Agaciel Mais. Foto: Metrópoles |
Tribunal
livrou o deputado
distrital Agaciel Maia,
ex-diretor geral do Senado, e o ex-senador
Efraim Morais (DEM-PB),
do ressarcimento de R$
14 milhões,
além de multas.
A
procuradora-geral do Ministério Público junto ao Tribunal de Contas
da União (TCU), Cristina Machado, informou que vai recorrer da
decisão da Corte que absolveu
o deputado distrital Agaciel Maia (PR), ex-diretor geral do Senado, e
o ex-senador Efraim Morais (DEM-PB),
em processo que investigou contratos
de informática do Senado de 2005 a 2009.
O
processo estava engavetado
há 5 anos. Na última quarta-feira (12/12), quando o julgamento foi retomado, o placar
estava em 4 a 3 pela
condenação dos dois ex-dirigentes do Senado. Os ministros José Múcio Monteiro (relator), Ana Arraes, Benjamin Zymler e Walton Alencar Rodrigues votaram pela condenação; enquanto Vital do Rêgo, Bruno Dantas e Augusto Nardes, pela improcedência das acusações.
Foi então que dois ministros que haviam se declarado impedidos para julgar o caso, resolveram se desempedir e votar. Aroldo Cedraz e Raimundo Carreiro haviam se declarado impedidos por terem relações pessoais e por terem trabalhado com os acusados no Senado. Aroldo Cedraz havia se declarado impedido, uma vez que era deputado federal pelo Democratas, partido de Efraim Morais, quando tomou posse. Em uma sessão anterior que originou a auditoria, Carreiro também havia se declarado impedido, por ter ocupado o cargo de secretário-geral da Mesa do Senado no mesmo período quando Agaciel era o diretor-geral da Casa.
Tão logo percebeu que a votação prejudicava Agaciel e Efraim, Cedraz resolveu se declarar “desimpedido” e empatar o placar a favor da dupla. O presidente da sessão, Raimundo Carreiro, teve de dar o voto de Minerva e decidiu pela absolvição dos acusados.
Assista ao exato momento em que os ministros decidem votar:
"Senhor
presidente, na mesma sessão eu quero retirar o meu impedimento nessa
casa e votar com o ministro Vital”, afirmou durante a sessão
o ministro
Cedraz.
O
ministro Raimundo Carreiro, presidente do TCU, que durante a
auditoria, também havia se declarado impedido, retirou
o empedimento e
votou pela absolvição dos dois acusados, formando maioria: cinco
a quatro.
“Eu
havia chegado aqui há pouco tempo, me declarei impedido de relatar
esse processo relativo ao Senado. Hoje me declaro desimpedido [...]
voto com o ministro Vital do Rego [...]”, disse Raimundo
Carreiro.
Protesto
Diante
desse caso de desimpedimento, ministros
protestaram e
a procuradora-geral junto
ao TCU disse que vai recorrer da decisão ainda esta semana.
Cristina
Machado chamou o desimpedimento de "inusitado"
e afirmou que isso fere
o devido processo legal.
Veja o vídeo com o questionamento do ministro Benjamin Zymler:
"Essa
figura do desimpedimento honestamente eu
não conheço, nunca
vi isso no poder judiciário e
acho que essa é uma questão de ordem que deveria ser colocada.
[...] não se alteram a
partir de um momento xis da votação elas amizade, inimizade",
disse o ministro Benjamin
Zymler.
"Toda
a minha vida de atuação no poder Judiciário eu
nunca vi um juiz que
se declarou impedido ou suspeito dizer... de iniciar um julgamento
e a partir da
definição do resultado do julgamento mudar
a posição? Eu nunca
vi", disse o
ministro Walton Alencar.
Entenda
o caso
Na
gestão de Agaciel e Efraim, o Senado Federal decidiu interromper o
contrato de serviços de informática com a empresa Spot
Representações, para abrir nova concorrência. Foi escolhida,
então, a Aval. Segundo auditoria do TCU, a nova vencedora
cobrava R$ 1 milhão por mês, contra os R$ 334,4 mil praticados
pela antecessora – portanto, com preços de referência bem mais
altos que os antigos.
