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sexta-feira, 31 de maio de 2013

A praga do pragmatismo político

Nas eleições de 2012 trabalhei com todas as minhas forças para impedir a reeleição do prefeito Mirinho Braga por considerá-la a pior coisa que poderia acontecer com o povo buziano.  Mais quatro anos de um governo que representava uma fração da elite buziana, com todas as concessões feitas para a pequena especulação imobiliária, com certeza a cidade não resistiria. Poderia se perder aquilo que a cidade tem de mais importante- a beleza natural de seu meio ambiente. Com esse objetivo, lutei, diuturnamente, para que as oposições se unissem para derrotar aquele que para mim representava esse nocivo projeto político. E que, como tal, se apresentava  como o inimigo político principal da Cidade. Nessa luta, conheci muitas pessoas e fiz algumas novas amizades com aquelas que compartilhavam comigo muitos desses pontos de vista. A especulação imobiliária, tanta a pequena defendida por Mirinho, quanto a grande, defendida por Otavinho, precisava ser contida, custasse o que custasse, sob pena de acabarmos com a nossa galinha de ovos de ouro- nosso meio ambiente especial e nossa belíssima paisagem.
  
Sabíamos que não bastava apenas conter a construção civil desenfreada. Precisávamos também encontrar alternativas ao modelo de desenvolvimento econômico em vigor, baseado no tripé turismo predatório, royalties e construção civil desenfreada. A criação de alternativas de trabalho e renda para a imensa maioria da população buziana demandava alto capital de investimento. Para isso, se fazia necessário conter qualquer forma de desperdício de recursos públicos com o empreguismo, clientelismo, salários de funcionários fantasmas, contratos superfaturados para financiadores de campanha, aluguéis de casas de amigos fora da realidade de mercado, terceirizações absurdamente onerosas, possíveis ralos de corrupção, etc. 
    
Eu na minha trincheira aqui do blog, e eles nas suas, denunciávamos durante a campanha, corajosamente, tudo aquilo que considerávamos mal feitos do governo anterior. Tolerância zero com eles. 

Hoje, muitos desses amigos ocupam, merecidamente, cargos comissionados no novo governo André. Digo merecidamente porque trabalharam com afinco para a eleição dele e nada mais justo que ocupem cargos de chefia e assessoramento no novo governo. O Prefeito tem que trabalhar com aqueles que contribuíram para sua eleição e com os quais tem afinidade. Nada mais justo e natural.

Depois de decorridos quase seis meses de governo, quando encontro esses amigos pelas ruas  percebo um certo mal estar quando pergunto como estão as coisas. Como justificar para si mesmos a ocorrência no novo governo das mesmas práticas político-administrativas que tanto se criticava nos anteriores?  De cara todos são unânimes em dizer que não concordam  e, principalmente, que nada têm a ver com essas práticas. Como se fosse possível participar de um governo e nada ter a ver com os possíveis mal feitos praticados por ele.  Como se fosse possível participar do governo e fazer parte de uma suposta banda boa. Como se o governo pudesse ser fracionado em duas partes, uma boa e outra ruim.  Como o argumento é pueril, e  consequentemente não consegue  convencer ninguém, só resta pra eles o realismo do pragmatismo político como justificativa.

Pragmatismo que leva muitos  a argumentar que política é assim mesmo, que política não tem jeito, que todos querem é levar vantagem mesmo. Alguns chegam a defender aqueles que roubam mas fazem, os Malufs da Região dos Lagos! Dizem que enquanto não mudarmos o sistema político brasileiro todos os políticos para se elegerem vão ter que estabelecer compromissos pré-eleitorais que terão que saldar depois, etc, etc.  O novo governo não teria nada de corrupto, estaria apenas saldando seus compromissos de campanha e blá, blá, blá, mesmo que para isso tenha que fracionar e dirigir licitações. Todos os governos são assim e o de Búzios não poderia ser diferente. Fazer o quê? 

Com base nessa mesma tese um prefeito do PT justificava que se desviassem recursos públicos para caixa dois do partido, mas de forma alguma permitia que esses recursos fossem usados para enriquecimento pessoal. Pagou com a própria vida por denunciar aqueles que, além de desviar dinheiro público pro partido com o seu consentimento, aproveitavam, sorrateiramente, para desviarem também  recursos pro próprio bolso. O falecido ex-prefeito achava que era possível haver desvios apenas ideológicos de recursos públicos. 

Mas a tese é indefensável por ser incoerente. Como justificá-la apenas para o governo atual, o governo do qual fazem parte? Como justificar as críticas contundentes ao governo anterior durante a campanha eleitoral  se o governo atual faz o mesmo?  Da mesma forma, como justificar as críticas de alguns secretários e do prefeito anterior ao governo atual, se fizeram o mesmo quando estavam no poder? Na verdade, tanto a situação atual quando era oposição e a oposição atual enquanto oposição, protestam contra os mal feitos  apenas  da boca pra fora, apenas para provocar desgaste político no adversário. No fundo, aceitam tacitamente essas práticas político-administrativas delituosas como inerentes à politica brasileira e ... buziana.