daron
Acemoglu e James Robinson, para afirmar: “A principal conclusão do
livro é que sociedades que permitem uma relação umbilical entre
sua elite econômica e o grupo que ocupa o poder tendem a produzir
políticas públicas concentradoras de renda e antidemocráticas”.
É
o Brasil desde sempre".
Fonte: "fabiocampana"