Reunião da CPI do Hospital da Mulher de Cabo Frio. Foto: Octacílio Barbosa |
Diretores
de Fiscalização do Conselho Regional de Medicina (Cremerj)
afirmaram que o Hospital da Mulher, em Cabo Frio, representa um risco
de óbito para o bebê quatro vezes maior do que outra maternidade do
mesmo padrão no estado.
Essa estatística foi apresentada nesta terça-feira (21/05) durante
reunião da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), da Assembleia
Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), que investiga a
morte de nascituros e recém-nascidos na unidade, que foi interditada
pelo Cremerj na última quinta-feira (16/05).
“A
maternidade Alexander Fleming, em Marechal Hermes, por exemplo,
realiza muito mais partos - com risco maior - e teve apenas dois
óbitos este ano. Enquanto o Hospital da Mulher, uma maternidade de
baixo risco, tem uma incidência de morte fetal muito maior do que o
esperado. Decidimos interditar eticamente a unidade porque o mínimo
não estava sendo oferecido. Manter uma gestante ou um recém-nascido
naquele espaço significava uma chance
maior de morrer do que de viver”,
afirmou Rafaella Leal, diretora da área de fiscalização do
Cremerj.
Falta
de estrutura
Durante
a vistoria feita na maternidade, que precedeu a interdição, foi
constatada a falta
de médicos plantonistas na UTI neonatal;
de um cardiotocógrafo
(equipamento
que monitora as condições fetais); um desfibrilador,
um cilindro
de oxigênio,
materiais
de sutura, gazes e luvas.
“Ao todo, foram encontradas 19
irregulares
na unidade”, justificou Leal.
Ela
ainda frisou que há
30 anos não era feita uma interdição ética pelo Cremerj no
estado.“Relutamos
em tomar essa medida, mas não tivemos escolha. Fazíamos as
fiscalizações, notificávamos o hospital, mas os
gestores não tomavam nenhuma providência.
Existia a certeza
da impunidade”,
lamentou. Agora, observou ela, a maternidade terá até o final de
maio para regularizar sua situação. “Até lá, a unidade continua
interditada. Eles poderão prorrogar o prazo por mais 30 dias, mas no
final terão que regularizar a situação do hospital”, informou a
diretora.
A presidente
da CPI, deputada Renata Souza (PSol), antecipou que vai ao hospital
junto com os demais integrantes da comissão verificar se as
providências estão sendo tomadas. “A comissão tem muita
preocupação com a paralisação desta unidade. Por isso,
solicitamos um trabalho
de contingenciamento pelo Cremerj e pela Defensoria Pública
para que nenhuma dessas mulheres, que chegam em trabalho de parto,
sejam desassistidas. Queremos com essa nova vistoria assegurar o
atendimento qualificado para a população de Cabo Frio e
redondezas”, afirmou a parlamentar.
Número
ainda maior
Segundo
dados apresentados pela CPI, de janeiro a abril deste ano, 17
recém-nascidos vieram a óbito no Hospital da Mulher.
No entanto, de acordo com o diretor do Cremerj, Luís Guilherme,
também integrante do setor de fiscalização, o número divulgado
pode ser ainda maior. “Já chegou para mim a informação de 30
a 37 mortes.
E, por isso, abrimos este mês uma sindicância para averiguar esse
número. O que notamos é que pela ausência das comissões
de óbito,
de prontuário
e de infecção
hospitalar,
os dados são bem divergentes”, relatou o médico. A criação
dessas comissões na unidade também foi uma exigência do Cremerj
para o retorno dos médicos à maternidade
Estiveram
na reunião também as deputadas Martha Rocha (PDT), Enfermeira
Rejane (PCdoB), Zeidan Lula (PT) e o deputado Sub Tenente Bernardo
(PROS).
Fonte:
"alerj"