Feira Periurbana da Ferradura |
"Os tempos são complexos e diante de tal complexidade, surge o medo. São tantos os medos – mas talvez o maior seja aquele resultante do totalitarismo, especialmente, de regimes os quais - mesmo inseridos no estado democrático e tendo o voto como o caminho legítimo para escolha de governantes, que a máquina administrativa e os cofres públicos não sejam utilizados em prol de um projeto eterno, que é a felicidade e a formação do ser humano, suprimindo direitos básicos, como o direito a participar da emancipação da cidade, em prol da justiça social, em todas as áreas onde ela se manifesta e que constituem o urbanismo.
Mas
é preciso enfrentar o medo e contra ele só nos resta um caminho: a
união.
Nunca foi tão importante fundar espaços de encontro, a fim
de que nossos sonhos sejam partilhados, seja com o amigo, com o
vizinho, com um desconhecido. E que essa energia seja debatida,
aprovada, desaprovada, e venha a nos redimir das pequenezas do
cotidiano que transformam o outro no estragado. Estamos todos no
mesmo barco. Somente o encontro nos impedirá do ritual de submissão,
sem força e voz e com os direitos flexibilizados e relativizados
pelas necessidades dos mercados.*
É
diante de tal conjuntura que as “feirinhas” instaladas na Praça
da Ferradura vêm bombando! Às quintas-feiras, à noite, os
moradores de Búzios passaram a ter um lugar para realizar algo que
lhes é muito caro: o encontro. Aos sábados, a cidade conta com a
Feira Periurbana sendo as duas iniciativas modelos de economia
solidária. Economia essa que tem por requisitos a inserção
comunitária, a partilha de objetivos e o compromisso social,
participação, socialização, autogestão e democracia, com a
finalidade de que o desenvolvimento humano seja integral e
eco‐sustentável.*
Os
que enxergam a feirinha de quinta como uma ameaça aos seus lucros
devem questionar em que momento os nossos tradicionais pontos de
encontro e de felicidade esvaziaram-se e passaram a nos dar mais medo
do que prazer. Pode ser que tudo tenha começado quando não cuidaram
de nossos cenários históricos, deixando-os à mercê de uma ótica
mercadológica sem qualquer sintonia com nossos sonhos e que contou
com a parceria de governantes, em detrimento do interesse público. A
destruição dos cenários, a ocupação de calçadas para atender a
comerciantes, a música estridente, a algazarra, o desrespeito ao
sossego alheio, o tráfico, o esgoto, a proliferação de comércios
que subtraem nossa identidade, entre outros trouxeram mal estar.
Búzios
não só cresceu, mas sofreu e vem sofrendo. Não se está em busca
do tempo perdido. Mas diante de uma única certeza: a cidade, tanto
quanto planejada, precisa ser executada para os seus moradores e para
lhes trazer felicidade. É deste ponto de vista que as duas feiras
instaladas na Praça da Ferradura cumprem esse destino".
Cristina Pimentel
*SILVA,
Márcia Nazaré. A economia solidária e as novas possibilidades do
mundo do trabalho. In:
Âmbito Jurídico, Rio Grande, XIV, nº 86, mar 2011. Disponível em:
http://www.ambito-juridico.com.br.
Acesso em maio/2017