Agradeço o convite do Luiz do PT para submeter textos para publicação, tendo eu sugerido, para iniciar, um texto com uma explicação sobre o resultado da eleição para presidente da República. É uma das muitas que o leitor irá ouvir, ler. Tem ela, porém, a ver com um componente estrutural que define de uma maneira geral o nível de desenvolvimento em duas grandes regiões em que o Brasil se divide.
Na edição de 01/11 o Luiz do PT fez perguntas interessantes, especulando se fatores como empenho dos prefeitos, força ou fraqueza do PT, crença religiosa e talvez outros não citados, teriam influído na maneira como votaram os eleitores nos municípios da Região dos Lagos e cercanias.
Dos dois mapas anexos o da esquerda resultou de um estudo realizado na década de 1970, reconfirmado nos finais das décadas de 1980 e 1990. São inúmeros os dados técnicos, que não cabe citar, mas se pode resumir o objetivo dos estudos com a seguinte pergunta: “Se igualdade de oportunidade para sucesso é a mesma em todo o território nacional, em qual região essa oportunidade ocorre com maior probabilidade?”.
Probabilidade é uma medida que varia de 0 a 1, ou de 0% a 100% e o leitor poderia especular sobre isso fazendo a seguinte pergunta: “Se pretendo abrir meu próprio negócio, ou ter acesso a bons hospitais, educação para meus filhos, etc. em que região do país eu me localizaria?”. Usando um modelo matemático que combinou um grande número de informações associadas às questões como as mencionadas, o mapa que se obtém e que vem se mantendo o mesmo desde a década de 1970 é o da esquerda. O mapa da direita destaca em vermelho os estados onde Dilma venceu
O que se pode concluir, a grosso modo, é que a maneira como um eleitor votou foi influenciada pela percepção que tem de “igualdade de oportunidade”. O mais interessante é que essa percepção não pode ser numericamente medida e, mais interessante ainda, é subliminar. Ou seja, geralmente as pessoas não se orientam de maneira objetiva ao tomarem decisões. As coisas ocorrem, muitas vezes, como no caso de alguém que não sente sede, mas ao olhar um anúncio mostrando uma garrafa de refrigerante, é movido(a) a entrar em um bar e comprar o refrigerante.
Todos nós, brasileiros, temos a percepção de como “é o Brasil”, captando-a em anúncios, livros, jornais, na TV, ouvindo o rádio, ou visitando lugares. É a partir do acúmulo e processamento dessas informações, geralmente inconsciente, que adquirimos uma imagem daquela percepção. Na escolha em quem votar, quer parecer ser ela associada ao candidato a quem se atribui um maior peso quanto à sua capacidade de contribuir para a conquista de objetivos individuais. Lembremos: os candidatos prometeram exatamente as mesmas coisas: melhores escolas, mais hospitais, mais segurança, etc.
Portanto, de um modo geral, um eleitor talvez tenha votado - e observe o leitor a ressalva “talvez” - na Região dos Lagos muito mais influenciado pela percepção do que o Brasil significa para ele em termos de “igualdade de oportunidade” para alcançar seus objetivos individuais do que pela sua crença religiosa, empenho do prefeito, força ou fraqueza de um partido político.
Quer parecer que a semelhança dos mapas não é mera coincidência. É coisa como a história de que em diz “não acredito em fantasmas, mas talvez existam”.
Ernesto Lindgren
01/11/2010
226