quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Búzios na história: anos 1950 (6)

Anos 1950: Depois que dois pescadores "avistaram" um submarino na praia de João Fernandes do qual teriam saído terroristas comunistas que, na verdade, não passavam de contrabandistas, a paranoia tomou conta das mentes dos moradores do pequeno povoado de Armação dos Búzios, fazendo com que a construção de uma casa na praia da Azeda se tornasse muito suspeita.


A simples construção de uma casa de veraneio na praia da Azeda levantaram suspeitas "que o povo não consegue refrear nos seus comentários". Motivos da suspeita: 1) três depósitos enormes no fundo do quintal para gasolina, óleo e querosene; 2) motores de popa e lancha na garage; 3) contratação de um "velho armador francês" para construção de um barco de maior calado; 4) o muro que o dono da propriedade quer construir em volta da casa; 5) o proprietário da mansão da Azeda estar comprando as casas dos pescadores localizadas nas  proximidades.


O repórter do jornal A Noite esteve na casa suspeita verificando as instalações internas e constatou que, apesar dela se parecer mais com um clube do que uma residência, era apenas uma casa de veraneio. Não quis declinar o nome do proprietário, um "conhecido homem de negócios", para não criar constrangimento devido à "implicância" do povo local com a casa. O repórter ouvira de um morador, assim que chegou em Búzios, que ali tinha "gato na tuba".

Apesar de reconhecer que a "construção de uma casa tão cara (custo entre 2  e 3 milhões de cruzeiros), num local tão êrmo, tão distante, tão deserto" por si só causa estranheza, defende o proprietário já que "cada um faz do seu dinheiro o que quiser". A implicância dos moradores com o milionário seria, segundo o repórter resultado de uma luta inconsciente da população local contra "a civilização que chega tomando conta de tudo". E acrescenta: um outro sentimento bem mais simples teria tomado conta dos corações dos moradores do povoado, a inveja. O bom gosto da construção teria deixado água na boca de muita gente. A casa da Azeda seria uma "casa de sonho". Daí a inveja.  

Na mesma ocasião uma outra casa também levantou suspeita. Muito menor do que a casa da Azeda estava sendo construída na praia da Tartaruga por cinco irmão paulistas. Os boatos davam conta de que eles estavam comprando vários terrenos ao redor da casa para cercar a praia.   





Jornal A Noite, 13/01/1954

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