O processo
ficou parado por pelo menos cinco anos nas gavetas do TCU, até
a Procuradoria-Geral de Justiça (PGJ) acionar o tribunal pela
letargia da tramitação. Pelos cálculos do órgão de controle, o
prejuízo aos cofres públicos ultrapassou a casa dos R$ 14 milhões.
Pela
irregularidade apontada na auditoria, o relator do processo sugeriu a
aplicação de multa prevista de R$ 100 mil para Agaciel e de R$ 150
mil a Efraim e à Aval Empresa de Serviços Especializados
“Diante
da evidente gravidade das infrações cometidas no caso concreto,
entendo que o TCU deve inabilitar os aludidos responsáveis para o
exercício de cargo em comissão e de função de confiança no
âmbito da administração federal pelo período de 8
anos”, concluiu o ministro José Múcio. Ele disse que as
contas deveriam ser consideradas irregulares,
“condenando-os solidariamente ao pagamento dos débitos apurados”
Em
sua defesa, Aroldo Cedraz disse que essa avaliação dele não
poderia ser questionada. Por sua vez, o presidente decidiu
encerrar a sessão e a discussão.
A representante
do Ministério Público junto ao TCU, procuradora Cristina
Machado, disse ao Metrópoles que
ingressará com um recurso para revisão do julgamento.
“Até
o momento em que estava 4 a 3, tudo corria de forma correta,
dentro do que prevê a lei. O problema surgiu justamente após a
declaração do voto de um ministro impedido. Vamos procurar o
instrumento devido para que seja anulada essa segunda parte da
sessão”,
garantiu.
O
presidente da Federação das Entidades dos Servidores dos Tribunais
de Contas do Brasil (Fenastc), Amauri Perusso, também chamou de
“inusitada” a postura dos ministros.
"É
uma conduta não apenas inapropriada, numa dinâmica de proteger quem
está sendo julgado, mas é um produto do formato de como é feita a
escolha dos atuais ocupantes do TCU, que reflete em situações
assim. Temos denunciado constantemente esse conluios políticos para
indicação de ministros profundamente associados a quem tem
interesse nesses julgamentos"
Segundo
Perusso, o resultado do julgamento gera “constrangimento”
para toda a sociedade. “Isso só demonstra que há ministros que
se preocupam com quem está sendo julgado, e não com o que está
sendo avaliado. Sem dúvida, merece um repúdio nacional, porque
compromete uma instituição que deveria ser séria.”
O
que dizem os citados
O deputado distrital Agaciel Maia afirmou, por meio da assessoria de imprensa, que não houve ilegalidade na contratação da empresa. “O processo foi analisado e julgado pelo órgão competente. Não vou comentar uma decisão do colegiado. O processo foi instruído por mais de uma dezena de servidores de carreira do Senado. Não houve irregularidade”, disse.
O deputado distrital Agaciel Maia afirmou, por meio da assessoria de imprensa, que não houve ilegalidade na contratação da empresa. “O processo foi analisado e julgado pelo órgão competente. Não vou comentar uma decisão do colegiado. O processo foi instruído por mais de uma dezena de servidores de carreira do Senado. Não houve irregularidade”, disse.
O
ex-senador Efraim Morais também foi procurado, mas não foi
localizado pelo Metrópoles.
Já a assessoria de imprensa do Tribunal de Contas da União foi
acionada para se posicionar oficialmente sobre o episódio, mas não
havia se manifestado até a última atualização desta reportagem.
Fonte: "metropoles"
Fonte: "g1"
Nota de
esclarecimento do Presidente do TCU Raimundo Carreiro
Com relação
à matéria publicada no jornal Folha de S.Paulo, edição de
domingo, 16 de dezembro, sob o título “Após se declararem
impedidos, ministros do TCU salvam políticos” e tema da coluna de
Leandro Colon desta segunda-feira, 17, o ministro Raimundo Carreiro
esclarece que nunca se declarou impedido no processo TC
031.240/2010-0, objeto de julgamento da sessão do dia 12/12/2018.
Sua declaração de suspeição (art.135 do CPC vigente à época)
ocorreu em 2010 no TC 014.531/2009-0, auditoria que deu origem ao
processo julgado na semana passada.
Conforme
Regimento Interno do TCU, cabe ao presidente do Tribunal expressar
seu voto de desempate, se for o caso, após os demais ministros da
Casa declararem seus votos.
Fonte: /portal."tcu"