Marielle. Foto: revista Veja |
Segundo
o Portal "Uol",
gravação revela novos suspeitos de matar Marielle e aponta Brazão
mentor
O
miliciano Jorge Alberto Moreth afirmou, em conversa telefônica com o
vereador Marcello Sicilliano (PHS), que o
político Domingos Brazão é o mandante e pagou R$ 500 mil
pelo atentado que resultou nas mortes
da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes.
O
registro do diálogo faz parte de denúncia obtida pelo UOL,
assinada pela ex-procuradora-geral da República, Raquel Dodge,
enquanto ainda estava à frente da Procuradoria-Geral da República
(PGR).
Conhecido
como Beto Bomba, Moreth é um dos chefes da milícia
que atua em Rio das Pedras, na zona oeste do Rio.
Telefonema
em fevereiro
Sicilliano
e Moreth se falaram no último dia 8 de fevereiro, uma sexta-feira,
quase um ano após a morte de Marielle.
A
gravação foi encontrada no celular de Sicilliano por agentes da
Polícia Federal (PF), que apreenderam o aparelho do vereador. Em
depoimento, Sicilliano afirmou que não sabia que a conversa tinha
sido gravada pelo celular.
Moreth,
o Beto bomba, era procurado pela Justiça desde 23 de janeiro, pois
havia contra ele um mandado de prisão determinado no âmbito da
Operação Intocáveis, cujo objetivo foi o de desmontar a milícia
de Rio das Pedras e o Escritório do Crime.
Moreth
se entregou à Polícia Civil do Rio, em maio, e está preso desde
então. Em 2008, ele foi indiciado pela CPI das Milícias, presidida
pelo então deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL), de quem Marielle
foi assessora.
A
conversa
Logo
no começo do diálogo, Sicilliano pergunta ao miliciano quem era o
mandante das mortes de Marielle e Anderson. Beto Bomba responde:
Domingos Brazão, adversário
eleitoral do vereador.
O
miliciano afirma ainda que a morte foi executada por integrantes do
Escritório do Crime, sem o consentimento do homem apontado como
principal líder do grupo: o ex-PM Adriano Magalhães da
Nóbrega. Conhecido
como "Capitão Adriano", ele está foragido desde janeiro.
"Só
que o Sr. Brazão veio aqui fazer um pedido para um dos nossos aqui,
que fez contato com o pessoal do Escritório do Crime, fora do
Adriano, sem consentimento do Adriano. Os moleques foram lá,
montaram uma cabrazinha, fizeram o trabalho de casa, tudo bonitinho,
ba-ba-ba, escoltaram, esperaram, papa-pa, pa-pa-pa pum. Foram lá e
tacaram fogo nela [Marielle]",
afirmou
Moreth.
O
diálogo continua com o miliciano a dizer quem seriam os assassinos:
Moreth: Mas
você quer saber os nomes dos três moleques?
Sicilliano: Quero.
Moreth: Vou
te falar aqui pra gente aqui hein, chefe, morre aqui hein?
Sicilliano: Claro.
Moreth: Mad,
Macaquinho, que está foragido, e Leléo. E tinha uma guarita do... e
tinha uma guarita do... tinham uma guarita de um oficial dando
suporte para eles, se eles tomassem um bote no meio do caminho, que é
o Ronald, que ia soltar, salvar os moleques, mas isso é a pedido do
malandragem, do Sr Brazão, tudo isso saiu do Sr Brazão.
Os
três criminosos citados — Mad, Macaquinho e Leléo — são
matadores de aluguel do Escritório do Crime, indicam investigações
da Polícia Civil do Rio. Há um ano, Leléo e Macaquinho foram
denunciados pelo MP-RJ por chefiarem uma milícia no Morro do Fubá,
na zona norte da capital fluminense.
Mad
já teve seu nome relacionado ao Caso Marielle. Ele é suspeito de
integrar o grupo de quatro homens que tentou roubar as armas de uma
casa de Ronnie Lessa, um dia depois de o PM da reserva ter sido preso
sob acusação de matar a vereadora e seu motorista, como informou o
jornal O Globo.
O
preço do crime: R$ 500 mil
Moreth
afirmou a Sicilliano que Brazão teria pago R$ 500 mil pela morte de
Marielle e que a intermediação entre o mandante e os assassinos foi
feita por outro integrante da milícia de Rio das Pedras: o ex-PM
Marcus Vinicius Reis dos Santos, conhecido como Fininho.
Sicilliano: Mas
esse tal de "Fininho" que foi o que fez a ponte com o
Brazão?
Moreth: Sim.
Tu não conhece o "Fininho" não cara, que trabalha pro
Brazão aqui no Rio das Pedras não? (...) Ele fez esse contato, o
bagulhinho foi quinhentos conto, irmão, pra matar aquela merda,
quinhentos cruzeiros. Cada um levou uma pontinha, o carro saiu
realmente lá de cima do Floresta [um clube na zona oeste do Rio],
eles foram lá, tiraram foto, câmera, ba-ba-ba, só que o carro era
um doublé e o carro já acabou, a arma já acabou. Um dos moleques
já está foragido por outras coisas, eles têm pica pra caralho. De
todos esses caras que morreram eles têm pica. Quem empurrou foi os
três moleques a mando de Sr Brazão, simples.
Moreth
afirmou que o trio teve o apoio do major Ronald Paulo, um dos chefes
do Escritório do Crime. Ele estaria em outro carro dando apoio aos
supostos assassinos. A suspeita de que havia um segundo carro dos
assassinos na cena do crime já tinha sido aventada e depois
descartada pela Polícia Civil do Rio.
Quando
foi preso em janeiro, Ronald Paulo foi questionado sobre o que sabia
a respeito do assassinato da vereadora, por uma promotora do MP-RJ.
Ele ficou em silêncio. Em depoimento à PF, o miliciano Orlando
Curicica afirmou que o chefe
do Escritório do Crime tramou o atentado.
Sicilliano
e Beto Bomba especularam ainda sobre o motivo para Brazão matar
Marielle.
Moreth: (
... ) Agora o que eu tô falando pro senhor? Qual foi a motivação
eu não sei, o porquê que foi eu não sei, mas eu sei que o papo que
rola, todo mundo, pensei que tu já sabia disso, pô.
Sicilliano: Não,
já sabia, essa informação eu já sabia, mas o problema é que a
gente tá tentando...
Moreth: Então
eu te confirmo, eu te confirmo que é essa parada, foi essa parada...
Agora, a motivação do Brazão, se foi por motivo torpe, ou por
ganância, ou por raiva da mulher, por qualquer coisa ... porque eles
não acharam que ia dar essa repercussão toda, chefe!