"Um dos pontos mais baixos da campanha presidencial foi
protagonizado por Levy Fidelix (PRTB), na madrugada desta segunda (29), durante
o debate dos presidenciáveis organizado pela TV Record.
Questionado por Luciana Genro sobre direitos homoafetivos,
ele soltou um rosário de impropérios que fariam corar até os mais
fundamentalistas dos parlamentares religiosos. Começou afirmando que “dois
iguais não fazem filho'', que “aparelho excretor não reproduz'' e ainda teve
tempo para comparar homossexuais a quem pratica o crime de pedofilia. Ao final,
conclamou: “Vamos ter coragem! Nós somos maioria! Vamos enfrentar essa minoria.
Vamos enfrentá-los''.
Algumas considerações:
1) Levy Fidelix era visto por parte da população como um
personagem caricato e por parte dos jornalistas como um aproveitador à frente
de uma legenda de aluguel. Após esse discurso incitador de violência contra
homossexuais, poderia muito bem entrar na categoria de criminoso.
2) Nas redes sociais, parte dos leitores apoiaram Levy
Fidelix “por ele ter a coragem de dizer o que pensa''. Isso não é coragem, é
idiotice. Se ele pensa aquele pacote de sandices, que guarde para si e não
propague isso em uma rede nacional de TV, concessão pública, sendo visto por
milhões de pessoas, difundindo e promovendo o ódio contra pessoas.
3) Discordo de quem afirma que é melhor que isso seja dito
abertamente para mostrar o que ocorre no subterrâneo da sociedade. Porque isso
não está no subterrâneo. Esse esgoto corre a céu aberto, dia a pós dia, dito e
repetido exaustivamente, justificando atos de violência. Acham que os
indignados com a ceninha feita por Levy no debate são a maioria da população?
Sabem de nada, inocentes! A maioria achou graça no que ele falou ou mesmo
concordou com ele. Revelar o quê, portanto? O espelho no qual a maioria já se
vê diariamente?
4) Fosse uma eleição decente, com candidatos que realmente
estão preocupados com a dignidade das pessoas, todos e todas iriam repudiar veementemente
a fala homofóbica de Levy ao final do debate. Mas é cada um por si em um grande
“vamos usar nosso tempo precioso para tentar angariar alguns votos na fala
final''. Ou, pior: “melhor não falar nada para não perder os votos dos malucos
que concordam com o que ele disse''.
Pessoas como Levy Fidelix deveriam também ser
responsabilizadas por conta de atos bárbaros de homofobia que pipocam aqui e
ali – de ataques com lâmpadas fluorescentes na Avenida Paulista a espancamentos
no interior do Nordeste. Pessoas como ele dizem que não incitam a violência.
Não é a mão delas que segura a faca ou o revólver, mas é a sobreposicão de seus
discursos ao longo do tempo que distorce o mundo e torna o ato de esfaquear,
atirar e atacar banais. Ou, melhor dizendo, “necessários'', quase um pedido do
céu. São pessoas como ele que alimentam lentamente a intolerância, que depois
será consumida pelos malucos que fazem o serviço sujo.
Nessas horas, a gente percebe a falta que faz uma lei contra
a homofobia".
Leonardo Sakamoto
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