Como leitor assíduo do jornal, que acho a cara de Búzios, não poderia deixar de me manifestar sobre a carta que o Sr. Clemente Magalhães lhe enviou na última edição. Conheço o referido Sr. apenas por ser figura pública na cidade, mas nunca tive nenhum contato pessoal com ele. É importante frisar isto para ficar claro que nada tenho a dizer em relação à sua vida pessoal.
O que me interessa, como militante político na cidade, é entender determinados comportamentos de membros da classe empresarial buziana. Isso é importante, porque explica muito da prática política das nossas classes dominantes. Na sua resposta, você- “um irresponsável espírito debochado e sem limites”- chegou ao X da questão: o problema é o medo. A cidade inteira tem medo. Desde o gari ao grande empreendedor. Nossa cidade é a cidade do rabo preso!
Muitos comerciantes reclamam dos ambulantes mas estão tão ilegais quanto eles. Recordo-me de uma operação anti-pirataria nas lojas de Búzios há muito tempo atrás. O que foi achado de produtos falsificados não estava no gibi. Quando tem fiscalização do Ministério do Trabalho na cidade é um Deus nos acuda. Basta dar uma chegadinha lá no Justiça do Trabalho de Cabo Frio para verificar que Búzios é campeã em causas trabalhistas, porque a maioria dos patrões de Búzios não assina carteira. E quando eles assinam, colocam o valor do salário a menor para pagar menos encargos sociais. Não pagam também horas extras. Na alta estação, é comum eles reterem trabalhadores até altas horas da madrugada sem pagar um tostão por isso. É muito comum também restaurantes de luxo, de cozinha internacional, não pagarem os 10% de gorjeta dos garçons.
A possibilidade de sofrer alguma punição por estar cometendo alguma infração é o que gera o medo. Submissos não reclamam a não ser quando lhe desvalorizam o imóvel. Nesse caso, procuram o Perú para brecar a obra irregular no seu condomínio. Essa é a única preocupação, mesmo que o condomínio como um todo, tenha uma “quantidade enorme de irregularidades”. Quem diz isso não sou eu. É o secretário Ruy Borba (JPH, 5/09/2010).
O mesmo secretário já disse mais. Disse que o seu amigo, ex- secretário Otavinho, chegou ao ponto de desviar uma avenida (Via Azul) criando uma alça para passar dentro de seu empreendimento particular. Disse também que o mesmo secretário manipulou a lei do esgoto para favorecer um condomínio no Forno (JPH,10/01/2008).
Marcelo, você só cometeu um erro em sua resposta. Foi quando os chamou de empresários. Eles não são empresários. Eles não passam de comerciantes. Eles só se preocupam com os seus interesses particulares. Já empresário mesmo, são poucos. Empresário tem uma visão mais ampla e associativa. Milita em sua associação. Se preocupa com a cidade como um todo. Subscreveria o editorial da semana passada sem o mínimo temor.
Abraços.
Observação: este texto foi publicado como carta no jornal “O Perú Molhado” do dia 115/10/2010.
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